segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Migrante de Donetsk Stanislav Fedorchuk. Constantemente luto com o sentimento de inutilidade.
Ukrainska Pravda Zhyttia, (Verdade Ukrainiana Vida) 03.12.2014
Mariana P'yetsukh

Desde 01.12.2014 Ukraina suspendeu os pagamentos da previdência social nos territórios ocupados de Donbass. Aquele que pretende continuar o recebimento da ajuda estatal deverá deixar o território da "DNR" (República Popular de Donetsk).

No entanto, condições adequadas aos imigrantes, em seus meses de guerra no Donbass, o Estado não criou. Moradores de baixa renda no Donbass têm medo de ir a lugar nenhum, permanecendo sós com riscos mortais, e agora sem fundos. E aqueles que fugiram de suas casas, não tem garantias, que receberão pelo que contribuíram durante anos devido a burocracia de pagamentos.

A grande família do ativista, cidadão de Donetsk, Stanislav Fedorchuk, 33 anos, já por vários meses luta com o sentimento de desesperança e inutilidade.

Embora até o forçado escapamento, a maioria dos anos de vida, esta família dedicou à luta por um Donbass ukrainiano. Apesar do assédio constante do ambiente político de Donetsk, Stanislav, com seu pai, professor de história da Ukraina, conduziu e coordenou inúmeras ações pró-ukrainianas.

Uma das velhas frases favoritas de Stanislav: "Ser um patriota em Lviv é fácil, mas tente em Donetsk".

Apesar da constante sensação de "ovelha negra", mudar-se para algum lugar Stanislav não queria - até 22 de janeiro, quando durante um comício, no centro de Donetsk, ele e seu pai foram brutalmente espancados.

Para escapar das constantes ameaças, com sua esposa e filha recém-nascida, temporariamente escondia-se na Geórgia. Na primavera voltou para Ukraina, devido a um problema diferente - doença grave de sua esposa. Para tratamento pediam ajuda ao mundo todo.

Ainda mais - a família Fedorchuk perdeu sua própria casa. Pois retornar a Donetsk já não podia. Stanislav encontrou seu nome na "lista de queima" dos terroristas, como "maligno banderivets" (banderivets - seguidor de Bandera, pessoa que organizou um movimento para libertar Ukraina do domínio russo anteriormente a Segunda Grande Guerra Mundial e erroneamente esperava ajuda alemã para isto. Foi preso e enviado à Alemanha, pelos alemães, onde foi assassinado por um ukrainiano a mando da Rússia - OK).

No inicio ficou em Kyiv, onde sua esposa foi tratada. No meio do verão mudaram-se para Lviv. A capital da Galícia - quase nativa. Ao longo dos anos foi frequentemente bem vindo visitante. Participava de muitas conferências, mesas-redondas sobre a unidade do leste e oeste.
E foi em Lviv, que no ano passado apresentou o seu próprio livro "Desmontagem da hipocrisia", sobre diversas particularidades de Donbass e desdouro dos estereótipos sobre o país dos mineiros (Donbass - região de muitas minas _OK).

Também há um ano iniciou a pós-graduação no Instituto da Academia Nacional de Ciências da Ukraina, onde continua até agora.

Por alguns meses os Fedorchuk, enquanto procuravam uma casa, moravam com seus amigos. Mas não encontraram moradia. Nos últimos meses, o antigo caloroso e acolhedor Lviv tornou-se estranho e frio. A maioria dos arrendatários de imóveis não quer nem ouvir sobre inquilinos de Donetsk. Em dois meses Stanislav procurou trinta corretores, todos sem resultado.

"Tentando encontrar algo fora da cidade, foram a 25 km , à cidadezinha Biberka. Lá, ele e a esposa espalharam anúncios pessoalmente e postaram anúncio no jornal local. Telefonou apenas uma pessoa. Propôs uma casa inacabada, com cozinha e dois quartos. A nós, infelizmente, não serviu, porque eu trouxe meus idosos pais e a primeira esposa com nossa filha comum", - diz Stanislav.

Atualmente os Fedorchuk vivem além de Lviv, num motel, cedido gratuitamente pelo proprietário aos migrantes. Mas até o final do ano todos devem sair: o estado não compensou ao proprietário, nem as despesas dos custos comunais, então, financeiramente, a ele é difícil manter todos.

Apesar de que os velhos amigos permanecem leais e apoiam os Fedorchuk, pela primeira vez em toda sua vida Stanislav sentiu-se estranho não apenas em Lviv, relutantemente vivendo além de seus limites, mas também na Ukraina.

Na Georgia havia um plano claro de ações... aqui o diabo quebrará a cabeça.

