quarta-feira, 19 de abril de 2017

Imitador da soberania. Como preparava-se o terreno para a ocupação russa da Criméia.
Hoje a cidade ukrainiana, gradualmente sai do choque após os acontecimentos de 2014, gradualmente os analisa e tenta tirar conclusões.
Tyzhden. ua (Semana ukrainiana), 28.02.2017
Igor Losev


Como preparava-se o terreno para ocupação russa da Crimeia.









O autor deste texto pessoalmente assistiu tudo, o que levou ao triste final, muitas vezes sendo não apenas um expectador, mas um participante do que aconteceu em Sevastopol e Criméia durante, pelo menos, 21 anos: regularmente visitava sua cidade natal, trabalhava na "Prosvita" (instrução), como membro honorário, que ainda é. Publicava-se no jornal "Frota da Ukraina" (órgão do Ministério da Defesa, publicado em Sevastopol) e foi seu observador político, regularmente apresentava-se nos canais da TV e estações de rádio local. E, ainda participou de inúmeras conferências e debates... Então, as informações recebia, não de estranhos e não somente da mídia.
Outra coisa, que por ter facilidade de obter informações às vezes precisava pagar pelas vidraças estilhaçadas da moradia em Sevastopol e outros problemas desagradáveis. Durante todos estes anos, em mim formou-se uma profunda convicção de que a Federação Russa, inevitavelmente, atacará Ukraina e, começará a partir da Criméia. A questão era somente quando e se poderá Ukraina dar uma resposta adequada. 

"Plano de Gorbachev"

Os propagandistas russos, mesmo agora argumentam, que a intervenção da Federação Russa na Criméia em 2014 foi uma reação espontânea ao Maidan, com a finalidade de proteger os russos étnicos e os falantes do idioma russo. Na verdade, essas ações foram cuidadosamente preparadas por muitos anos e em todas as direções. O ano 2014 tornou-se apenas o último acorde da longa "sinfonia". Tudo começou nem mesmo com a proclamação da independência da Ukraina, mas em janeiro-fevereiro de 1991, quando na Criméia começaram executar o "plano de Gorbachev" para salvar a União Soviética. Sua essência consistia em que, para o colapso da União Soviética responder com colapso, isto é, desintegração das repúblicas soviéticas. Para isso Moscou começou, ativamente, aproveitar contra elas o separatismo de suas próprias repúblicas autônomas. Na Georgia seria Abkhasia, Ossetia do Sul, no Azerbaijão - Nagorno Karabakh. Em Moldávia não havia autonomias, então começaram a lhe preparar na Criméia como ação preventiva contra Ukraina e tártaros crimeanos, que naquele momento começaram regressar em massa para sua pátria. Poder-se-ia não permitir essa entidade se o então presidente da Verkhovna Rada da República Socialista Soviética da Ukraina Leonid Kravchuk demonstra-se tão incomuns a ele características, como decisão e firmeza de princípios. O referendo local sobre a autonomia simplesmente podia-se não permitir, explicando a Moscou, que isto poderia levar a distúrbios na URSS (República Socialista Soviética da Ukraina) e ao referendo sobre saída da Ukraina da URSS.  Como isto se faz, então já haviam demonstrado Lituânia e Geórgia. No entanto Kravchuk comportou-se como Kravchuk... Este foi um dos primeiros erros de sua enorme corrente...
Então na Criméia havia muita dependência do status da -possessão da frota soviética do Mar Negro. A luta por ela, de fato, era luta pela Criméia, Sevastopol e influência no sul da Ukraina. Como dizia o geopolítico ukrainiano Yuri Lypa, quem domina Sevastopol, domina Criméia, quem domina Criméia, domina o Mar Negro. Mas Sevastopol domina aquele, que possui a frota... Kravchuk perdeu a batalha pela frota, Kuchma nem tentou lutar. A frota do Mar Negro, apropriada pela Rússia, tornou-se a faca nas costas da Ukraina e uma forma geopolítica para ela. Como escreveram na publicação pró-russa na edição crimeana: "A frota  do Mar Negro - é uma natural limitação à soberania da Ukraina".
A propósito, a autonomia da Criméia desde o início era, em senso total, "autonomia armada", porque às suas costas havia a frota do Mar Negro, muitos oficiais, generais e almirantes tinham o status de deputados do parlamento da Criméia. E, em Sevastopol, no conselho da cidade, também havia muitos militares soviético-russos. A frota do Mar Negro era o principal sustentáculo contra as forças locais anti-ukrainianas. Como um grupo puramente militar ela não tinha importância especial, afinal a frota turca rapidamente ultrapassou-a pela potência, e o papel estratégico ela não pôde desempenhar, porque ainda no final do século XIX o Estado-Maior da Rússia indicou, que a Frota do Mar Negro teria valor estratégico apenas se o império alcançasse o domínio sobre os braços de Bósforo e Dardanelos.

