quinta-feira, 17 de maio de 2018

Caranguejo com arco.
Tyzhden (Semana) 13.05.2018
Roman Malko


Durante o segundo ferimento seu corpo levou mais de 25 fragmentos, alguns ainda presentes. Os médicos de Dnipró os "pescavam" a noite toda... Primeiro da cabeça, depois da perna. Depois transplante de pele e longa reabilitação. Apesar de tudo, ele afirma, com muita seriedade, que depois do ferimento está em melhores condições (mais bonito que anteriormente e, parece, que não finge).
No ano passado, de Invictus Games, em Toronto, o soldado do 5º batalhão separado, do Exército Voluntário Ukrainiano, Valery Rak, apelido "Caranguejo", trouxe prata para Ukraina, do tiro com arco, participando de uma equipe de iniciantes. A equipe ukrainiana participou, pela primeira vez dos jogos, que foram fundados sob o patrocínio do príncipe britânico Harry.

Valery nasceu na terra Haydamaky, na antiga vila Velyka Sevast'yanivka, na região de Cherkassy. Cresceu próximo de um aeródromo militar e, como muitos garotos sonhava em ser militar, pára-quedista ou piloto. Os aviões pousavam a 500 m de sua casa. Quando olhava do sótão, via o número do avião e o rosto do piloto. Precisou desistir da pilotagem porque, na infância ficou doente (Não consegui traduzir o nome da doença-OK), e não conseguiria suportar a carga. Entrou na faculdade de aviação no Zaporozhye para aprender a construir os motores de aviões. Depois foi servir na milícia. Diz, estava pronto para lutar com o gangsterismo. "Vim à chefia da polícia e lhes disse: "Estou pronto para servir..." Mas,, depois de conhecer o sistema, decidi que não ficaria por muito tempo. A milícia ainda era soviética, mas os tempos mudaram. Havia laços com bandidos. "Poderia ter ficado, mas percebi que não estava pronto para tal convivência. Ficando lá, poderia ser um homem normal? É difícil, talvez impossível. Quem quis sair de lá, na maior parte conseguiu."

Então, novamente o exército, três anos sob contrato. Ele diz, que naquela época, julgando pelo equipamento, havia mais capacidade de luta. Muitos equipamentos, uniformes. Soviético não havia" Imagine, quantos anos roubavam? No distrito de Khrystynivsky há uma das poucas, grandes bases, com grandes estoques de munição. Meus amigos trabalhavam lá. Diziam, que de lá, retiravam para descarte ou venda. Constantemente. "Imaginem" E nós, agora, dos países do antigo campo soviético compramos munição soviética, a qual não temos, porque a destruímos. 

Quando a primeira vez a brigada veio para Changar, os soldados estavam nus e descalços, nas tendas esburacadas. Ou seja, do exército quase roubaram tudo e assim nós começamos guerrear. A nós, ingênuos e confiáveis, para isto prepararam."

Depois do término do contrato, trabalhei em Uman, numa fábrica de conservas, na fábrica de móveis, depois na Rússia salgava peixe.

"Então, nós ukrainianos, eramos bem perseguidos nas estações, mas a mim não importunavam, porque eu tenho um pouco de aparência oriental. Depois fui a Kyiv. Os conterrâneos ajudaram com serviço, aprendi a colocar condicionadores, fui taxista. 
Ele diz que ouviu, em algum lugar: para encontrar-se na vida, é preciso passar por 16 profissões, então não fico triste.

- Antes da Revolução da Dignidade, Valery não pertencia a nenhuma organização, mas era politicamente ativo, participou do Maidan. E, até o último momento não acreditou que Yanukovych assinaria acordo com a União européia.  Então, quando começou a revolução, já estava ideologicamente preparado. Compreendia que sozinho nada faria, então era preciso ir lá aonde as pessoas se reuniam. A maioria de seus amigos atuais é do Maidan e da frente. Diz que, durante esses quatro anos encontrou a maior parte de pessoas que, agora, são seus amigos.

