quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Quem em Davos comerá das mãos do oligarca Pinchuk?
Rádio Svoboda (Rádio Liberdade), 15 de janeiro de 2017
Sergey Grabowski

Oligarca Viktor Pinchuk (foto de arquivo)
Regularmente, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos (Suiça), Viktor Pinchuk, um dos mais ricos e influentes bilionários da Ukraina, proprietário de várias empresas, quatro canais de televisão e alguns outros meios de comunicação, reúne público para "almoço ukrainiano". Oficialmente organiza este almoço o "Fundo de Viktor Pinchuk". Neste evento, tradicionalmente participam políticos ukrainianos, da Ukraina ou do estrangeiro, jornalistas, empresários e diplomatas. Durante o almoço, os partícipes trocam pontos de vista sobre perspectivas ukrainianas, produzem certos acordos informais, determinam sua orientação em relação a Ukraina.

Os presidentes ukrainianos, quando visitam Davos, geralmente participam do "almoço ukrainiano".

Este ano, o presidente da Ukraina Petro Poroshenko, não compareceu ao "almoço ukrainiano."  Esta decisão ele tomou após a publicação no The Wall Street" Journal, as proposições de Viktor Pinchuk para "resolução do conflito entre Ukraina e Rússia. O presidente, inclusive, foi a Davos, lá ele teve seu programa, mas ao "almoço ukrainiano", no dia 18 deste mês, não compareceu. Nem ele, nem uma série de outros participantes ukrainianos do Fórum Econômico Mundial. O oligarca Viktor Pinchuk é considerado, pelos políticos ukrainianos e especialistas estrangeiros como representante da "quinta coluna" do presidente russo, Vladimir Putin, na Ukraina, personagem que age contra os interesses nacionais ukrainianos.

   Caricatura política de Alex Kustovskyi. No cartaz diz: Ukraina deve recusar-se,     temporariamente, de ser membro da UE.

Interesse de quem defende Pinchuk?

Para garantir a validade da última tese, voltemos à resposta ao artigo de Pinchuk, que pertence à "terceiro-lado",
pessoa imparcial. 

"O compromisso no avanço é capaz de levar Ukraina ao perigo" - tal título leva um artigo crítico em relação ao  "plano de regulamentação" de Pinchuk, publicado por um perito do Instituto Real de Assuntos Internacionais (Chatam Howse, Grã Bretanha) James Sherr no site oficial do Instituto. De acordo com Sherr, Pinchuk destaca-se entre os políticos de seu "meio": ele não é um defensor direto dos interesses russos, mas apela à manobra entre o Ocidente e a Rússia, enquanto coloca-se contra aqueles, que propõem à Ukraina uma escolha única.

Mas, as proposições de Pinchuk no último artigo, destaca Sherr, contradizem diretamente os seus objetivos declarados. Digamos, ele apela para recusa "temporária" da Ukraina da perspectiva de adesão à UE, da criação dos mecanismos de segurança, alternativas à OTAN, e o mais importante - à realização de eleições locais nos territórios ocupados ate, que surjam condições para eleições honestas nestas regiões.  Bem, pergunta Sherr, se tais medidas temporárias forem realizadas,  para colocar fim às confrontações, como depois acabar com elas sem reiniciar o confronto? Após a sua implementação, estas medidas irão criar uma nova realidade - elas minarão as relações existentes entre Ukraina e UE e Ukraina e OTAN.

Eles também criarão uma nova dinâmica política, que Rússia, à espera, poderá aproveitar para usar, a fim de garantir a subordinação da Ukraina, no início, de fato, e depois de jure. Não há nenhuma razão para acreditar, que quaisquer concessões unilaterais afastarão Rússia de seus objetivos, que ela, persistentemente perseguia mesmo quando, Ukraina declarou-se "não-alinhada".

"Ukraina - não é ruína, mas um ativo sujeito político, mais unido que em qualquer momento de sua história - Ukraina - não é um presente para alguém outro, - conclui Sherr. - Trazer ao sacrifício os seus interesses fundamentais, porque os outros poderiam fazê-lo, - isto não é apenas algo doente. Isto ainda pode ajudar àqueles outros ignorar estes interesses... Tal trabalho não deve ser feito pelas mãos ukrainianas".

E agora colocaremos uma pergunta lógica: o quanto são ukrainianas aquelas mãos, que propõem extremamente desvantajosas coisas para Ukraina (na verdade, a renúncia), e das quais, já por longo tempo alimentam-se inúmeros
políticos e jornalistas, inclusive nos almoços em Davos, para onde trazem alguns por conta da Fundação Pinchuk?

