Radio Svoboda (Rádio Liberdade", 02.01.2018
Inna Kusnetsova
Fotos: Igor Kozlovsky
Igor Kozlovsky |
Presidente do Centro de Estudos Religiosos e Relações Espirituais Internacionais. Lecionou disciplina religiosa na Universidade Técnica Nacional de Donetsk. Autor de mais de 50 livros científicos e 200 artigos. No final de janeiro de 2016, Igor Kozlovsky foi detido em Donetsk por representantes do grupo "DNR". No início os militantes acusaram o cientista de "armazenamento ilegal de explosivos." Posteriormente, o chamado "tribunal" argumentou a prisão de Igor Kozlovsky dizendo ele ser - "especialmente um cidadão não confiável porque tinha contatos com várias organizações que foram proibidas na "DNR", em particular com membros do partido "Liberdade" em 2014. Igor Kozlovsky foi libertado da prisão com outros 73 ukrainianos em 27 de dezembro de 2017.
Inna Kuznetsova: Senhor Kozlovsky, você ainda não odiou os jornalistas porque nós colocamos perguntas estranhas aqui o tempo todo? Perguntamos sobre o pior - que novamente precisa vivenciar.
- Eu até senti saudades por tais perguntas. Para mim, como uma pessoa criativa é muito importante comunicar-me com pessoas. Nas condições que eu estava, não havia tal comunicação. Haveria relações difíceis com aqueles que estão lá...
Isso é horror, arbitrariedade, uma espécie de fantasmagoria. Tudo foi irreal. Até o final, não consegui entender - por quê?
As pessoas que me detiveram, não me consideraram. Eu observava esses acontecimentos e eu tive minha própria opinião. E eles sabiam isto. Entre as pessoas comuns, simples militares, supervisores, eu diria que senti algum respeito. Eles me perguntavam sobre coisas diferentes, como relacionavam-se, por exemplo, com a história da religião, e em geral, com a história. Eles me olhavam com respeito e ouviam meus pensamentos. Eles também não entendiam, por que eu fui parar lá. Eu tentei me comunicar com alma.
Eu entendo, que as pessoas são diversas, elas têm diversas concepções do mundo, posições políticas. Mas há uma alma. E com essa alma você precisa conversar...
Nós precisamos de uma sociedade civil madura. Este é um fenômeno, que precisa ser formado (educado) como uma idéia nacional, E nós devemos conversar com a sociedade civil lá. Como fazer isto, eu ainda não sei. Porque é preciso chegar a cada pessoa, cada personalidade, para que lhe ouça. E, para lhe ouvir, precisa falar na língua da pessoa, encontrar pontos de contato, sem os quais é impossível avançar.
Nós passamos por um caminho muito difícil da quebra de contatos, até mesmo contatos familiares. Esta questão é muito difícil, até mesmo para anos, até para décadas.
- Com o quê, sobre o que falam em Kyiv, vivem em Kyiv, diferem do que sabem lá?
Os parentes enviavam revistas, jornais da Ukraina. Enviavam as pessoas próximas, os estudantes recolhiam aqui, na Ukraina, cruzavam a linha divisória. E lá já recebiam outros e traziam à prisão, à colônia, onde eu estive nos últimos oito meses. As cartas não eram permitidas, mas ainda assim havia algumas pequeninas.
Estes são mundos diferentes, não apenas a visão do mundo, a visão do mundo é uma construção do mundo completamente diferente.
Ao longo destes três anos, uma geração de pessoas novas cresceu, que já pensa construtivamente, de forma diferente. Se em 2014 tinham 15 anos, agora têm 18 anos. Estas pessoas vão servir, como dizem, nas "forças armadas" das repúblicas. Estas são as pessoas que vão para lá conscientemente, pegam em armas, como dizem, defender seus interesses e idéias. Na maioria, eles apenas sobrevivem, porque as pessoas não têm trabalho. O serviço militar - é onde você pode ganhar dinheiro.
Quanto à idéia... Quando me torturavam, quando eu tinha um saco na minha cabeça, gritavam, que eles são "mundo russo". Essa é uma mitologia que eles inventaram. Ninguém sabe o que é, mas constantemente dizem que eles são "mundo russo"...
Muitas pessoas que vivem lá, são pro-ukrainianas. Elas são observadas. É a prática comum, como na antiga URSS, escrevem denúncias, o chamado "stukachestvo".
"O Tribunal Militar" do "Supremo Tribunal" - é um órgão especial através do qual a maioria dos cidadãos não-militares passou. Isto é "triiika" (três pessoas).
Em geral, a impressão, é que lá eles fizeram uma peculiar mistura de 1937, 1950 e 1970 dos anos da URSS. É como um jogo do role-playing. Mas esses "jogos de role -playing" se relacionam com a vida das pessoas, seu destino.
- O senhor foi apreendido próximo de sua moradia. Naquele momento, além do filho Svyatoslav, não havia ninguém em casa. Como eles entraram no apartamento? Arrombaram a porta?
- Eu penso que eles têm certos meios, como abrir a porta... Muitas coisas desapareceram. Eles levaram dinheiro, objetos caros. Eles gritavam, que trarão ao porão, junto a mim, meu filho, para que eu reconheça, que as granadas e explosivos são meus. Diziam, que vão torturá-lo diante de meus olhos...
Sobre espionagem havia certas táticas. Disseram: você, provavelmente é um espião profundamente disfarçado. Eles têm uma pequena fantasia (Métodos de tortura - ed.). É espancamento, ou torturas com corrente elétrica e suspensão...
O filho esperava. Nós temos o nosso tipo de comunicação. Ficou muito alegre após minha libertação do cativeiro. Todos que foram libertados também têm o desejo de participar da libertação de todos que ainda ficaram. Lá as pessoas realmente sofrem.
- O presidente checo, Milos Zeman, tentou influenciar na sua libertação do cativeiro. Ele foi surpreendente. E até telefonou aos "líderes" dos grupos militantes. Eles não responderam. E ficou chocado com a sua grosseria. Como o Senhor percebe isso? Afinal, Milos Zieman é acusado de um sentimento pró-russo.
- Eu sei. Ele - pessoa que tem direito à sua opinião. Ele é presidente do país. Os seus pontos de vista podem até não coincidir com os pontos de vista da sociedade civil da República Checa. Nós sabemos disso. Mas o presidente checo também fez muito, escrevia cartas, seguia esses eventos. Ele disse que ligou várias vezes para Putin...
Presidente da Ukraina Petro Poroshenko (à direita) e o libertado do cativeiro das forças hibridas russas Igor Kozlovsky (no meio).
Tradução: O. Kowaltschuk
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