domingo, 27 de maio de 2018

"Diante de mim estava o chefe com um chicote. Ele ameaçava cortar-me em pedaços, e os cachorros no mato me comeriam..."
Vysokyi Zamok (Castelo alto), 23.05.2018
Suzana Bobkova
A jornalista Ulyana Vorobets, que agora vive na Polônia, retirou não apenas um trabalhador da Ukraina, da escravidão. Anteriormente, ela mesma, por algum tempo, permaneceu na escravidão.
Os ukrainianos, em massa, vão trabalhar no exterior. Particularmente popular é a vizinha Polônia. O que espera pelos trabalhadores no estado vizinho. Como não cair nos chamados campos de trabalho? Realmente, quanto você pode receber (pelo seu trabalho) no exterior? Ao jornalista deste jornal disse a ex-diretora da Rádio Zhovkivskyi Ulyana Vorobets, 34 anos, a qual hoje, com seus filhos, vive e trabalha na Polônia.

A Sra. Ulyana foi a Polônia para trabalhar, alguns anos atrás. A mulher, sozinha, criava seus quatro filhos. A filha sofreu um acidente, para seu tratamento, precisou fazer empréstimo bancário. Para pagar a dívida, Ulyana precisou ir trabalhar no exterior. (Algum tempo atrás saiu uma reportagem falando que muitos pais, quando o casal se separa, não colaboram com as necessidades dos filhos. Simplesmente se omitem. O governo resolveu ajudar e promoveu uma "caçada" aos pais. Deu certo resultado. Não sei se continua, não li mais nada sobre o assunto - OK).Sonhava ganhar dinheiro e voltar às crianças (ela os deixou com seus pais). Mas, o quê precisou enfrentar no estrangeiro... Este ano, a ukrainiana participou dos doze pretendentes, ao Prêmio "Personalidade do ano", concurso que anualmente organiza o jornal polonês "Gazeta Wyborcza". Ulyana Vorobets retirou, não apenas um ukrainiano, do problema...

- Eu, desde 13 anos era diretora da rádio distrital em Zhovkva - diz Ulyana. - Aos 18 tornei-me diretora, o mais jovem da Ukraina. Ela escrevia para o jornal regional "Renaissance" (devido a isso, ela escolheu sua profissão).

Quando a rádio foi fechada, porque ela se tornou não rentável, trabalhava no site 032 ua em Lviv. Depois "bolsista"... O Centro de Emprego ajudou-me a abrir uma empresa que organizava férias para crianças (para isso recebeu capital inicial). Depois entrou em uma empresa farmacêutíca, onde trabalhou como interprete. Viajou para conferências médicas por toda Ukraina. 

Essa experiência e contato com os médicos ajudou a salvar meu filho (ele ficou doente 10 anos). Os médicos não conseguiam diagnosticar. À criança diagnosticavam asma, ou epilepsia, ou até insuficiência cardíaca... Como se soube, o problema era o sistema DNA. Quando eu estava g
grávida sofri um mini derrame. fiquei de cama quase seis meses e havia pouca esperança que eu poderia andar. Por sorte, eu mesma consegui levantar, e o filho conseguiu-se curar.

- Como você chegou à Polônia?

- Quando trabalhei como tradutora, a filhinha Khrystinka sofreu um acidente. Eu comecei vender tudo, o que tinha. O marido disse, que com ele não contasse... Planejava ir trabalhar em Israel, mas quando os intermediários "cantaram" 5 mil dólares para viagem, recusei-me, não possuía tais recursos. então, no horizonte apareceu Polônia. quando cheguei na editora, onde, supostamente, me esperavam, lá não ouviram falar de mim. Então fui trabalhar no campo, na seleção da beterraba. No Facebook inscrevia-me em diversos grupos de busca de emprego. E, um dia, me escreveu o Sr. Basil. Propôs serviço em uma fábrica de confeitos em Lodz. Perguntou o quanto eu queria ganhar. Respondi "Mil dólares". Ele respondeu que exatamente isto poderia ganhar, e até mais. Disse, que antes deveria ir ver meu tio em Varsóvia e depois poderíamos nos encontrar (Este não é meu tio legítimo, em seu tempo meu pai correspondia-se com ele. eles são amigos há muitos anos). Quando lhe contei sobre este trabalho, ele suspeitou de algo. Mas eu fui assim mesmo. Quando arrumava-me para viagem, meus documentos caíram da bolsa. Assim eles ficaram na casa do tio...

