Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 08.01.2017
Bogdana Kostyuk
Arcipreste da UOC do Patriarcado de Kyiv Sergey Dmytriev
O padre abençoa o coronel russo Igor Girkin (Strelkova),que na época era um dos líderes do grupo DNR" que é reconhecido na Ukraina como terrorista. Donetsk ocupado, 10 de agosto de 2014
Da esquerda para direita: Ioanniky (Kobzev), metropolita de Lugansk e Alchevskyi da Igreja Ortodoxa Ukrainiana (Patriarcado de Moscou) e Igor Plotnytskyi, líder do grupo FSC que na Ukraina é reconhecido como terrorista. Lugansk, 04 de novembro de 2014.
- Como você vê a sua missão pastoral?
- Para mim, não há dúvidas, que atualmente minha missão consiste no serviço de Cristo através do ministério da Ukraina - um estado que está em guerra, guerra contra Rússia.
Seja qual for a denominação desta guerra, sua essência não vai mudar: a liderança russa, tendo o apoio da Igreja Ortodoxa Russa, e a maioria dos russos comuns, estabeleceu uma meta - subjugar Ukraina.
Eu - sacerdote, e a tarefa da igreja, tarefa do clero - é apoiar com orações, aos defensores da Ukraina, apoio material de suas famílias. Não menos importante - devolver os combatentes à vida pacífica e formar, diríamos, "espaço sem barreiras" para pessoas com deficiência.
- O que para você significa - "Guerra", "agressão militar"?
- Eu nasci na Rússia, cresci numa cidade militar em Murmansk. De fato eu, até 1993 vivi na Federação Russa. Entre meus amigos de infância - membros da campanha chechena, eles me contavam coisas, sobre as quais na Rússia não falam em voz alta. Orações e apoio psicológico a estes rapazes davam os padres. Não os "líderes da ROC (Rússia) e não os "homens de negócios" de igreja, mas padres comuns aos quais era doloroso.
Assim, quando teve início a agressão russa, ou a campanha militar contra Ukraina, eu decidi ajudar aos militares ukrainianos. Num dado momento, conversando com os combatentes na linha de frente, percebi, que posso ser um capelão.
- É verdade, que não há ateus na vanguarda?
- Sim. Ao encontrar-me primeiro na "zona cinzenta", e depois (aconteceu assim) na linha de demarcação, eu conheci pessoas maravilhosas, soldados de verdade, defensores da Ukraina. Na vida civil eles nem iam à igreja, exceto nos feriados cristãos; eles não tinham idéia como se comunicar com os padres. Mas eles estavam abertos a essa comunicação.
Eu já disse aos jornalistas: na linha da frente não há muita preocupação, à qual denominação pertence o sacerdote, nós fazíamos orações conjuntas com os grego-católicos, pastores protestantes. Na verdade, nós sacerdotes, no Donbas, começamos eliminar as barreiras confessionais. Até mesmo os lutadores, que se diziam ateus, nós os convidávamos a ficar conosco para que os rapazes não se sentissem solitários.
- Aconteceu neste contexto a renovação da ortodoxia ukrainiana?
- Penso que sim, a UOC do Patriarcado de Kyiv passa por renovação, e isto é bastante natural, na medida que atualiza-se a sociedade ukrainiana.
- E há problemas na igreja, como na comunidade ukrainiana, porque a igreja representa esta comunidade. Para mim, a igreja - não são os patriarcas, bispos, padres, mas todas aquelas pessoas que pertencem à Igreja Ortodoxa.
- E em que Você vê problemas da sociedade ukrainiana e da igreja?
- Deixe-me contar-lhe sobre o que encontro em meu trabalho. Eu vejo, que as pessoas (incluindo o clero) não conhecem, com profundidade as tradições ortodoxas ukrainianas e criam pensamentos estereotipados, não dominam o conhecimento da cultura ukrainiana e história do cristianismo nas terras ukrainianas. Além disso, às pessoas falta informações sobre o que é a igreja, para que a igreja é necessária, etc. Então, às vezes, indo ao templo para servir, eu me comparo com os missionários cristãos, que levam os ensinamentos de Cristo para as massas. Penso que a Igreja deve ir "no passo" com o público, ou melhor, na dianteira.
- O que é para você, pessoalmente, o serviço social?
- O serviço social é uma parte muito importante nas atividades da UOC do Patriarcado de Kyiv. Nós desenvolvemos uma abordagem moderna para fornecer mecanismos eficazes, serviços sociais àqueles que precisam destes serviços. No entanto, este serviço social para o representante de nossa igreja - como o serviço de capelão - é voluntário. Nós, de modo algum não substituímos os serviços sociais do Estado. Nós somos parceiros do Estado. Isto é, em algures funciona o serviço social estatal e, em alguns casos o serviço social é fornecido pelas igrejas.
Se citar exemplos, então em primeiro lugar, recolhimento e transferência de ajuda humanitária a Donbas: nós, através do serviço público, e paróquias no leste, temos conhecimento das necessidades dos residentes locais e soldados das Forças Armadas e da Guarda Nacional.
Segundo, nós ajudamos, financeiramente, às famílias dos militares ukrainianos falecidos, apoiamos os feridos e suas famílias.
Claro, a igreja tradicionalmente ajuda os órfãos e inválidos, os lares para idosos, os ukrainianos com HIV/AIDS, etc. (Ação "sangue seguro").
- Você consegue lembrar as ações mais interessantes?
- Nós realizávamos ações denominadas "Santo Nicolau viaja pela Ukraina" para crianças independentemente de sua filiação religiosa. Uma espécie de ação ecumênica, cujo desempenho brilhante ajudavam a preparar e levar a todo o país os indiferentes políticos, ativistas sociais, empresários . Ações semelhantes nós fazemos agora na Páscoa.
Também mantemos o evento chamado "Livro para crianças", recolhendo literatura, livros, e convidamos para contato os conhecidos escritores e ativistas sociais, distribuímos as edições às bibliotecas das aldeias, realizávamos concursos de leitura. Atualmente, graças a esta ação, teve início em Kherson o "Centro do Livro ukrainiano", criado pelo clero e moradores comuns das cidades ocidentais: Lviv, Stryi, Sambir, Morchyn. Assim os nossos militares e fronteiriços, na fronteira administrativa com Criméia desenvolveram a biblioteca móvel. Ou seja, temos projetos sociais de sucesso, desenvolvemos novas medidas, porque, como eu já falei, a igreja deve caminhar junto com a sociedade.
Prezados, não publiquei nada sobre Natal na Ukraina (7 de janeiro), porque uma forte gripe atrapalhou meus planos.
Oksana Kowaltschuk
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