terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Anders Aslund: as autoridades ukrainianas preocupam-se com o seu próprio enriquecimento, não com o bem-estar da população.
Verdade Econômica, 02.02.2018
Natália Trach



O economista Anders Aslund disse à Verdade Econômica, a o que pode levar a relutância do governo ukrainiano em criar o Tribunal Anti-corrupção, e para onde se movimentará sem  o FMI.

Anders Aslund é um economista e diplomata sueco-americano, pesquisador sênior do Centro analítico Atlantic Council. Ele especializa-se no estudo de economias em transição e estados corruptos.

Cerca de 30 anos de sua vida, Aslund dedicou ao estudo da Ukraina, da Rússia e dos países  da ex-URSS. Na década de 1990, ele foi conselheiro do governo ukrainiano, depois trabalhou no Báltico e no Quirguistão.

Em 2014 Aslund entrou no Comércio de Peritos junto ao Ministério do Desenvolvimento Econômico e Comércio da Ukraina. Ele está sempre bem familiarizado com os assuntos ukrainianos, opera com os últimos números e projeções quanto ao crescimento da economia, inflação ou a troca da moeda nacional.

De acordo com o economista, o significado desses indicadores, bem como o padrão de vida dos ukrainianos, dependerá do fato, se iniciará o governo ukrainiano combater a corrupção.

Agora, na ordem do dia, temas principais - o FMI e o Tribunal Anticorrupção. Receberá Kyiv financiamento do fundo? O que acontecerá se não receber? Sobre isso e sobre as perspectivas da Ukraina - em uma entrevista com Aslund.

- Como você avalia o desenvolvimento econômico da Ukraina em 2017?

- Em 2017 a principal conquista econômica da Ukraina tornou-se a estabilidade macroeconômica e pequeno deficit no orçamento do estado. Ao mesmo tempo, houve muitas falhas sérias. Em primeiro lugar, devemos mencionar o fracasso da reforma judicial. Mas o maior fiasco do ano - a criação do tribunal anticorrupção.

Todos os anos, o montante de fundos retirados da Ukraina é próximo de 5% do PIB (119 bilhões de UAH - Verdade Econômica). É o dinheiro que é investido na economia do país. O problema-chave na Ukraina é a falta de proteção do direito de propriedade.

O pior é que nada foi feito para corrigir a situação. Isso frustra os investidores estrangeiros, que não têm pressa em investir na Ukraina. 

Assim, hoje, o nível de investimento estrangeiro direto no país é de cerca de 18% do PIB, mas se todas as reformas necessárias fossem realizadas, Ukraina poderia ter investimentos estrangeiros no nível de 25 a 30% do PIB

- Ukraina tem chances de crescimento econômico sem combater a corrupção no mais alto nível?

- Não. Porque vocês têm funcionários de alto nível, que pensam, que podem roubar empresas e ocupar-se com extorsão através de chantagem de grandes empresas. O seu Serviço de Segurança da Ukraina e Promotoria Geral ocupam-se em extorquir dinheiro das empresas através de pretextos falsos. E todos vêem isso. 

 O insuficiente nível de proteção dos direitos de propriedade - principal motivo, pelo qual os estrangeiros não querem possuir propriedades na Ukraina. Não é a corrupção, mas roubo de seus ativos. 

Eu não vejo que tenha sido feito algo para melhorar o clima de investimento. Em comparação com 2017, o ritmo de crescimento econômico será insignificante. Talvez, pode-se esperar, que o crescimento do PIB seja de 3%, mas não mais. Este é um ritmo mísero. 

- Qual o nível máximo de crescimento econômico que Ukraina poderia ter se todas as reformas necessárias fossem implementadas?

- Duas a três vezes maior - de 6 a 8% ao ano. O efeito é enorme: quando a economia cresce 7% ao ano, então, em dez anos, o PIB do país dobra. Ou seja, em dez anos você terá o dobro do dinheiro. Se contarmos em dólares, isto significa, que os salários dos ukrainianos, no equivalente em dólares poderiam dobrar. 

No início de 2018, hryvnia começou desvalorizar-se acentuadamente e apenas no final de janeiro fortaleceu sua posição. Em sua opinião, por que isso aconteceu e o que esperar depois?

A taxa da hryvnia depende da cooperação da Ukraina com o Fundo Monetário Internacional. Obviamente, a Administração Presidencial não está interessada em uma maior cooperação com o FMI.

Eu não esperaria, que antes das eleições presidenciais, que realizar-se-ão em 2019, o FMI ou a União Européia darão empréstimos a Ukraina. Por causa disso, hryvnia permanecerá fraca.

Atualmente, o volume de reservas internacionais da Ukraina é de US$ 18 bilhões de dólares, mas devido ao pequeno volume de importação essas reservas não são suficientes.

As autoridades ukrainianas cuidam o seu próprio enriquecimento, não o bem-estar da população. O futuro da hryvnia depende da confiança às autoridades. Se não houver confiança na liderança do país, é provável que as questões deem errado. É difícil dizer o quão é ruim, mas catástrofe não haverá.

- O quanto catastrófica pode ser a situação com o tribunal anti-corrupção e a reforma judicial?