Quem tem o direito moral representar Ukraina?

É claro que, quando se trata de "ukrainiano", "ser ukrainiano", então não se pensa no fator étnico e não na nacionalidade do passaporte. Trata-se daquilo, que a participante do Movimento de resistência francesa, durante a Segunda Guerra mundial, a filosofa Simone Weil chamava "enraizamento" ; exatamente este sistema complexo de relações da pessoa com pessoas, com a Pátria, com o mundo cultural e o ambiente, constitui, segundo seu pensamento, "a mais importante e a mais conhecida necessidade da alma humana". Ao mesmo tempo, escrevia ela, em nossa época o dinheiro e o estado vieram no lugar de todos os outros relacionamentos. Se não temos evidências da última tese no conteúdo do artigo de Pinchuk, ajustado para o fato, de que o estado para ele, como para todos os oligarcas da Ukraina (devido à natureza de sua política de negócios e mentalidade pós-colonial), atua unicamente com o território, de onde é conveniente e sem problemas extrair dinheiro? E, eis a atitude à Moscou, quase como à capital universal - isto já é complexo do pós-soviético subconsciente...

                          Da esquerda para direita: oligarcas Rinat Akhmetov e Viktor Pinchuk.

Na verdade, há uma tradição de incorporação ao número de pessoas ukrainianas de origem não étnica desde os tempos da formação da "nação cossaca". Esta tradição continuou na segunda metade do século XIX e especialmente, no 1º terço do século XX, porquanto já não se exigia mudança da fé religiosa e preferências culturais; o principal consistia na defesa da liberdade da Ukraina e percepção como não alheia cultura ukrainiana. Porque qualquer nação, por sua natureza difere etnicamente com o fato, de que nela entram os saídos de outras comunidades étnicas, os que fazem uma escolha consciente em favor de pertencer a esta nação.

No entanto, será que pode agir em nome da Ukraina, na arena mundial, a pessoa, que não fala a língua ukrainiana, a pessoa que é, na maior pare, neutra em relação à cultura ukrainiana (para certificar-se disso, é suficiente assistir aos programas dos canais pertencentes a Pinchuk), que os interesses de seu próprio negócio coloca no mesmo lugar dos interesses nacionais, não compreendendo e não protegendo os últimos (o que mostrou claramente James Sherr)?

     Ex-presidente da Ukraina Leonid Kuchma (esquerda) e seu genro, oligarca Viktor Pinchuk.  

É compreensível porque no período da presidência de Leonid Kuchma, exatamente seu genro Viktor Pinchuk era o organizador do "almoço ukrainiano" em Davos. É compreensível também porque os dois Viktor - Yushchenko e Yanukovych - concordaram com isso: eles tiveram seus assuntos com o clã Kuchma - Pinchuk. No entanto por que esta tradição chegou até o dia de hoje? (Bem, se a minha memória não estiver falhando, nos anos anteriores de sua presidência, Poroshenko participou do evento - OK). Não será porque o clã Kuchma - Pinchuk é "socialmente próximo" ao governo atual? Afinal, em Minsk o Estado ukrainiano representa e assina os documentos Leonid Kuchma, (Em Minsk realizam-se aquelas reuniões que "procuram" uma solução para as duas regiões ocupadas pelos ocupantes pró-russos e militares russos - OK), atrás do qual arrasta-se a "cauda" do caso George Gongadze (o jornalista que foi morto e, por anos, não se achava a cabeça. Não lembro se informei, recentemente encontrou-se a cabeça e finalmente  ele pôde ser enterrado. O matador está na prisão, falta (m)  o (s) mandante (s) - OK), e não apenas este, que no cargo de primeiro-ministro e presidente deliberadamente cultivava o capitalismo oligárquico estatal - a maldição da Ukraina. E Viktor Pinchuk com a ajuda de seus canais pôde manipular a opinião pública e afetar significativamente a posição da cultura e idioma ukrainiano...

               Caricatura política de Alex Kustovskyi (Não compreendo porque todos recusam).

Interessante saber quem dos "políticos independentes" e jornalistas virá a Davos para o "almoço ukainiano" (O texto foi anterior ao almoço -OK). Quem este ano irá lá por conta da Fundação Pinchuk? E, se será lançado no Forum, um dia, verdadeiramente o "almoço ukrainiano"? (Bem, já sabemos que o presidente Poroshenko, e seus amigos próximos não foram. Não se sabe qual foi a reação - OK).

Tradução: O. Kowaltschuk

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