Frota de Troia

No nível tático da Federação Russa diariamente avançava para profundidade da Ukraina, tentando conseguir vitória em cada colisão. Esta tática de pequenas, porém regulares vitórias, no total, dava efeitos significantes.

A presença desta frota na Ukraina tinha apenas um sentido: ameaçar, constantemente, o Estado ukrainiano e consolidar contra ele todos os círculos políticos locais. Isto foi uma poderosa base russa no interior do nosso país. Sem a Frota do Mar Negro na Criméia a agressão de 2014 teria pouca chance de sucesso.
Ao redor da frota, como cogumelos depois de uma chuva forte, apareciam afiliadas com ela inúmeras organizações sociais, culturais, juvenis, de mulheres, de veteranos, religiosas, esportivo-militares, etc. Eram unidas pela lealdade absoluta à Rússia e total rejeição à Ukraina. Em muitas ações anti-ukrainianas em Sevastopol, Simferopol, Yalta, Kerch, Feodósia, etc., estavam os "diretores e serviços especiais" da Frota do Mar Negro. A atividade anti-ukrainiana não cessava durante todos os 22 anos de controle da Ukraina independente, sobre Criméia, com resposta muito fraca de Kyiv. Às vezes até mesmo os chauvinistas russos surpreendiam-se com o silêncio de Kyiv...

Aos planos russos contribuiu muito uma autoridade politica de Kyiv oficial, em Sevastopol e Criméia. Por exemplo, em 1990  liderava em Sevastopol, da parte da Ukraina, um tal de senhor Semenov. Em sua propaganda pré-eleitoral e declarações públicas ele afirmava, que entre os marinheiros russos e ukrainianos havia "incompatibilidade biológica". Mas, deixar Sevastopol e Criméia, em sua opinião, deviam ser os marinheiros ukrainianos. Posteriormente, o senhor Semenov fez uma boa carreira em Kyiv...

O segundo "horodnychei" (No império russo, pessoa que se ocupava , no território da cidade, com funções administrativas e policiais - Dicionário ukrainiano) da Ukraina - um tal de Yermakov, que constantemente trocava as bandeiras, apresentando-se pela Ukraina, ou pela Rússia. Formando o governo local, Kyiv, cada vez mais dava preferências às pessoas cata-vento. As forças anti-ukrainianas da Criméia, com os governantes ukrainianos cada vez mais unia o medo do "nacionalismo burguês ukrainiano" (ou aqueles que se diziam ukrainianos). E, para equipes da Criméia o "nacionalismo burguês ukrainiano" - é o professor do idioma ukrainiano, é o membro da "Prosvita" (instrução, "Iluminismo") e qualquer simpatizante da Ukraina. (Prosvita - disseminação do conhecimento - como processo e atividade. O termo foi ampliado no século XIX e início do século XX, no início, na Galícia. Agora é considerado obsoleto; termo correto é "educação" - Dicionário ukrainiano - pesquisa OK). 
Suspeitos crimeanos em nacionalismo burguês ukrainiano Kyiv ignorava. A pessoa pró-ukrainiana não tinha muitas chances de uma carreira "no nacionalismo burguês ukrainiano. Mas na península corriam inteiros rebanhos de "honrados jornalistas da Ukraina, os quais pressionavam Ukraina o quanto pudessem. E hoje, na Criméia, ativamente cooperam com o novo governo, aproximadamente duas dezenas de "Heróis da Ukraina" do período dos presidentes Kuchma, Yushchenko, Yanukovych...
Tal política de pessoal, estúpida e suicida de Kyiv oficial, totalmente satisfazia Moscou. (E isto sempre existiu, basta ler Shevchenko - OK).

Dominação cultural

Kyiv não resistia à expansão educacional do Kremlin. Apenas em Sevastopol, para 370 mil habitantes, foram abertas 10 sucursais de universidades da FR. Em todas essas escolas ensinavam aos jovens locais (especialmente ciências sociais e políticas) segundo programas da FR. O prefeito de Moscou Yuri Luzhkov, pessoalmente, inaugurou em Sevastopol, uma escola para elite russa. E isto, apesar do fato, que o ensino em outras escolas da cidade, realizava-se no idioma russo. E, abrir lá, uma filial da Universidade de Moscou, em nome de Lomonsov, permitiu pessoalmente Leonid Kuchma (Presidente da Ukraina). Ao mesmo tempo, durante 22 anos, Kyiv não criou em Sevastopol, nenhuma (!) escola ukrainiana.

Todo este tempo, à Crimeia, constantemente vinham delegações culturais russas, políticas, educacionais, científicas, econômicas, outras. Uma saía, outra ocupava seu lugar. A península não "secava" de delegações. Entrava enorme quantidade de livros russos. E de Kyiv? A partir de Kyiv, zero. Por alguma razão, ninguém das colinas Pechersk, observando esta atividade vulcânica russa na Crimeia, não pensou: com que finalidade tudo isto se faz e como deve terminar?