- Ei li a carta do chefe da missão do FMI Ron van Rodin ao chefe da administração presidencial Igor Ranin. Nela, afirma-se claramente, que o projeto de lei proposto pelo presidente do Tribunal Anti-Corrupção não atende aos critérios do FMI e às obrigações da Ukraina.

Primeiro, o processo de escolha de juízes, segundo este projeto de lei, não será independente e desprovido de corrupção. Em seguida - pior: os juízes do tal tribunal anticorrupção serão eleitos pelos funcionários corruptos. 
Segundo, os critérios para eleição dos juízes são irrelevantes e visam duas coisas: que segundo esses critérios entra  o menor número de pessoas, e que estas pessoas sejam juízes ruins.

Assim os juízes qualificados em tal tribunal serão poucos, e a competência do tribunal será irrelevante. A este tribunal anticorrupção não transferirão casos de corrupção, mas sim atravancarão com outras questões. Consequentemente, este projeto de lei é uma tentativa de fazer do tribunal anticorrupção um tribunal não anticorrupção.

- Como você avalia a probabilidade de interrupção do programa de cooperação com o FMI devido ao não cumprimento de Ukraina de suas obrigações?

 - Eu não penso que, antes das eleições presidenciais de 2.019, o FMI ou a União Européia financiarão Ukraina. Não penso que o presidente Poroshenko aguarda dinheiro do FMI. Já vimos que, em Setembro, Ukraina colocou eurobônus para 3 (três) bilhões em 7,375% ao ano, mas as reformas necessárias não estão ocorrendo. Ukraina vai colocar títulos no mercado europeu até a crise financeira ocorrer

Se Ukraina esbarrar numa crise financeira, esta será completamente causada pelas autoridades ukrainianas.

- Você acha que Ukraina poderá entrar nos mercados estrangeiros sem o programa do FMI?

- Isto será uma repetição do que fazia Viktor Yanukovych em 2011. Yanukovych pensava, que ele poderia vender títulos no mercado, e ele fez isto até 2.012. Em seguida a taxa de juros aumentou para 10%, e não houve mais demanda de títulos.

Por enquanto, você pode vender euro bondes. Em 2.018, Ukraina provavelmente poderá vender vários bilhões em títulos.

A questão é que tal política - é uma estratégia de evitar o crescimento econômico. Alguém perguntará, por que os altos funcionários podem estar interessados em evitar o crescimento econômico.

A resposta é: eles vivem com os lucros dos monopólios. Eles recebem lucros porque controlam a economia. Se houver muitos investidores na economia os altos funcionários terão menos controle sobre a economia, então os lucros desaparecerão e eles se tornarão mais pobres.

Tipicamente, países muito pobres têm líderes muito ricos, porque eles não estão limitados ao acesso de recursos financeiros. Não há nenhuma relação entre riqueza da liderança do estado e a riqueza das pessoas. 

Isso pode ser visto no exemplo das repúblicas da antiga União Soviética. Georgia é o único país da região onde o direito de propriedade é garantido. Isso é o que Ukraina precisa.

Então, a questão principal é - se assegurarão os chefes de Estado o direito à propriedade?

- Então você acha que eles são propensos a pagar em excesso pelos títulos do que lutar com a corrupção?

- Isso mesmo, porque eles estão interessados em corrupção, eles vivem dela. O procurador Yuri Lutsenko, provavelmente recebe dinheiro por não combater a corrupção, ele não ganharia nada além de seu pequeno salário.

- Durante um relatório no Fórum de Segurança em Varsóvia, você incentivava a investir na Ukraina. Você dizia que a assistência financeira, que Ukraina recebe,  - é minúscula em comparação com o que a Polônia recebeu.  Você acha que agora o interesse pela Ukraina entre os seus apoiantes no exterior diminuirá? 

- Eu defendo pela concessão de ajuda financeira à Ukraina, mas nas condições dadas da realização de reformas. Quanto mais dinheiro, mais oportunidades de realização de reformas.

Nós vemos uma porção de bons reformadores na Ukraina. Este é o Ministro das Finanças Oleksandr Danyliuk e a responsável pelo Ministério da proteção da saúde Uliana Suprun, o presidente do Conselho de Administração de Naftogaz Andriy Kobolev,  o presidente da Agência Nacional Anti-Corrupção Artem Sytnek, o promotor Anti-Corrupção Nazar Holodnitsky e, em geral, a liderança do Banco Nacional.

Eles, realmente lutam pelas reformas, e as organizações internacionais, com boa vontade, cooperam com eles.

No exterior houve decepção após a demissão do gabinete anterior, em particular, a renúncia da ex-ministra das finanças Natália Yaresco, ex-ministro da Economia Aivaras Abramavichus e ex-ministro da Infra-estrutura Andriy
Pivovarsky.

Em setembro de 2017, Ukraina obteve acesso ao mercado de Eurobonds e, a partir desse momento, as reformas diminuíram. Afinal, Ukraina tem acesso a financiamentos internacionais sem condição. Então a situação foi na direção errada, mas ainda acredito, que tudo se ajustará.

Tradução: O. Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário