terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Batalha de Kruty. Cronologia segundo memória dos participantes.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 28.01.2018
Yaroslava Tregubova

Cem anos atrás, cerca de 400 cadetes e estudantes pararam a ofensiva contra Kyiv, de quase quatro mil soldados bolcheviques. A batalha na estação ferroviária de Kruty durou mais de seis horas. O atraso no avanço do Exército de Muraviova permitiu concluir o Tratado de Paz de Beresteisky, o que significou o reconhecimento internacional da independência da Ukraina. Por que o jovem estado foi defendido por estudantes voluntários, e não pelo exército? Como ocorria a luta desigual? E há evidências de uma violação, pelos bolcheviques, da Convenção de Genebra, sobre o tratamento dos prisioneiros? Respostas à questão Rádio Liberdade encontrou nas memórias dos participantes das batalhas de Kruty.

Como tudo começou?

Bóris Monkevich, participante da batalha de Kruty:

- Forças Armadas dos bolcheviques, subjugando já a parte oriental da Ukraina, vinham à nossa capital Kyiv com dois fortes exércitos.

O "governo" ukrainiano estava quase sem defesa, com fronteiras abertas, sendo que ainda em dezembro, por ordem do ministro do exército, foi anunciada a desmobilização geral da guarnição da capital ukrainiana

A óbvia falta de defesa organizada da região foi um fato consumado, e todos se perguntavam: "O que vem em seguida?" E já no último momento, diante do perigo, o governo lançou um chamamento desesperador a todos que ainda tinham esperança em seus corações e cujos braços ainda não baixaram. A juventude imediatamente respondeu a este chamado para defender sua pátria. Sem hesitação, eles deixaram suas famílias, deixaram as paredes de sua própria alma mater.

Ainda em dezembro, por ordem do ministro militar foi anunciada mobilização geral.

A  Universidade Popular criou uma companhia de estudantes, de fuzileiros da Sich. Nesta companhia inscreveram-se muitos alunos do ginásio (quase todos os alunos da 7ª e 8ª séries)  companhia nomeada Irmandade Cyril - Methodius, inscreveram-se estudantes da Universidade de Volodymyr, estudantes da hidrotécnica, estudantes da escola militar e da escola de medicina ukrainiana.

Mykhailo Mykhailyk, participante da Batalha de Kruty:

A Companhia de estudantes principalmente era formada de jovens, que não passaram pelo exército, e alguns nem atirar sabiam.

A companhia de estudantes, organizada às pressas em Kyiv, contava até 300 voluntários. Em sua maioria eram jovens, que não estavam no exército, e alguns nem sabiam como disparar... Essas forças tiveram que defender o ponto mais importante da frente - o caminho para Kyiv.

Averky Goncharenko comandante das forças da República Popular da Ukraina na batalha de Kruty:
Para defesa Ataman Kapkan enviou a Primeira Escola Militar juvenil ukrainiana nomeada Bogdan Khmelnytsky, em cuja composição havia quatro centenas - 150 jovens, 18 metralhadoras e 20 sub-oficiais.

Generosamente dotado de "poder total" com uma ordem a todo custo não entregar Bakhmach, para não permitir que os bolcheviques cheguem a Kyiv, com profunda tristeza e mágoa, voltei para escola.

A jovem flor do nosso exército - jogavam em uma situação sem esperança, enquanto entre anarquia encolerizada de dezenas de milhares de homens armados, testados nas batalhas de guerra implacavelmente desmobilizava-se.

Agora, apenas punhados ideológicos apresentaram-se à luta por sua terra natal.

Ela não souberam defender em tempo, usando para isto o recrudescimento nacional, levar para disciplina militar, pelo contrário, em comícios desmoralizavam e admoestavam com a divisão de terras. Agora, apenas punhados ideológicos apresentavam-se à luta por sua terra natal.

Sobre a preparação e equipamento da companhia dos estudantes.

Bóris Monquevich.

Exercícios oficialmente não realizavam-se.

- Não havia ordem na organização desta companhia. Os exercícios realizavam-se não oficialmente, por iniciativa de quaisquer comandante. E apenas alguns dias antes da partida da companhia à frente, o tempo foi destinado para exercícios de artilharia dos chefes do regimento de Bogdanovsky, mas em tão pouco tempo muito não ensinaram.

Igor Lossky  participante  da Batalha de Kruty 
                                          
A confusão, que reinava então em Kyiv, refletiu até em tais minúcias: como estava vestida e armada a centena estudantil. Cada um recebeu - calças, capote rasgado e algum tipo de chapéu de prisioneiro. Pode-se imaginar quão grotesca era a aparência da centena.

