sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Guerra fria pela Criméia
Tyzhden ua. (Semana Ukrainiana), 24.09.2015
Bohdan Butkevych

Com os esforços dos tártaros da Criméia, o país de repente se lembrou que, apesar da ocupação, Ukraina continua, sem impedimentos, suprir Criméia com comida e energia - ainda bem que, pelo menos água é bloqueada.


Sim, nós ganhávamos um bom dinheiro, mas mais de um ano simplesmente fechamos os olhos para uma posição absolutamente sem princípios do governo. E de nós mesmos. Pelas possibilidades comerciais o governo até fez lobby para criação da chamada zona de livre comércio na Criméia, anexada pela Rússia. Isto, por sua vez, em grande parte permitiu aos invasores, evitar a crise alimentar na península. Independentemente dos resultados o bloqueio era necessário, porque lembrou o esquecido problema da Criméia.. E, de repente, todos lembraram dos semi-esquecidos tártaros crimeanos, dos quais mais de 20 já foram assassinados durante a ocupação, a falta de liberdade de expressão, pensamento e religião. E no geral sobre a necessidade de estratégias de comportamento claras e compreensivas da Ukraina em relação à sua península, capturada pelos russos, e não em 
acordos "esdrúxulos", de bastidores.

Com tristeza é preciso admitir, que em geral, exceto aos tártaros, Criméia revelou-se desnecessária na política ukrainiana. Até mesmo os políticos - provenientes da Criméia, como Sergey Kunitsyn e Dmytro Bilotserkivets do Bloco de Petro Poroshenko ou Oksana Denisova da "Pátria", simplesmente ignoram este tema. Não surpreende, que o lugar vago ocupou o Mejelis (ou Majelis - órgão legislativo da Criméia) com os seus dois líderes reconhecidos: Mustafa Dzhemilev e Refat Chubarov. E podemos dar 100% de certeza, que os tártaros não esquecerão esta inação e fraqueza da Ukraina na luta pela Criméia, e quando mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, acabar a invasão russa, o direito de dizer "Criméia é nossa" terão, primeiro de tudo, eles. Suas ações durante o bloqueio atual, lhes dão este direito. Eles cansaram de esperar serem ouvidos, não apenas no nível de lindas declarações, mas na ação. E decidiram fazer tudo sozinhos. Não querem compreender o seu e o nosso interesse, não querem ouvir sua Criméia? Não querem participar, realmente, do destino do povo, que é o nosso principal aliado na questão do retorno da península? Ok, então nós mesmos.

QUALQUER SAÍDA DO REGIME DE ACORDOS OPACOS PÓS-SOVIÉTICOS, NO CAMINHO DOS QUAIS KREMLIN TEIMOSAMENTE TENTA DERRUBAR UKRAINA, JÁ É VITÓRIA.

Os tártaros com ajuda dos ativistas do "Setor Direito" e outros voluntários fazem aquilo, que deveria fazer o governo desde 18 de março de 2014, se não antes. Não se deve ouvir os cínicos, que dizem, não importa com quem negociar, apenas que seja confortável e o dinheiro venha.  
É preciso compreender, uma vez por todas: quaisquer comércio com territórios ocupados é, em certo grau, sua legalização.

Não vale dar ouvidos aos que gritam: oh! lá também vivem nossos cidadãos, para que lhes causar transtornos, eles, então, vão gostar menos da Ukraina.
Se alguém ainda não compreendeu, os patriotas da Criméia bradam desde a primavera passada: desliguem nossa luz, gás, eletricidade, água, não mandem produtos, que os "vendidos" sintam "Rússia" no sabor completo e entendam, porque, realmente, Khrushchev deu Criméia a Ukraina. Mas, agora eles, com inacreditável espanto olham o bloqueio: será que finalmente compreenderam? Bem, quanto ao auditório "vendido" falar não vale a pena: a estas pessoas, falar não vale a pena: a estas pessoas, que caíam pedras do céu, ou desbastar uma estaca sobre a cabeça. A eles, blocada ou não - em tudo são culpados os "fascistas ukrainianos" e os "bajuladores". Então, sobre bloqueio, no sentido que alguém de dentro da Tavriya, de um ou do outro lado entendeu, pensar não faz sentido. (Tavriya tem diversos significados: marca de automóvel, clube de futebol de Simferopol, coudelaria na Ukraina, editora na Rússia, outros - OK). Na verdade, os crimeanos, como não eram sujeitos do processo do local onde vivem, assim continuam não sendo.

