domingo, 10 de janeiro de 2016


Pelo seu direito . Como os ativistas podem sobreviver em ambiente hostil.
Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana), 08.11.2015.
Stanislav Kozlyuk
(Como podem ver pela data, este texto foi publicado logo após das eleições municipais. A tradução ficou meio esquecida entre outros papéis mas, como continua válido, publico-o agora - OK).


Têm chance os ativistas, na defesa da comunidade mesmo quando o governo local pertence, francamente, às forças anti-democráticas?
Por um pouco mais de duas décadas de independência, em algumas regiões da Ukraina formaram-se verdadeiros principados feudais, onde o líder convencional da região, mantem-se no cargo, pelo menos 15 anos, e nos órgãos do governo, já a muito se entrincheiraram seus irmãos, irmãs ,padrinhos, parentes do cônjuge. E ocupam-se estes "grupos familiares", com qualquer coisa, com exceção da defesa dos interesses da comunidade. A qual, de fato, de eleição em eleição vota nas mesmas pessoas, às vezes vende-se pela "hretshka" (Hretshka" é o nome do trigo mourisco. Votar pela "hretshka", significa votar por qualquer presentinho do candidato, frequentemente alguns itens alimentícios, inclusive "hretshka" -OK). Às vezes  - pelos bancos nos pontos de ônibus, e nas promessas banais, vazias. Cidadãos ativos, após anos de luta com tal sistema podem decepcionar-se e desistir, certificando-se que deles nada depende e, simplesmente, não mais interferir na "política suja".
Mas, como mostra a prática, a situação não é tão crítica.

No reino da escuridão.

Uma das principais ferramentas para realização de mudança, apesar de que isto soa estranho, podem tornar-se as eleições locais. Não obstante, uma série de obstáculos. Sim, nas últimas eleições, às nossas forças políticas, e aos ativistas sociais, foi muito difícil entrar nos órgãos do governo sem cooperação de grandes partidos. Um dos motivos, segundo os ativistas, foi uma nova lei, aprovada alguns meses antes da campanha eleitoral. Ela limitou a possibilidade da auto candidatura de membros ativos da comunidade. Além disso, complicou a entrada de pequenos e locais partidos políticos nos conselhos, porque foi aumentado o limiar (de 3% a 5%) e estabelecida uma grande garantia para participação nas eleições. Além de não restringir restrições no uso de publicidade em atividades de campanha. Assim, as organizações políticas locais sem forte recurso financeiro ou mídia, encontraram-se em condições desiguais com os fortes projetos políticos nacionais.

Como observam os ativistas, depois da Revolução da Dignidade não houve um crescimento significativo de novas forças políticas a nível regional. A camada ativa da sociedade não conseguiu criar um movimento supra-partidário que fosse capaz de competir com o sistema antigo. Por exemplo, no próprio Kharkiv, apesar de vizinhar com a Rússia e parte de Donbas ocupado, há uma parte significativa de sociedade consciente, pronta para defender os seus interesses a nível regional. Infelizmente não houve um líder brilhante, que pudesse ser seguido pelos que defenderam o Maidan, e pelos voluntários. Em vez disso, podemos dizer que a maioria dos novos partidos não tem tal compreensão clássica. Antes de tudo estes são projetos políticos que surgem antes das eleições, depois - somem. Normalmente eles não têm uma extensa rede de representações nas regiões, esta ausente a história e a ideologia.

As últimas eleições indicam, que parte de sociedade cada vez mais não se orienta na brilhante publicidade exterior, mas nas idéias e na atividade real.

Além disso, os ativistas acentuam, que na maioria das cidades da Ukraina, mesmo em Kyiv, o nível de próprio desenvolvimento administrativo e inclusão das comunidades na tomada das decisões é muito baixo.
As comunidades, nem sempre estão informadas nem mesmo sobre as decisões de projetos. Para não mencionar a existência, na sociedade, de formas modernas de governo, quando não é o órgão representativo que gerencia, mas os próprios cidadãos envolvem-se no processo de tomada de decisões.

Para isto aproveitam-se os serviços de petições, votação eletrônica, etc. A propósito, observam os ativistas, tais formas de governo há muito já são populares e aplicados na Europa. Ao mesmo tempo na Ukraina não apenas a grande maioria da população local, mas também, por vezes, os cidadãos socialmente ativos não sabem sobre tais ferramentas. E, quanto mais distante das cidades centrais, a situação é pior. Especialmente em povoados e pequenas cidades.

Ativistas em várias regiões da Ukraina, com os quais conseguimos conversar, dizem: nem todas questões resolvem-se nos locais. Por exemplo, no processo da última eleição dos prefeitos (figuras odiosas em Kherson e Kharkiv) influenciavam a CEC (Comissão Eleitoral Central). Segundo desejo e vontade, por exemplo, Gennady Kernes ou Vladimir Saldo poderiam não entrar nas urnas. Os ativistas estão convencidos: se Kyiv continuar a aceitar compromissos ou simplesmente negociar, resolver os "problemas" com dinheiro, arranjos de bastidores, a situação permanecerá inalterada.

Com o sistema ou contra o sistema.

Apesar de perspectivas não muito brilhantes, há motivos para um otimismo cauteloso. Por exemplo, parte de forças políticas que através das eleições vieram aos conselhos, apoiam maior transparência e abertura de órgãos dos governos locais. Entre as medidas propostas - publicação das decisões de projetos, e adoção de decisões dos conselhos locais e autoridades executivas, introdução de serviços de apelos eletrônicos e petições.  Outra questão que em muitos conselhos tais forças políticas podem não ter a maioria necessária, para introduzir novos padrões de qualidade. Mas, com o apoio da comunidade, que insistirá ativamente nisto, a realização de novas iniciativas poderá ser alcançada, mesmo estando em minoria. Por exemplo, uma série de conselhos locais na Ukraina aprovou regulamento que força os vereadores declarar conflitos de interesse, se o projeto de quaisquer decisão proposto por um deputado poderá ser a respeito dele próprio,  ou de sua família, ou negócio próprio. Os ativistas acreditam, que esta exigência será uma das salvaguardas contra a corrupção na região.

Além disso, insistem os ativos membros da comunidade, é indispensável trabalhar com a comunidade local, explicar a importância das novas iniciativas, ganhando assim o apoio do povo. Sim, dizem os ativistas, é um processo longo e complexo, que não dará resultados rápidos. No entanto, as recentes eleições mostram, que parte da sociedade cada vez orienta-se mais, não na publicidade exterior brilhante, mas nas idéias e atividades reais. A maioria das pessoas, com as quais houve comunicação, enfatiza: mudar o sistema e se opor aos não muito honestos políticos pode-se não apenas com o uso de força. Este é passo extremo. Ajudar na resolução de problemas poderia ser Kyiv. Precisamente os partidos nacionais que, pelo menos, declaram apoio aos princípios democráticos. Idealmente, nos pequenos "principados" os grandes atores políticos poderiam resistir aos "potentados" que, na realidade, ocuparam as regiões. Colocando os seus candidatos, estas forças políticas seriam capazes de derrubar os oligarcas de escala regional.

Mas não vale confiar apenas na ajuda externa. Ukraina tem exemplos suficientes, quando as comunidades implementavam à vida suas próprias iniciativas em desafio às autoridades locais ou em cooperação com ela.

Sim, existe uma aldeia na região de Kyiv, Bobritsa, onde os membros da comunidade decidiram participar na gestão da comunidade, sem pertencer ao Conselho da aldeia ou outro órgão administrativo. Eles criaram um grupo de iniciativa e  uma fundação de caridade para arrecadar fundos para projetos. Em seguida desenvolveram uma estratégia de desenvolvimento da aldeia e a submeteram à apreciação do conselho local. Concomitantemente realizaram ativas informações aos habitantes locais e envolvimento deles ao projeto. Os ativistas observam que, deste modo, conseguiram realizar uma série de iniciativas: realizaram festivais na aldeia, quadros de avisos, equiparam ciclovias, etc. Tal formato de trabalho permitia não criar conflito com as autoridades, e envolver os membros da comunidade na gestão e implementação de iniciativas com as autoridades locais. Mas,mesmo na ausência de diálogo com o governo, o trabalho com os membros da comunidade, se ela for ativa, e suas proposições forem interessantes, mais cedo ou mais tarde levará ao aumento de sua popularidade entre as pessoas. E isto criará aos iniciadores dos projetos, no futuro, serem eleitos para os conselhos locais e, já tendo os poderes necessários, para implementar suas iniciativas.

As últimas eleições locais - prova disto. Por exemplo, na aldeia Tiaglova, em Kharkiv, nas eleições para prefeito, venceu a desconhecida do grande público Anna Gerashchenko. Ativistas salientam que a moça veio à completamente sovietizada aldeia, mas conseguiu unir as pessoas, para encontrar apoio às suas iniciativas, e, finalmente vencer as eleições. Em Kherson, o prefeito de uma pequena cidade - Tsjurupinsk, tornou-se o blogger Dmitry Voronov, e em Glukhov, na região de Summy, o primeiro lugar na eleição para a chefia da cidade, recebeu Michel Tereshchenko, derrotando neste cargo o protegido do oligarca regional Andrei Derkach.
(O surgimento dos Conselhos de Aldeia, penso não ser ideia nova. Tenho uma vaga lembrança sobre isto das conversas de meus pais que emigraram ao Brasil em 1934. Esta prática que já existia naqueles tempos entre os ukrainianos, deve ter sido varrida pelo governo comunista russo, que dominou o país por várias dezenas de anos - OK).