A aparência média era: botas próprias, calças de soldado amarradas em baixo com um barbante, jaqueta de estudante ou uma camiseta civil, e algum tipo de capote, no qual, no mínimo, faltava uma parte. Não melhor pareciam as armas antigas, espingardas enferrujadas.

Sobre partida de voluntários para frente e notícia sobre reforço.

Igor Lossky: O embarque ocorreu com bastante calma, se não contar com o fato de que, no último minuto veio correndo a senhora Lukasiewicz (esposa do falecido Ewen Lukasiewicz) procurar seu filho Levko, um estudante da 6ª série, que "ilegalmente" entrou na na campanha. A pobre mãe chorou amargamente, persuadindo o filho não ir, mas sem sucesso.

O jovem Sokolovsky tranquilizava alegremente sua irmã, sem ter idéia de que em alguns dias ele estará deitado na plataforma da estação com a cabeça perfurada com baioneta moscovita.

Com mais calma comportava-se a irmã de outro estudante da 6ª série. Mal conseguindo conter as lágrimas, ela abençoava o irmão e todos que partiam... O jovem tranquilizava alegremente sua irmã, não prevendo que em poucos dias ele estará deitado na plataforma com a cabeça perfurada com a baioneta. Sob o canto do hino nacional "Ukraina ainda não morreu", o escalão moveu-se para o norte.

Após um dia da saída de Kyiv, decidiu-se, que os jovens iriam para Bakhmach, onde ficou um pequeno destacamento liderado pelo regimento Bogdanovsky, agora o coronel Semen Loshchenko, mas a centena de estudantes ficaria em Kruty e continuaria os exercícios. Mas, descobriu-se, que Bakhmach já estava ocupado pelos vermelhos e que logo eles chegariam a Kruty. Então, todos tiveram que se instalar em Kruty.

Averky Goncharenko:
- Em 25 de janeiro de 1.918, recebi uma mensagem, que para mim, de Kyiv, mandaram uma centena de estudantes. A questão do preparo militar eu já conhecia bem, porque nela encontrava-se meu irmão, do terceiro ano de medicina, da Universidade de São Volodymyr. Dele eu soube que o treinamento durou sete dias, já sabiam atirar e que em Kyiv - igual ao inferno.

O anúncio da chegada de uma centena de alunos espalhou-se entre os jovens como um raio, mas a impressão, devido à sua chegada, era como se toda a divisão tivesse chegado. Graças a isso, o fator decisivo de tão alto valor e sempre decisiva na batalha - "elevação de espírito", conseguir atrasar o ataque de Muraviova e forçá-lo à luta prolongada.

A centena de estudantes, de 115 - 130 pessoas, chegou à estação Kruty em 27 de janeiro de 1.918, às quatro horas da manhã.

Sobre ofensiva de 29 de janeiro e o clima das partes.

Averky Goncharenko:

- De manhã "vermelhos" começaram sua ofensiva em colunas fechadas. Parecia que eles estavam indo para o desfile, negligenciando os meios mais primitivos de segurança. 

O relevo da localidade diferenciava-se, e nos podiam perceber a uma distância de tiro. Na noite de 26 para 27 de janeiro, tive uma conversa pelo fio direto, com Muravyou. Sua exigência, em forma de uma ordem, era a seguinte: "Prepare-se para uma reunião vitoriosa do Exército Vermelho, prepare o almoço. Eu perdoo os equívocos dos junkers, mas os oficiais eu vou fuzilar."

Os vermelhos da frente, vindo em colunas bloqueadas, obviamente, estavam certos em nossa fuga." Às suas chamadas "ninguém lhes respondia. Assim que eles se aproximaram à distância do tiro, nós os recebemos com fogo de quatro centenas e dezesseis metralhadoras. Os bolcheviques ocuparam, no front, uma linha até cinco quilômetros, tendo atrás de si, constantemente, reforçadas novas reservas e uma população simpatizante.

Igor Lossky:

Desde a manhã a maioria do exército ukrainiano ocupou a linha das trincheiras. Cerca de vinte pessoas deixaram na estação, para cobertura. Os ukrainianos localizaram-se de tal forma que os jovens ficaram à direita do toro ferroviário, à esquerda - a centena de estudantes.

Muitos não sabiam atirar, um pequeno número de cartuchos foi rapidamente disparado. Foram buscar na estação. Mas descobriu-se que não havia mais sede na estação. O pior, quando fugiam engancharam os vagões com munição.

Próximo das dez da manhã surgiram grupos hostis, e, ao mesmo tempo, a artilharia bolchevique começou a disparar. Os disparos foram intensos, mas infrutíferos - o tiroteio estava mal direcionado, caía em algum lugar no campo.

O trem do estado maior, os estudantes que recuavam, encontraram no dia seguinte, além de Nizhyn.
(Continua)

Tradução: O. Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário