sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Volodymyr Zhemchugov: todos dizem que eu devo ir ao Parlamento.
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 27.09.2016
Mariana Pietsukh


Todos devem lembram a história do ex-prisioneiro dos militantes pró-Rússia Volodymyr Zhemchugov. Hoje novamente vamos falar sobre ele.
Volodymyr, acompanhado da esposa, ausentou-se do hospital para regularização de documentos. Também foi ao Parlamento, onde havia encontro de deputados do Parlamento Europeu com familiares de presos em ORDLO (regiões conquistadas por capangas russos, de Donetsk e Lugansk. Nesta sigla - ORDLO - D é Donetsk e L é Lugansk, às vezes aparece só uma sigla, então trata-se de uma das duas regiões - OK).
Zhemchugov disse que foi agradável porque todos o reconheceram e não precisou entrar na fila. Não era verdade que todos o esqueceram como lhe diziam os militantes.
Hoje, segundo dados oficiais, no cativeiro em ORDLO ainda há 111 ukrainianos. No entanto, sabe-se o paradeiro de apenas 45.


À pergunta, qual o fato que determinou a libertação de Volodymyr, sua esposa Elena diz que houve muitas ações. Ela mesma escreveu um apelo formal ao Quarteto Normando (Ukraina - Alemanha - França - Rússia).  Duas vezes escreveu às embaixadas da França, Alemanha, Rússia. Não houve resposta. Ela pensa que um papel muito importante desempenha Iryna Gerashchenko. (É a pessoa encarregada pelo governo ukrainiano para estas questões - OK).
Já Volodymyr pensa que na situação dele influiu o fato de que o mundo todo ficou sabendo em que condições graves permanecem os cativos da guerra, inclusive com os prisioneiros criminosos., nas mesmas celas.

Volodymyr caiu no cativeiro em 19.09.2015. Somente em janeiro de 2016 conseguiu-se o primeiro contato com advogado, através do Skype - conferência de dois minutos para certificar-se que ele consegue falar.

As pessoas boas no hospital em Lugansk, deixavam-no falar com sua esposa, em seus telefones. A esposa pedia orientação em como lutar por ele.

Mas, em maio ele foi para prisão em Lugansk. Quando ele ia ao tribunal, recebia informações dos investigadores durante os interrogatórios. Ou, os guardas lhe contavam que viam na TV, que sua esposa continuava lutar por ele.
A pressão psicológica continuava: "Você vê, você não é necessário para ninguém, você continua aqui a ficar deitado".

Ele contava os dias antes das trocas prometidas. Mas, quando soube que o "FSC" e "DNR" amarravam a troca de prisioneiros pelos militantes, percebeu que tudo era irreal.

Aceitou a situação e começou a luta pela sobrevivência especialmente quando foi para prisão, onde vivia com prisioneiros criminosos. Os presos ajudavam (Volodymyr sem as mãos e quase cego) em troca do chá e cigarros. Elena, sua esposa, apesar de que Volodymyr não fuma, todas as semanas levava-lhe cigarros.
Ao hospital Elena também levava pacotes e dinheiro. Mas dinheiro as enfermeiras não aceitavam, no entanto diziam o preço de um dia de cuidados com doente assim. 
Volodymyr oferecia-lhes doces. Algumas pegavam, algumas não. Na enfermaria, é claro, normalmente metade dos enfermeiros - canalha. No departamento cirúrgico as pessoas eram melhores. Mas assim é em todos os lugares, há pessoas e há cães.

Voltando ao tema da libertação dos prisioneiros, quando você apoia o formato "todos por todos" apesar de que o número dos dois lados é diferente, e do lado deles há criminosos, Elena acha que tal passo é necessário porque há pessoas que já estão a dois anos no cativeiro. Mas anistia para os dirigentes do "FSC" e "DNR" necessitaria de uma lei especial.

Volodymyr acha que precisa fazer esforços para socorrer as pessoas. O que não pode acontecer, quando o nosso lado prepara a pessoa para troca legal, realiza todos os procedimentos, mas a troca é interrompida pelo inimigo. Como todos os procedimentos legais foram realizados do nosso lado, a pessoa do lado de lá já não pode permanecer na Ukraina mais de três dias, enquanto os nossos reféns continuam presos do outro lado. Isto aconteceu com Volodymyr na primeira tentativa, mas houve mais casos.

Precisa fazer como se faz com os ilegais que vão para Europa e são detidos no território ukrainiano. Há campos especiais onde os detidos permanecem temporariamente.


Volodymyr, quanto a pressão psicológica: Os meios dos agentes secretos podem, fisicamente, quebrar qualquer pessoa. Eu fui salvo porque eu estava gravemente ferido e não me batiam. Eu tinha uma queimadura química, vários ferimentos causados por estilhaços, amputação, outros. Eles não me batiam mas, psicologicamente pressionavam.
Se lá vem uma pessoa saudável, nela vão bater muito. À minha câmera trouxeram um militar ukrainiano desmaiado. Ele tinha todo o rosto quebrado, ele foi acorrentado e delirava o tempo todo.
Disseram que ele resistiu no interrogatório, evidente que ele estava bem preparado. Eles vinham, constantemente, atrás dele, queriam que o médico o reaviva-se, para continuar o interrogatório. Mas ele apenas delirava e constantemente pedia água.

Um dos guerrilheiros me instruiu: "Volodymyr, se vão torturá-lo, isto ninguém pode aguentar. O principal é conseguir, de alguma forma, avisar seus amigos para que eles consigam salvar-se".

Eu não me preparei para o cativeiro. Em me preparei, que melhor era a morte que o cativeiro. Quando eu ia para guerra, compreendia que poderia morrer. Então fui a um notário, fiz a procuração e o testamento. Então, quando eu voei pelos ares, arrastei-me até a via, para um carro passar sobre mim. Vinha uma caravana de "Urais" com projéteis da Rússia, eles vem de Krasnodar e carregam armas para Stakhanov. Eles me viram, desviaram, chamaram a polícia e o socorro.

"Saakashvili (ex-presidente da Georgia -OK) deu para trás devido meu sobrenome russo."




Em que período de sua vida você assumiu a posição pró Ukraina?
Eu não digo que eu amo Ukraina de coração. Amar significa aceitar tudo sem reclamar. Eu a respeito, eu respeito profundamente su
a literatura, a cultura, o modo de vida ukrainiano.
Eu sou russo por nacionalidade, e sempre orgulhei-me disso. Mas, quando em 1992 havia o direito de escolher onde viver e aceitar a nacionalidade do país, eu escolhi Ukraina. Porque acreditava, que Ukraina será mais próxima da Europa.
Apesar de que até 91 eu era uma pessoa de mentalidade soviética, acreditava que o nosso povo vive bem, e lá "apodrecido" capitalismo, as pessoas são exploradas. Eu era membro do Komsomol, levava uma vida esportiva, entusiasmava-me com trabalho técnico. Mas, depois de 1991, quando em Moscou as pessoas que eu devia proteger, porque fiz o juramento de Defensor da Pátria e sua nação, começaram jogar pedras, amaldiçoar e chamar de degenerado, para mim foi reviravolta, revolução na cabeça. 
Depois disso eu percebi que nos enganaram, toda a nação enganavam por setenta anos!

Comecei interessar-me pela história, isto tornou-se o meu hobby. Eu lia o "Arquipélago Gulag" sobre as repressões stalinistas. Depois tornou-se conhecido que a União Soviética, na verdade, conduzia muitas guerras de ocupação, que a Guerra do Golfo foi sordidamente desencadeada, que nós atacamos o Irã em 1951, país que era nosso amigo.



Durante minha vida, eu me envolvi em vários negócios. Eu sou gestor de crises, posso fazer de tudo. Geórgia me convidou para melhorar o negócio de polímeros. Particularmente, eu desenvolvia a produção de garrafas de plástico "Borjomi" e tampas para elas.
Eu alcancei bom desempenho. Vera Kobalia (Ministro da Economia da Georgia, 2010 - 1012) convidou-me para um encontro. Mas no Cáucaso, o nome diz tudo. Por causa do meu russo "Zhemchugov",  o então presidente Saakashvili deu para trás. Depois os auxiliares de Kobalia diziam que precisava explicar para Saakashvili, que eu era cidadão da Ukraina, que isto era uma empresa dos dois países, Ukraina - Georgia, mas recuaram. Porque na Georgia , se a pessoa já disse "não", então segunda vez já não se deve insistir. (Tempo passou, na Geórgia o presidente é outro, não sei se é pró-Rússia mas amigo da Ukraina não é porque os jornais não falam dele. Saakashvili não quis ficar na Georgia, agora é governador de um Estado na Ukraina. Sua esposa e filho mais novo vivem na Georgia. Segundo Saakashvili, ele achou importante o filho adolescente permanecer em sua pátria. O filho maior estuda na Universidade dos Estados Unidos, segundo o próprio Saakashvili - OK).

- Você quer voltar aos negócios?
 Eu não sei. Eu tenho lesões graves. Eu quase perdi a visão e minhas chances são muito pequenas para recuperá-la, mas é preciso esforçar-se, e fazer tratamento no exterior.
Eu tenho ferimentos no abdômen, causados por estilhaços, hérnia. A segunda etapa - tratamento dos órgãos internos. Terceira etapa - próteses para as mãos. Aqui vieram rapazes e disseram que um rapaz , em Debaltseve, perdeu os pés e as mãos, mas agora ele corre e escreve.
Quarta etapa - tímpano. E outros pequenos problemas no corpo.

Elena diz que neste hospital (do Estado) a tomografia computadorizada não mostrou tudo. Assim os médicos não puderam determinar se há algo no fundo do abdômen. Nos olhos ficaram dois fragmentos. Quando fizeram raio-x em Lugansk, disseram que nos olhos ficaram dois fragmentos, no peito - dois, três no pé e doze ou treze nos maxilares. Mas isto é apenas o que conseguiram ver.

À pergunta, se não me encaixaria em algum negócio, entraria na política, Zhemchugov pensou e respondeu que, hipoteticamente não descartava. (Voto por ele. Ele é infinitamente melhor do que aqueles pró-russos que ainda pululam por lá, ou aqueles que só pensam no enriquecimento próprio e montam esquemas - OK), Apenas hipoteticamente. Comigo já vieram conversar, mas eu respondi que agora penso em minha saúde.

Aproveitar-me? Será muito difícil, eu tenho 46 anos, eu sou uma pessoa esclarecida. diversificada, multifacetada. A mim o FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia) propunha. Diziam. "Levaremos você a Moscou, restauraremos a visão, traremos todos os seus familiares para Lugansk, garantimos a segurança, mas você deve entregar o comandante dos guerrilheiros, número e endereço, senhas e encontros. Eu não aceitei. Eu falo com todos. Todos me dizem que eu devo ir ao Parlamento. Minha esposa diz que eu me inclino mais para os negócios.

Eu, aos 42 anos afastei-me dos negócios. Eu queria descansar. No entanto, começou a guerra, e eis o meu descanso.

Tradução: O. Kowaltschuk

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