Rússia deve sair de Donbas e Criméia. Isto é sua salvação.
Tudo o que enfraquece e mata o agressor é bom para Ukraina.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 09.01.2016

Caricatura política de Oleksii Kustovskyi
A chanceler alemã Angela Merkel prometeu realizar muito em breve uma reunião "Norman Four" e expressou certeza na eficácia de Minsk II. Esta afirmação é paradoxal. Por um lado, os acordos de Minsk II são quase falhos. Eles deveriam conduzir a uma solução completa da situação até 31 de dezembro de 2015. Já nesta data os ocupantes deveriam ter deixado as regiões Donetsk e Luhansk, lá deveriam ser realizadas eleições locais e devolvido o controle a Ukraina, das partes de fronteira do Estado, que agora são controlados pelos russos. Tudo isso não aconteceu.

Por outro lado, as sanções contra Rússia permanecem eficazes e pertinentes. Elas são um complemento do enfraquecimento da economia russa causado pela queda do preço do petróleo e da evidente incompetência da liderança política russa - uma completa gangue de bandidos e incapazes. E seria muito ruim se o conflito no Donbas regularizado, mas as sanções levantadas. Porque sob a ocupação ainda permaneceria Criméia, e o regime de Putin continuaria ameaçando o Estado ukrainiano, porque Rússia não se recusaria de sua mania imperial. Não, nós precisamos que Rússia não tenha forças para agressão, para que os cidadãos desse país estabeleçam uma conotação clara entre o ataque a Ukraina e o colapso de seu estado e seu próprio bem-estar. Deste ponto de vista os Acordos de Minsk são, surpreendentemente efetivos. Tudo o que enfraquece e destrói o agressor, é bom para Ukraina.

Portanto, preocupar-se com a flexibilização das sanções e saída do impasse de Donbas deve a própria Rússia. O entendimento de que é necessário mudar a situação e as chamadas "repúblicas populares" na sua forma atual são um fardo sério para economia russa, que já começa emergir.

Cada dólar que "cai fora" do preço de petróleo reduz a progressiva agressão predatória russa. Tenho certeza de que muito em breve seus líderes agirão com iniciativas para vistas pacíficas: o próprio fato da designação do novo representante russo no Grupo Minsk, do ex -speaker da Duma russa Bóris Gryzlov evidencia sobre muito. E aqui, os ukrainianos não devem afrouxar suas próprias posições. É necessário exigir do ocupante a saída de todos os territórios ukrainianos, esquecer para sempre Donbas, Criméia e Sevastopol. Os russos devem se conscientizar - esta saída não é para nós, mas para eles. Trata-se de seu dinheiro, sua sobrevivência, suas chances para superar a crise e manter a estabilidade no seu próprio país. E se eles não desejam ajudar a si mesmos - nós simplesmente não os ajudaremos.

Vitaly Portnikov - jornalista e comentarista político, colunista da Rádio Liberdade.

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Últimas notícias do front
Ukrainskyi Tyzhden (Tyzhden.ua), 09.01.2016

Durante os disparos sobre a aldeia Zaitsev foi ferido e morreu o capitão da Polícia Nacional Alexander Ilnytskyi que procurava retirar o carro civil debaixo do fogo. Na ocasião foi ferida uma moradora local. O fato aconteceu durante um tiroteio de militantes contra bairros residenciais.
Outro soldado ukrainiano morreu durante o bombardeio de militantes, com o uso de granadas, contra as forças da ATO.

Os militantes continuam disparando contra as forças da ATO. Durante as últimas 24 horas houve 28 provocações. As violações ocorreram em Gorlivka-Svitlodarsk, Mariinka, Opetne, Avdiivka, Troitske, Novgorod, Zaitsev e Luhansk. Inclusive com uso de armas proibidas pelo Minsk-II.

Na Rússia contaram as perdas devido a Associação da Ukraina com a União Européia.
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 22.12.2015.

De acordo com as estimativas do Ministério de Desenvolvimento o país deverá perder, no curto prazo 3,5 bilhões de dólares. (Foi Rússia que cessou o comércio com Ukraina depois do Acordo da Ukraina com a União Européia. Isto até não deve ser muito comparando com os gastos na guerra contra Ukraina, que já passou de um ano e meio, e guerra na Síria. Um dia o dinheiro começara chegar ao fim. E, quanto às perdas humanas que estas guerras causam? Somente no dia de hoje, 10.01.2016, na Síria, com apoio da avião russa, em Maaretal-al-Numan (província de Idlib) foram mortos mais de 40 civis e cerca de 100 feridos. No jornal Ukrainska Pravda o dado é 17 mortos. - OK).

Tradução: O. Kowaltschuk

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