No trem eu conheci um casal, que me convidou para uma visita (moravam em Lódz). Meu telefone estava descarregado e aquele homem anotou o seu... na minha mão. Na estação de trem em Lodz recarreguei meu telefone. O Sr. Basil ligou e disse para onde eu deveria ir. Ele veio num ônibus e me levou. Havia outras mulheres. Nos trouxeram para fábrica, lá havia um hotel. Atrás de nós o portão fechou...

Quando o carro andou, pareceu-me que andávamos em círculo. Então eles "pularam" na pista e entraram neste prédio. Durante o registro pediram o passaporte. Eu respondi que esqueci os documentos em casa, no dia seguinte os traria. Então ouvi: "Você não poderá sair daqui". "Como?" - fiquei surpresa. "Você vai trabalhar aqui enquanto precisarmos de você" - ouvi em resposta. Pegaram o telefone e outras coisas. "Troque de roupa, o dia de trabalho começa em uma hora", - ouvi. Na oficina já trabalhavam 50 mulheres. Em seus olhos vi desesperança. Pareciam cansadas. Depois do trabalho fui levada para uma sala de 40 metros quadrados, onde dormiam 18 pessoas. Algumas no colchão, algumas no chão. Um chuveiro para 50 pessoas. Para entrar naquele banho, era preciso levantar duas horas antes, para ser primeira. Começávamos trabalhar às seis da manhã, terminando às dez-doze horas da noite.

- O que você fazia lá?
- Era uma confeitaria, lá assavam pães. Eu decidi fugir de quaisquer maneira. Até pela escotilha de ventilação. Depois do primeiro dia de trabalho, senti que as forças me abandonavam. No dia seguinte  tudo se repetiu. À noite - lavagem de enormes tinas... A proprietária era polonesa, coordenadores - ukrainianos. Eles cuidavam da disciplina. Vi como humilhavam pessoas. Mas eu não tinha paz devido ao empréstimo que devia devolver... Fiquei sabendo que as mulheres trabalhavam lá vários meses, mas nada recebiam. A mocinha que trabalhava lá por três meses, disse que seu salário era de dois mil zlotys, mas quando começavam descontar pela acomodação, pãozinho que alguém comeu, multas (em todos lugares havia câmeras, multas por quaisquer coisas), parecia que você ainda devia para eles. No terceiro dia, comecei rebelar as pessoas. Propus para à noite amarrar os guardas e fugir. Uma mulher ukrainiana me traiu... De manhã, diante de mim, com chicote, estava o chefe. Ameaçou cortar-me em pedaços, e que os cachorros me comeriam no mato. Depois chicoteou na espinha... fui levada para a chamada sala de castigo e disseram, que após cinco minutos deveria estar no trabalho.

Quando saí da sala do castigo, vi o carro que recolhia a produção da fábrica. Eu vestia calças, blusa e gorro branco. Ia chorando. O jovem perguntou: "Por que a senhora chora?" Compreendi, ele não era dessa fábrica, senão não perguntaria. E eu: "Vovozinha morreu". "E onde ela mora?" - pergunta o motorista. Eu disse "La". eu não sabia aonde estava. E ele: "Eu a levo, pegue suas coisas". Sentei no carro. Depois da minha punição, havia a indicação, que eu devia ser vigiada por todos os guardas. Quando todos cuidam de você, então ninguém cuida realmente...

Quando atravessávamos o portão, abaixei-me como se tivesse perdido um brinco (Na torre, atrás da fábrica, havia um guarda). O motorista me deixou nos arredores de Lodz. Vi uma avozinha e gritei: "Telefone!" A vovozinha assustou-se, pensou, talvez é alguma anormal, de chinelos brancos, mas o telefone emprestou. E eu lhes telefonei. O homem ordenou esconder-me entre os arbustos, ele viria me buscar. A primeira coisa que fiz foi tomar um banho. R foi um grande banho. Eles passaram pomada nas minhas costas, que estavam azuis. Queria ir à polícia... Mas ao abrir o "Facebook", vi uma mensagem do intermediário que me enganou: "Cadela, se for à polícia, eu corto em pedaços todos os seus filhos, eu sei onde eles moram." Eu me assustei. Eu tentei esquecer esta história como um sonho terrível...

O casal de Lodz comprou para Ulyana um telefone novo, roupas. Mesmo às suas próprias custas fizeram-lhe, no cabeleireiro, uma máscara de queratina para renovação do cabelo. Na fábrica, para que as normas sanitárias não causassem suspeitas puseram clorada no ambiente, diretamente, durante o dia de trabalho. Ulyana não sabia isto, ao tirar o gorro, seu cabelo começou cair.

Ulyana decidiu ir para Varsóvia. Lá existem mais oportunidades para encontrar um bom emprego. Mas não queria ir à casa de seu tio, para não perturbá-lo com sua triste história (ele já sofreu ataque cardíaco). Na estação a ukrainiana conheceu o dono do albergue, Andrzej, que lhe ofereceu alojamento. Descobriu-se ser uma pessoa decente.

- No jornal vi um anúncio, que era necessária uma pessoa na recepção, - continua Ulyana Vorobets. - Eu conheço o idioma. Vou na entrevista. Rapidamente percebi, que isso não era um hotel, mas... um bordel! Eu me fechei na toalete, chamo Andrzej, para que ele me salve. Ele veio com a polícia e me levou. Depois caí numa doceria, onde adquiri... piolhos. Lá os gorros eram multi reutilizáveis.

- Quando você percebeu que ajudaria os trabalhadores?
- Diante dos olhos, constantemente emergiam as moças da padaria, que choravam pelas suas crianças quando iam dormir... Assim eu entrei na Sociedade de amigos da Ukraina de Verônica Marchuk. Certa vez contei minha história. Eles disseram que não podia deixar assim. Eu disse que não podia falar sobre isso, enquanto não trouxesse as crianças à Polônia. Certa vez Andrzej,  na casa do qual eu vivia, disse, que sonhava em abrir uma loja em um shopping em Varsóvia. No dia anterior eu li um artigo sobre como você pode entrar em um poço de dívidas, alugando uma sala nos centros comerciais. Os shoppings assinam acordos com donos de lojas, com letras pequenas, e se você quiser desistir do acordo, você deve pagar uma enorme quantia. (Na Ukraina, a propósito, fazem o mesmo). Eu queria ajudar Andrzej e decidi me encontrar com o autor desse artigo. Assim conheci meu atual diretor da empresa, Daniel. Eu queria ajudar Andrzej e me ajudei! Descobri que Daniel é o fundador de um site que funciona como um centro de emprego virtual. Com ajuda deste site, você pode encontrar um emprego na Polônia, sem intermediários e sem custos. Tornei-me administradora deste site. Comecei escrever artigos, reunir-me com empregadores. Os ukrainianos que foram enganados começaram a nos escrever.

Eu consegui colocar atrás das grades a pessoa que traficava seres humanos. Conseguimos reunir provas contra ela. Fazer uma provocação jornalística era arriscado. Nós começamos trabalhar com os serviços relevantes. Eu ia às empresas onde havia algo ilegal. Depois essas empresas fecharam. O único setor, que é difícil lidar - empresas de transporte que ocupam-se com especulações. Houve um caso: o rapaz foi excluído da Alemanha sem dinheiro, porque se recusou viajar além do indicado pela lei. Na União européia as multas são enormes pela violação da lei. O rapaz perguntou, quem pagaria a multa, o empregador disse: "Se pegarem, então você. Portanto vá, de modo a não ser pego."

De que outras maneiras mentem aos ukrainianos na Polônia?
Exorto os ukrainianos a não procurarem emprego nos "Vkontakte"
(Na Ukraina esta rede social já foi encerrada, mas na Polônia os ukrainianos não se desligam dela). No "Facebook" também tem fraudadores, mas lá os especialistas podem determinar o endereço do qual o anúncio foi enviado. "VKontakte" tudo é criptografado. Houve situações quanto aos cuidados para pessoas doentes e idosas. Pessoas que cuidam dos doentes, não tinham nenhum documento. Acontece, às vezes, que mandam embora e não pagam pelo trabalho. Peço aos ukrainianos que trabalhem legal ou ilegalmente, fornecer pequenos vídeos do local de trabalho, sobre as condições de trabalho. Há muitas casos ganhos no tribunal, quando há, pelo menos, uma evidência. Mesmo se a pessoa trabalhava ilegalmente.

- Será que ainda há muitos golpes assim?
- Há o suficiente. O mais perigoso - é a estação Ferroviária Ocidental em Varsóvia. Lá vem muitos ônibus e trens da Ukraina. Na estação há de tudo: cafetões, prostitutas, intermediários, alcoólicos, drogados. Lá eu conheci uma ukrainiana, que passou seis dias e noites nessa estação e não conseguiu encontrar um emprego. Nós a ajudamos. Ukrainianos, quando vão à Polônia, costumam pegar um ingresso, de ida. Não têm consigo nenhum dinheiro. Se já viajaram, emprestaram da comadre-irmã, não querem voltar, porque dirão o quê? a partir de janeiro de 2018, na Polônia, está em vigor a nova lei. O empregador, durante sete dias deve informar os serviços relevantes: o ukrainiano veio ou não veio. Agora ir à Polônia com um convite compreendo, é quase irreal. O empregador assinará que a pessoa não existe, mas a fronteira ela cruzou. A pessoa, automaticamente, se encontra em busca. Eu conheci um ukrainiano de 48 anos. Pelos olhos percebi que estava assustado.  Estremecia até por causa de um telefonema. Contou que trabalhava numa empresa de derivados da carne, onde uma mulher foi arrastada, pelo cadarço, ao interior da máquina e cortada como uma galinha para recheio. O patrão ordenou a todos para permanecer em silêncio, e dispensou a todos. As pessoas fugiram. Eu telefonei aos órgãos competentes. Ninguém sabia nada sobre isso. e, quando as autoridades investigaram este caso, a família da falecida (ela criava três filhos) recebeu compensação.

Os ukrainianos não entendem, completamente, os riscos. Há pouca informação na Ukraina. Os ukrainianos vêem a Polônia em cores. Ninguém sabe sobre o direito dos ukrainianos na Polônia, onde podem pedir ajuda. A maior ameaça na Polônia são os ukrainianos. Até no bordel as ukrainianas vendem ukrainianas. Nós tivemos casos assim. Houve o caso da Ukrainiana, que trabalhava no McDonald's. Um garoto se agarrou a ela, dizendo que procurava trabalhadores. Recusou-se (ela tinha um emprego legal).  Então ele começou namorá-la. Trazia flores. Levava-a para casa de carro. No final a garota se apaixonou por ele e foi viver junto a ele. E, logo ele volta triste, diz ter problemas na empresa. "Amada, ajude. Virá um tal italiano, ao qual eu devo dinheiro. Ele gostou de você, nas fotos. Se você dormir com ele, a dívida será cancelada. Vem o italiano. Ela não entende nada de italiano mas faz tudo o que ele quer. Dois dias depois: "Amanda, você é super. Mas amanhã vem um francês. Eu perco minha casa, nós ficaremos na rua." Assim a moça tornou-se prostituta internacional... Quando ela foi deportada ela gritava, que amava aquele rapaz. E ele apenas ria.

Os homens costumam ir para as empresas de construção. Lá eles também são enganados?
Dois homens me disseram que trabalhavam em uma construtora (sem documentos, ilegalmente). O contratado recebeu dinheiro e não pagou aos dois. eles eram, ao todo doze pessoas. E, sozinho foi às Canárias. Não pagou nem a acomodação. Ukrainianos ficaram sem nada. Nós os alimentamos. Ajudamos encontrar trabalho. Mas não conseguimos encontrar, até agora, aquele polonês. que os enganou. O endereço de sua empresa é uma choça.

- Dê alguns conselhos aos ukrainianos
- Não compre documentos! Especialmente convites. Se você tem um passaporte biométrico, vá e veja em que condições você trabalhará. Sozinho pegue o convite. Evite intermediários. A taxa mínima na Polônia - 10,5 zl por hora (de acordo com a lei). Há vagas até 14 zl por hora (particularmente nas construções).
Trabalhe legalmente! Se uma pessoa trabalha ilegalmente, ela pode não ser paga. Muitas vezes, as pessoas vão para o exterior sem o conhecimento básico da língua.

Os ukrainianos têm o direito de exigir um contrato de emprego nos dois idiomas, polaco e ukrainiano. e nunca assine uma folha em branco - não complique sua vida.

Tradução: O. Kowaltschuk














































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