No começo não se juntava a nenhum grupo. Depois inscreveu-se para o grupo quarto-cossaco. Sempre fui atraído pelo exército. Então comprei colete de armadura, capacete, uma lamina de sapador e uma máscara de gás. Quando tudo começou, tinha até munição. Já então eu compreendia que haverá algo com a Rússia.  Apesar de ter ilusão que ela não interferiria. Eu dizia: "Acreditem, a olimpíada terminará e eles virão ocupar-se conosco". Eu tinha certeza que o moscovita não nos deixaria.

No Maidan eu ia principalmente à noite. De dia entregava mercadoria. De dia, no Maidan havia muita gente, à noite podiam surgir problemas. "No no dia 18 de fevereiro vim ao Maidan na hora em que queimavam o BTR. Houve terríveis engarrafamentos, pararam o metrô. Eu mal cheguei,  vem o centurião e diz que na rua Instytutskaia faltam pessoas, precisavam mais voluntários. Os carros vinham sobre nós, nos afogavam. Nós jogávamos pedras com coquetéis. Eu nem sei como conseguimos vencer. Isto durou quatro horas...

Assim que começou a anexação da Criméia, eu compreendi, isto é guerra. Fui ao meu comitê militar, apresentei os documentos. Nós nos reunimos com uma centena de pessoas e decidimos as próximas ações. Uma parte queria guerrear, outra temia que poderia ser abandonada, e que o governo deveria ser controlado. Eu queria guerrear e comecei procurar aonde ir. Haveria treinos na Ukraina Ocidental. Quase entrei na Guarda Nacional mas, de repente, um amigo telefonou e disse que iríamos para "Aidar", dentro de duas semanas.

Ao "Aidar" Krab não chegou, foi parar na base do "Setor direito". Após um mês de treino foi enviado para Piske. Foi para casa e atrasou-se um dia, não foi ao aeroporto (Na zona do aeroporto houve grande disputa, os ukrainianos perderam - OK). Continuou em Piske, tornou-se artilheiro.  
Apareceu a primeira "Rapira". Atirar com ela ninguém sabia, então começaram estudá-la na Internet. Eu compreendi que precisávamos ser capazes de trabalhar com todos os instrumentos. Logo recebemos mais dois canhões. Apoiávamos os nossos no aeroporto. (O aeroporto era uma bela construção. Aí desenvolveram-se grandes batalhas. Infelizmente os ukrainianos perderam, o aeroporto foi destruído. Era uma bela construção.Agora só ficaram com o velho -OK).

O primeiro ferimento recebi em Piskê. Os médicos me levaram, fizeram o tratamento mas, depois de três dias a perna começou inchar. Os médicos voluntários levaram-me para Selidov, lá queriam retirar um fragmento. O pequeno buraco ficou enorme, mas nada encontraram. Bem, o seu PTCR (Transtorno de Estresse Pós Traumático) Krab encontrou antes do 2º ferimento. Tendo passado quatro meses em Avdiivka, foi para rotação, e começou..." A cabeça está atrapalhada. Depressão. Você quer assistir TV para descobrir o que acontece na frente, isto é como uma droga. Você não consegue olhar, mas olha - e entende, que lá não há nada, você preocupa-se, não dorme à noite, os pensamentos são bobos. O que fazer em seguida. Plano não há. Você não se interessa com nada. Em casa não consegue ficar, absolutamente irritante. A esposa me compreende, ela é psicóloga. Mesmo com humor suicida, eu entendi que tais pensamentos eram estúpidos, mas eles existiram. Meu amigo aconselhava: Nunca pense sobre isto. Se você morrer, então só pode acontecer na luta com o inimigo. Mas, agora eu entendo, porque as pessoas explodem-se. Quando tais pensamentos aproximam-se, elas não conseguem lidar com eles, e, se possuem armas... Embora tudo isso pode e deve ser superado.  Através do trabalho, alguma ocupação, comunicação com amigos...