O governo suspendeu os pagamentos, mas deu tempo para deixar o território ocupado, aos que queiram continuar o recebimento dos fundos públicos. O que mais poderia fazer, de seu lado, para um processo indolor deste processo? Afinal, todos entendem, que enviar dinheiro aos territórios ocupados - é realmente a lugar nenhum.

- Para o início precisava criar condições para que as pessoas não tivessem medo de vir para cá. E mais, para que essas pessoas, nas condições de guerra, se tornassem sustentáculo do poder, não seu fardo, como se dissessem, eis aqui sua ajuda mínima e deixem em paz.

Por exemplo, localizar famílias exemplares, disponibilizar-lhes moradia e ajudá-las a encontrar emprego. E mostrar a toda Ukraina - não temam a mudança, aqui terão casa e alimento, mas abandonem os territórios ocupados, não sejam escudo vivo para os terroristas.
Isto é, precisa estabelecer um precedente, quando sair - não significa tornar-se um suplicante com saco nas costas, é apenas uma mudança de residência para redução de riscos.

Não precisa esquecer, que apenas em Donetsk vive 30 mil pessoas com deficiência, que não são capazes de deixar a cidade independentemente. Precisa obrigar o Ministério de Emergência da Ukraina distribuir folhetos indicando contatos para evacuação de inválidos. Para que eles saibam que não morrerão de fome e frio. Tudo é possível, afinal os voluntários, de alguma forma os retiram. 
(Parece que toda ajuda à população caiu "nas costas" somente de voluntários - OK)

E o principal. Sobre que tipo de bloqueio econômico nos falamos, e qual, realmente é forma eficaz de combate ao terrorismo, se do território da Ukraina livremente entram ao território da "DNR" combustível e lubrificantes?
Eu publiquei documentos do assim chamado Ministério Energético da "DNR" onde se tratava da entrega, em setembro, de 24 tanques de quarenta toneladas a Makiivka. Ou seja, estes tanques entraram pelos pontos de controle ukrainianos. E como é a atividade do reabastecimento no território da "DNR"? Isto não é apenas apoio às máquinas de combate aos terroristas, mas também o pagamento de impostos ao governo terrorista.

Mas, será que é real nas condições de guerra, e crise econômica realizar as necessidades de todos, incluindo os migrantes. Os potenciais migrantes tornaram-se reféns da situação, ou aqui, realmente há sérios erros do governo?

Se seguir a experiência da Geórgia, lá foi criado um ministério central com dois departamentos, que se ocupava exclusivamente com migrantes. Na Ukraina, quem responde por eles, o diabo quebrará a cabeça.
Além disso, na Geórgia havia um plano de ação claro, no qual determinaram aproximadamente 40 direções de ajuda para pessoas deslocadas, iniciando com a construção da habitação, criação de emprego, nova qualificação profissional, mini-bolsas para seus negócios, e assim por diante.

Sim, lá houve um considerável apoio internacional - mas ele houve porque lá havia um claro orçamento para programas concretos. E aqui, como aqui - "deem para nós alguns bilhões para os migrantes". 


Agora nem sequer temos um representante político nos territórios ocupados de Donbass, como tem os crimeanos, cujos interesses representa Mustafa Jemilev.

Por alguma razão aqui pensam que eu deveria vir nu e descalço, ficar de joelhos e constantemente agradecer por tudo..

No início da guerra houve um grande apoio por parte dos ukrainianos comuns, mas em certo momento o apoio transformou-se em rejeição pura e simples às pessoas de Donetsk. Quais são as razões em sua opinião?
- Para que os demais ukrainianos não tenham medo dos de Donetsk, é necessário controle no seu deslocamento. Segundo dados consolidados mais recentes, de 460 mil migrantes da Criméia e Donbass apenas 224 mil estão registrados, o restante deslocou-se na Ukraina de forma incontrolável, mas numa guerra isto é inaceitável. Eu tenho a informação, que os terroristas, para suas guarnições, compram livremente gêneros alimentícios no território de nossas províncias.
Portanto o registro e recebimento do status de temporário deve ser obrigatório, incluindo encontro na estação com verificação de documentos. Em resultado os locais não sentirão tanto medo em apoiar os migrantes.
- Mas o motivo da pouca simpatia não é apenas o medo, mas também a experiência negativa com eles. Pessoas de Donetsk frequentemente são chamadas insolentes, preguiçosas, aproveitadoras. Como muitos dizem, eles não querem trabalhar, mas ficam sentados bebendo cachaça, enquanto os locais vão lutar e morrer pela terra deles.
- Um dos motivos - é a guerra de informação nas redes sociais e uma imagem negativa dos migrantes na mídia tradicional. 
Um exemplo banal. Depois de uma história de horror sobre os migrantes, eu contactei com a autora na rede. Apresentei-me e pedi os detalhes. No início ela não respondeu, depois me bloqueou. É claro que esta história foi uma provocação encomendada.
Por que esta onda é apoiada pela mídia convencional? Provavelmente porque há demanda, como em qualquer escândalo. Em Lviv um dos canais da TV popular teimosamente persiste formar a imagem dos migrantes como pessoa desfavorecida, perigosa e propensa a um comportamento anti-social.

Em resposta eu propus aos jornalistas de Lviv uma relação de aproximadamente 40 migrantes, que vivem aqui, com os quais seria interessante comunicar-se, os quais poderiam mostrar o outro lado de Donbass. Mas, por alguma razão não houve reação.


Além da recusa de alugar uma casa, como você ou sua família experimentam as consequências de hostilidade?
Regularmente tenho questões com funcionários, e ouço deles certas estórias sobre elementos anti-sociais, baseadas em sua experiência negativa com certos grupos de migrantes. Mas, é claro, que em cada família há seus problemas. Nas comunidades de Donetsk, como nas comunidades de Halychyna (Galícia) tem famílias que bebem ou comportam-se com arrogância.

A história mais extraordinária, com certeza - é o programa da TV, em que os funcionários do nosso motel ressentiam-se, eles diziam, aqui vivem pessoas ricas, porque eles tem laptop, mas eles ainda querem viver de graça e pedir ajuda ao governo. 
Que você tem duas crianças, dois idosos e todos dependem de você, não é levado em conta. Como também que o laptop - é uma única possibilidade de alimentar a família, porque eu escrevo artigos analíticos para mídia. Mas, por algum motivo aqui pensam que eu deveria vir nu  e descalço, ficar de joelhos e constantemente agradecer por tudo.


Fiquei surpreso ao ver nas cidades galegas pessoas bêbadas.
- Ainda assim, em sua opinião, há uma diferença mental ou diferente visão de mundo entre os de Donetsk e o restante dos ukrainianos, ou, no seu caso entre Donetsk e Galícia? Será que a tese da falta de cultura dos moradores de Donetsk originou-se apenas da mídia, e não a partir da experiência das pessoas, que constantemente recontam histórias diversas?
 Os "Donetski" não é que têm "menos cultura" - eles tem a sua própria idéia sobre cultura de comunicação, descanso, e muitas coisas diferentes. Mas eu direi, que na Galícia eles se encontraram em um ambiente totalmente novo. Eu fiquei surpreso, por exemplo, ao ver nas ruas de muitas cidadezinhas, à noite, pessoas bêbadas. Para mim isto foi uma descoberta desagradável. E isto não era em "Donetsk"
Há uma semelhança interessante entre habitantes de Donetsk e Galícia. Ambos são muito apegados à sua pequena pátria, acreditando, que de alguma forma o lugar da residência caracteriza as pessoas. E uns e outros consideram-se, principalmente, galegos, ou "donetski", possivelmente jactam-se com isso. E uns e outros votam nas eleições não pelos programas políticos, mas pelos partidos e candidatos "seus".

Se falar sobre a diferença, então, primeiramente, é a influência religiosa. Na Galícia as várias denominações cristãs têm um maior impacto na vida diária das pessoas. Segundo, Galícia faz fronteira com Europa, portanto, o estilo de vida europeu aqui adotaram primeiro. Também na Galícia a grande indústria começou morrer primeiro. Considerando o fator do grande território rural temos resultados de altos níveis de auto-emprego. O próprio negócio - é a auto-suficiência e não a espera de esmolas do Estado. É uma outra filosofia de vida.

Em sua opinião, essas diferenças são globais, por isto, elas poderão ser um obstáculo para muitos anos?
- Deve haver um certo trabalho informativo com a população. Não apenas através dos meios de comunicação, mas deve realizar-se um trabalho de integração de pessoas nas comunidades locais. A integração começa apenas quando as pessoas estão mais ou menos protegidas no plano material, não recém-chegados. Por que a sensação que constantemente tentam sufocar - é a sensação de coisas superficiais. Eu não quero me acostumar com o papel de suplicante, eu mesmo costumava ser responsável pela minha família e sua abundância. Mas assistência não há nenhuma.