No entanto, o governo ukrainiano decidiu ir para um acordo "cinza" com Rússia que nos fornece a energia elétrica e, por isto, nós não tocamos na Criméia, o que é um grande erro. Em primeiro lugar, político. O Ocidente vê, que continuamos a negociar calmamente com nosso território ocupado, e pensam: bem, se isto para vocês não é problema, por que nós devemos criar complicações com isto? Segundo, puramente econômico. A fronteira administrativa com ARC (República Autônoma da Criméia), como a linha da frente no Donbas, gradualmente se transforma no local da mesma corrupção que sempre foi a fronteira ocidental. Literalmente, cada caminhão que leva alimento ou equipamentos, da Ukraina para Criméia, ou ao contrário, transita sob suborno.
Os guardas de fronteira e funcionários aduaneiros já começam brigar pelo direito de servir na rotação em Chongar ou Chaplinka. Há tumores cancerosos no senso político e econômico, e ainda Ukraina continua alimentando a Criméia. Alimentar Criméia sozinha para Rússia - tarefa bastante complexa, especialmente no outono e inverno, quando a travessia de Kerch mais fica parada que em funcionamento.

Sim, incomoda um pouco a questão desagradável: por quanto tempo aguentarão os ativistas, que agora bloqueiam os três caminhos para península? Porque, se o bloqueio removerem em breve, o efeito negativo será muito maior que o princípio. Tipo, brincaram. Agora continuamos nossos negócios. Também é muito assustador que este bloqueio não se transforme num negócio rentável, apenas o dinheiro, agora, não irá aos guardas de fronteiras, mas para os bloqueadores. No entanto, por alguma razão se pensa que os tártaros não recuarão.

Não porque eles sejam heróis e super-homens indestrutíveis, não, simplesmente por compreenderem, que atualmente, as elites ukrainianas não pensam nos interesses estratégicos do país, mas nos resultados das próximas eleições. Portanto, continuarão avançando a sua agenda: e de repente na Bankova (governo ukrainiano) considerarão os números de seu apoio, que hoje já surpreende, e decidirão que esta questão merce uma "aprovação" real?

As redes sociais de Kremlin armam uma gritaria, dizem, Rússia nem perceberá este bloqueio: exatamente o nível de sua atividade mostra que o bloqueio é um passo correto. Na verdade, quaisquer saída dos "acordos" opacos de regimes pós-soviéticos, à nova correnteza que teimosamente tenta empurrar Kremlin a Ukraina, já é uma vitória. Ação clara, direta e posição dura - eis o que tem Moscou, eis contra o que ela não tem argumentos, além de intimidação nuclear.
 Nós devemos ouvir Criméia, ela deve constantemente dar batidas em nossos corações.

Se alguém não vê, que Rússia nunca sai dos territórios ocupados, por causa de quaisquer acordos ou negociações - Transnistria, Abkházia, Ossétia do Sul - são testemunhas. Rússia sai dos territórios ocupados após uma derrota real, numa guerra real ou numa guerra fria. Para uma guerra real atualmente Ukraina não tem forças, então resta uma guerra fria, isto é, econômica. Rússia deve pagar diariamente uma taxa crescente pela ocupação de nossos territórios. Portanto, o bloqueio é definitivamente necessário. Apenas o permanente, abrangente, com apoio estatal e base jurídica. Aos tártaros da Criméia deveríamos agradecer simplesmente agora.

Segundo Refat Chubarov (Castelo Alto, 25.09.2015): Os primeiros cinco dias já dão os primeiros resultados - os caminhões russos que esperam a carga da Ukraina, voltam através do Golfo de Kerch vazios. "Ontem recebi informações da Criméia que os caminhões vazios que vieram da Rússia, cansados de esperar pelos caminhões ukrainianos, foram embora sem nada - são os primeiros resultados do bloqueio" - disse Chubarov.

Além disso, revelou-se que ainda ontem o chefe da ocupada Criméia, Aksenov, assinou um documento sobre a necessidade de "suspender o fornecimento de bens dos fabricantes da Criméia à Rússia continental."

Segundo Chubarov, todos nós sabemos, que tal quantidade de produtos na península não se fabrica, e sob veladas "commodities da Criméia", cuja exportação deve ser suspensa, de fato a referência é às cargas de produtos ukrainianos. Com a finalidade de exportar os produtos ukrainianos para Rússia da Criméia foram criadas inúmeras entidades fiscais que se ocupavam com transferência ilegal da produção ukrainiana à Rússia.

O volume de negócios, desde o início do ano seria de 11 (onze) bilhões de dólares - e isto é apenas a ponta do iceberg, considera o presidente do Mejelis. Ele conclui dizendo que ninguém, incluindo altos funcionários... sequer imaginava a escala real da corrupção.

Tradução: O. Kowaltschuk 

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