Nesse estado passei o verão inteiro e, finalmente compreendi que sozinho não venceria. Fui até a base, as conversas com amigos ajudaram um pouco. Além disso os amigos-irmãos pediram para ensinar-lhes o uso do AGS (arma), e eu fiquei contente, porque precisava ir para a frente, para Avdiivka. A noite senti mais clareza: "Eu sei, o que fazer, para onde ir." Mas, pela manhã tudo escureceu. Feriram Valery perto de Avdiivka, durante execução de sua tarefa. Precisava ter ocupado nossas posições e atacar.

Interessei-me, de antemão enviei meus dados, mas eles não chegaram. A seleção já houve. Quando soube isto, telefonei diretamente aos organizadores, entrei na seleção adicional e passei. Preocupei-me muito porque não estava fisicamente pronto, porque vim do hospital para o centro de reabilitação. Quando saí, podia andar apoiando-me numa bengala, mas o treino diário e aprimoramento do tiro com arco fez a sua parte. "Eu desejava me experimentar. Não tendo as oportunidades de uma pessoa saudável, quis atravessar a fronteira (minha lesão)", e cruzei. Por um desempenho bem sucedido em Toronto, já na Ukraina, Krab recebeu a medalha: "Por Mérito" de terceiro grau. E, literalmente, a pouco tempo mais uma - "Pela defesa de Avdiivka."

Para mim a guerra não acabou, - diz ele, - porque ela não acabou em princípio. É necessário continuar a luta, talvez de maneira diferente, na mesma condição não esperar sentado." Afinal, planos há muitos: aprender a sabedoria da inteligência aérea, tornar-se instrutor. A propósito, os amigos fraternos já convidaram, mas devido às possibilidades físicas, por enquanto recusei. Tenho certeza: o instrutor deve ser, se não o melhor, pelo menos no nível daqueles que ensina. O importante é o exemplo: faça como eu ou melhor. Recentemente inscrevi-me no torneio de futebol, dos veteranos. "Copa dos não subjugados", e jogarei pelo time de Cherkasy. Também participarei, em minha aldeia, do grupo de arco e flecha. 

Permiti, às crianças, atirar do recebido no Canadá, arco e mais de duas dúzias de estudantes interessaram-se e querem treinar. Por enquanto, nesta aldeia não há possibilidade, mas acertamos que as crianças serão levadas além de 20 km, para Khrystynivka, onde há um bom treinador. Apenas surgiu um problema: na aldeia não há ônibus escolar, com licença e outras exigências. A aldeia não tem condições para comprar o próprio transporte.  Com outro tipo de transporte é proibido.

Depois de voltar do Canadá, Krab decidiu dar mais um passo importante. Ele se matriculou na NaUKMA  (National University of Kyiv - Mohyla Academy) para um programa de mestrado educacional gratuito para veteranos. "Gerência Pública e Administração". Agora, obedientemente vai às aulas e estuda. Diz que, realmente, dão um bom conhecimento. Bem, no tempo livre de muitos afazeres continua atirar do arco. Ele quer, juntar à prata, conseguida no Canadá, acrescentar mais uma conquista, talvez de outra categoria. Isto é real. Neste tipo de esporte não há barreiras de idade, apenas é necessário ocupar-se. Bem, é simplesmente necessário manter-se em forma.  "Guerreiro lento - guerreiro morto" . Quando algo começar, precisa estar pronto. Agora não há ações ativas na frente, mas é uma questão de tempo. Elas, cedo ou tarde devem voltar (É raro o dia em que não matam de 1 a 3 ukrainianos, ou russos, segundo os jornais - OK)..

"Guerreiro lento - guerreiro morto. Quando algo começar, precisa estar pronto. Hoje, na frente, não há ações ativas, mas é questão de tempo. Eles, cedo ou tarde, devem acontecer, porque precisamos libertar nossa terra, e diplomaticamente eu não acredito. Concordar com o inimigo é uma derrota. Paz com Rússia levará à destruição da Ukraina, nova russificação, fomes e acampamentos.".

Tradução: O. Kowaltschuk

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