O exemplo é o meu pai. Ele trabalhou toda sua vida nas instituições de ensino, seus alunos ocupavam altos lugares nas competições regionais e nas olimpíadas nacionais. Para aposentadoria lhe faltam seis meses. Mas ele tem direito a uma pensão já agora pelos anos trabalhados. No entanto, no fundo de pensões em Lviv, negaram. Disseram para voltar daqui a seis meses, como se ele tivesse tempo e oportunidades financeiras esperar por estes seis meses.
Ele, também, tentou arrumar um emprego. No centro de ocupação em Lviv lhe propuseram uma vaga que já estava fechada. Candidatar-se oficialmente a uma "bolsa de trabalho" para receber durante seis meses o salário mínimo legal, também não pode. Apesar de que, ele regularmente pagava a mensalidade do seguro para financiar o desemprego. Para o país ele não é desempregado. Seu contrato de trabalho está na ex-primeira escola de Donetsk Nº 65. Para o país ele é "buscador de trabalho".
Todas as recomendações reduzem-se a papai ir a Donetsk, escrever um pedido de demissão, obter a ordem laboral. Mas o fato de que os parentes dos indicados para fuzilamento, frequentemente matam no primeiro checkpoint, a ninguém importa.
Portanto, nós precisamos pedir para receber o auxílio estatal para pessoas deslocadas, no valor de 400 "hryvnias" por mês ( Um dólar vale cerca de 15 - 16 "hryvnias" - com muita economia talvez dê para 15 dias - OK) para uma pessoa apta ao trabalho. Embora o pai não precisaria recebê-lo, poderia trabalhar ou se aposentar.
No entanto, o governo, segundo meu entendimento, aceitou a decisão de não considerar estas pessoas desempregadas. Desta forma economiza dinheiro, isto é, não o dará do orçamento protegido, mas inventou este pagamento de 400 "hrevnias" para todos, sem discriminação.

Por enquanto há uma possibilidade de servir ao Estado ukrainiano - ignominiosamente ou gloriosamente morrer na frente.

- Você falou sobre o sentimento de "inutilidade". Não procurou possibilidade de emigração?

- Tais pensamentos às vezes me perseguem. Francamente direi, estou um pouco cansado da Pátria. Apesar de todo patriotismo e devoção eu não quero estar na situação de solicitante.
Todos compreendem, que com aquelas 400 "hryvnias" a questão não se decide, como também compreendem que a guerra continua e dinheiro não há. Iniciar um negócio próprio nas condições da economia não formada, também é irreal. Então agora minha tarefa - defender minha tese, e em seguida decidirei algo. Talvez ajude Ukraina do exterior.

- Você tem ressentimentos a Lviv e Ukraina em geral. Ainda assim, você faz muito pela luta da democratização da Ukraina.

- Ressentimentos não há. Há esperanças desperdiçadas. Eu espero que haja um pouco mais de paciência.

E tolerância?

- A palavra tolerância aqui é inadequada. Toleram algo ruím, que ultrapassou os limites. Aqui é outro caso. Se mais uma vez citar o exemplo da Geórgia, onde 6% da população tornou-se forçada emigrar, não houve tais conflitos, que alguém censurasse outrem: Como você pôde deixar sua terra, e não morreu por ela? Tais discussões, em geral, não houve.

- Você muitas vezes é criticado por não lutar por Donetsk, mas você frequenta as aulas, enquanto outros homens lutam na guerra? Como você explica sua não participação nas hostilidades pelo torrão natal?

- No Facebook várias vezes me escreveram e me xingavam, diziam onde devo ir e o que fazer. 
Sim, provavelmente eu tenho mais razão de lutar, que os outros, porque já sou reconhecido como inimigo da "DNR". E sete gerações de meus antepassados estão agora na terra dos territórios ocupados. Eu não fugi da frente - mas eu quero entender, quem vai responder por meus filhos, por meus velhos pais, enquanto eu estiver lá? E, se o país vai alimentá-los, se eu não voltar desta guerra?
Lembro de uma história recente sobre meu amigo e próximo, Yurii, ele também era ativista pró-ukrainiano de Donetsk. Antes de ir para frente, ele dirigiu-se ao vice-prefeito de Kolomeia, com quem tinha amizade, para que este o ajudasse com alojamento temporário de sua irmã, com marido e filhos. O funcionário disse que ajudaria a irmã com as crianças mas o marido que fosse a guerra. Yurii explicou que de sua família ele vai guerrear, e alguém deve ficar e cuidar da mulher e das crianças, O vice-prefeito recusou.
Essa conversa foi no início de agosto. O amigo foi para a frente, e depois de uma semana de treino foi para "caldeira de Ilovaisk". Agora é considerado desaparecido, embora já lhe atribuíram o prêmio  "Pela coragem" de III Grau, postumamente.
Eu lembro da dor que ele sentia quando me contava esta história. Porque apenas queria proteger sua família da guerra...
Interessante, como agora dorme este funcionário, e que direito moral ele tinha para dizer a pessoa o que ela deve fazer, a qual já sacrificava sua vida pela Ukraina e nação ukrainiana?

No momento, aqui há uma oportunidade de servir ao Estado ukrainiano - ingloriosamente ou morrer gloriosamente na frente, sem nenhum remorso por parte dos generais.

Entrevistado por Mariana P'yetsukh especificamente para Verdade Ukrainiana Vida.

Tradução: O. Kowaltschuk

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