domingo, 30 de julho de 2017

Serviço nos interesses do Kremlin. Um grande grupo de especialistas impõe rendição a Ukraina.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 23.07.2017
Igor Losev (Ігор Лосєв).

Inúmeras aparições na mídia ukrainiana de um grande grupo de cientistas e analistas demonstram, recentemente, uma certa tendência comum. É uma imposição constante aos ukrainianos sobre a impossibilidade de vitória sobre o agressor, devido a circunstâncias "objetivas", por causa de recursos superiores e superior potencial militar-econômico da Rússia. Claro, alguns poucos oradores da base e centro de pesquisa formulam sua posição clara e inequivocamente, tudo se resume às dicas no estilo de "bem, o senhor entende..."

Estas considerações gerais tornam-se suporte para posição política derrotista, que empurra a sociedade ukrainiana à aceitação do plano de Putin, que está associado com o estabelecimento, de um ou outro modo, ao controle geopolítico do Kremlin sobre Ukraina.

Nestas afirmações há, alguns, erros fundamentais. Primeiro, se tudo se decidisse potencialmente, guerra no mundo 
não haveria: os países comparariam seu potencial, e o lado mais fraco declararia sua derrota. No entanto, na realidade, tudo é diferente...

Os recursos são uma possibilidade objetiva, mas não são garantia de sua utilização otimizada. No mundo há muitos países pobres com enormes recursos, que são chamados "pedintes em trono de ouro". Recursos determinam muito, mas não tudo. Toda história militar da humanidade mostra, que com muita frequência o sucesso das questões é alcançado não com o número de tropas e armas, mas com a capacidade dos chefes militares, treinamento e coragem dos soldados. Na verdade, o enredo da antiga história judaica sobre a luta de David contra Golias não é, de modo algum, acidental. Seu significado é que a parte mais fraca sempre tem chance e que você deve usá-la. Há exemplo, mais próximo de nós, no tempo. Em 1939-1940, o país Suomi (Finlândia) não se rendeu perante o exército da União Soviética, que quantitativamente ultrapassava toda a população das vítimas de agressão. Mas podia capitular, como as vizinhas Estônia, Letônia e Lituânia no mesmo período...

Pode-se recordar a situação da URSS no Afeganistão, onde os potenciais não eram, em geral, comparáveis. Há muitos outros exemplos convincentes.

No entanto, dezenas de analistas oficiais e não muito politólogos, em muitos canais da TV, estações de rádio, nas páginas de jornais, constante e incansavelmente repetem: Ukraina não pode, Ukraina não tem recursos, Ukraina não é capaz, etc. Há um planejado  "jogo para rebaixamento", quando até não as maiores condições humilhantes seriam recebidas como vitória. Claro, isto com certa medida caracteriza a situação no espaço da mídia ukrainiana.

Como escreveu a jornalista Natália Ishchenko: "Pode-se, certamente, recordar neste contexto a posição colaboracionista e anti-patriótica de uma parte substancial da chamada media comunidade da Ukraina. Mas, se tal posição não se mantivesse em um nível estatal alto, este absolutamente destrutivo movimento ao país não se sentiria tão forte e confiante.

Reflexo da incapacidade governamental?

Enquanto isso no espaço midiático ouvem-se infinitos mantras sobre acordos de Minsk, sobre total impossibilidade de libertação dos territórios ocupados. Lenta e silenciosamente forma-se o complexo de inferioridade militar-político da nação ukrainiana.

A solução armada do problema da proteção da Ukraina, de agressão e ocupação, realmente é mais difícil por causa da presença ineficiente, sobrecarregada, com relações corruptivas. Sobre que efetividade podemos falar, se durante os combates, na capital da Ukraina capturam empresas com armas para defesa, que lá se encontram? Se, na mesma capital, impunemente, cometem-se atos terroristas?

No entanto, se hoje brilhantes e talentosos líderes, talentosos dirigentes e comandantes, não tem possibilidade de ações diretas, mas eles podem surgir no futuro próximo, se o derrotismo não impedir o seu surgimento. E há, ainda, a estratégia de ações indiretas, as quais muito valorizou e era seu mestre, em seu tempo, Winston Churchill.

Particularmente, mesmo sem uma colisão frontal, a transformação da Ukraina em um poderoso estado militar atuará como um fator significativo de pressão sobre o agressor. Como, aliás, uma mobilização real do país, em todas as esferas de sua vida à principal tarefa: a restauração da plena soberania e integridade territorial. Algo se faz, mas com muita lentidão, lembremos, por exemplo, como o governo demorou passar do inadequado conceito ATO para o reconhecimento da guerra somente no quarto ano da guerra em si... Finalmente aumentaram o número de membros das forças armadas, mas 250 mil militares - é bom para o tempo de paz do estado, que não está incluído nas alianças político-militares, mas não durante a guerra contra o inimigo como a Rússia.

As autoridades declaram constantemente suas realizações de destaque no setor da defesa, dizendo que, em 2014 não tínhamos nenhum exército, e agora nós criamos um muito poderoso: Mas o ex-ministro da Defesa, general Kuzmuk à pergunta direta:  "Hoje, o exército ukrainiano está pronto para o combate", - respondeu: "Para isso, precisamos trabalhar duro mais alguns anos, não só os militares, mas toda sociedade."

O que acontece na mídia e na vida real, é um reflexo da qualidade global do sistema ukrainiano, e da natureza de seu funcionamento prático: caos, jogos políticos, confrontos dos clãs ao invés de uma política responsável, infantilidade da parte dirigente, etc. Exemplo brilhante: transcorre a guerra - o Parlamento entrou em férias até 05 de setembro. Esta  é a mostra do nível de responsabilidade diante do país, compreensão da situação, patriotismo e honestidade, afinal profissionalismo político... Que férias pode haver durante a guerra? Com tal direção sonhar com vitórias não é possível, apenas que a instituição não piore, até que surja uma nova geração de líderes...

O que em continuação?

Primeiro, o governo, se ele não quer ser varrido pelos acontecimentos, deve finalmente sintonizar-se, sozinho, numa luta real pelo país e organizar o país, não enganar a si e aos outros com mitos sobre a possibilidade de entendimento com o agressor. Não precisa criar ídolos de incertas cimeiras e formatos. Aqui os dias nos falam, que sem os Acordos de Minsk (quem com quem?), nós perdemos a benevolência dos parceiros ocidentais. No entanto, o secretário dos Estados Unidos da América Rex Tillerson, e o presidente dos EUA, Donald Trump já declararam, que não haverá nenhuma objeção, se encontrado um caminho para solução de todos os problemas conhecidos, além de Minsk...

No entanto, constantes mantras na TV, sobre insubstituível processo de Minsk, declarações sobre impossibilidade de defesa armada da Ukraina inspiram suspeita, que o governo precisa mostrar: Ukraina é tão fraca, que quaisquer, um pouco acertado passe de seus dirigentes deve ser recebido como um triunfo. Portanto, dizem eles, as exigências da comunidade ao governo, devem ser minimas. Infelizmente, parece que as autoridades, em princípio, não estão prontas à luta e tentam fazer com que a sociedade também torne-se despreparada. Daí, todas estas sessões diárias de estórias sobre a fraqueza da Ukraina em comparação com o agressor, o que é um absoluto disparate para propaganda militar de qualquer país com uma liderança patriótica elementar.

Portanto, não há razões "para jogar pelo rebaixamento": Ukraina, objetivamente muito pode, e poderá ainda mais.

Igor Losev - PhD, Professor Associado de Estudos Culturais e docente da cátedra de Culturalismo de NaUKMA (Universidade Nacional "Kyiv-Mohyla Academy).

Tradução: O. Kowaltschuk

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