A capital ukrainiana demonstrava completa indiferença aos ukrainianos crimeanos, que de fato, permaneciam na esquecida diáspora ukrainiana em algures da Argentina ou Brasil. Os governantes de Kyiv, nunca se encontraram com os ukrainianos ativos de Sevastopol, preferindo melhor comunicar-se com os designados por eles funcionários pró-Moscou. Houve apenas uma exceção, quando houve o encontro do funcionário da Administração Presidencial da Ukraina com os locais ukrainianos. Penso, apenas foi porque, aquele funcionário era o conhecido publicista ukrainiano, escritor e tradutor Taras Marusyk...

Os jornais de Sevastopol (todos eles tinham permissão para publicações, de autoridades da Ukraina) foram divididos em três categorias: patologicamente anti-ukrainianos, radicais anti-ukrainianos e moderadamente anti-ukrainianos. Eram duas - três dezenas para uma cidade relativamente pequena. Frequentemente eram distribuídos gratuitamente, apesar de uma impressão cara. Afinal, alguém financiava tudo isso. Alguns, abertamente, declaravam na primeira ou última página: "Impresso na editora da Frota do Mar Negro da FR"... Kyiv não percebia nada. Havia seis estações locais de TV, quatro deles anti-ukrainianos. Então o que derramava-se sobre as cabeças dos moradores de Sevastopol, de manhã à noite, durante 22 anos? Com completa não objeção das autoridades ukrainianas...

Eis, absolutamente jornal legalizado do período da permanência da Ukraina do grande patriota verbal da Ukraina, senhor Yushchenko. Fevereiro de 2006. Podem-se citar exemplares mais recentes ou anteriores, o repertório é permanente. Jornal "Russian Sevastopol". Artigo de um tal Evgeny Morozov "Criméia anexada". Ideia principal - Crimeia apossada pela Ukraina, nenhuns ukrainianos lá não há, isto é invenção austríaca. O autor afirma: "O enquadramento pela Ukraina, da Criméia e Sevastopol em sua gestão é, em primeiro caso dissimulado, e no segundo completamente flagrante anexação". E propõe ações concretas: "Rússia em conexão com a vontade da população da Criméia e Sevastopol deve restaurar sua soberania nestes territórios". Mas a conclusão geral é: "Desejamos a unificação de regiões russas e pró-russas da Ukraina, ou não desejamos isso, do mesmo modo nós, Rússia, devemos aprovar a decisão sobre seu destino e devemos estar prontos a isso. Acreditamos que o problema da Criméia e seu estudo durante 15 anos podem tornar-se um modelo para resolver um problema maior e mais sério - ukrainiano". Isto é para aqueles, que por algum motivo pensam, que Kremlin se sentirá satisfeito com a Criméia e Donbas...

O jornal "Escolha da Rússia": "Ukraina, como uma entidade territorial e política de fato não existe. Nós vivemos, pela inércia, em quaisquer formação que não tem indícios de Estado". 

O jornal "Bloquei russo de Sevastopol", artigo "Que história ensinam nas escolas ukrainianas?": "Que história ensinam nas escolas ukrainianas?":  "Resposta: ... Delírio,  russo-fobia, mentira descarada, horrorosa criação de fatos, falsificação direta".

Gazeta "Comunidade russa de Sevastopol": "Sim, agora estamos divididos pelas fronteiras, mas acreditamos, que virá o tempo - e o dividido povo russo novamente se reunirá em um único grande estado". E mais adiante: "Depois de 1991, muitas pessoas de Sevastopol acreditam, que vivem sob ocupação".

O jornal "Rusychy": "É exatamente a guerra (não a troca de palavras mordazes entre Moscou e Kyiv) é o objetivo final do Grande projeto anti-russo realizado pelo Ocidente na Ukraina. Exatamente para destruir uma parte de russos pelas mãos de outra parte, criava-se , e com preocupação cultivava-se um segundo mutante étnico - "nação ukrainiana. Propõe-se saída desta situação: Ukraina torna-se parte da Rússia: Isto é possível no caso de união, ao redor desta meta, de todos os russos, todas as pessoas de bom senso na Ukraina, sua participação ativa na vida política". Em seguida apelo direto, que deveria interessar ao SBU (Serviço de Segurança da Ukraina) e Procuradoria, mas, como sempre, não interessou:" "Saiam às ruas. Organizem a desobediência civil ao regime criminoso, que declarou guerra a toda nação".

Tudo isso foi escrito e impresso não na hoje ocupada Sevastopol, mas ainda naquela ukrainiana... E nenhuma reação do governo ukrainiano ou órgãos competentes. Então é de ficar admirado com o que aconteceu em 2014? Parece que hoje, conclusões adequadas daqueles eventos ainda não foram feitas.

Derrota em conformidade

E o que havia do lado ukrainiano? Um jornal mal financiado "Frota da Ukraina" do Ministério da Defesa e jornal do local "Iluminismo" (Prosvita) "Sino de Sevastopol", que editava-se com muita irregularidade por falta de fundos. Aliás, "Frota da Ukraina" os oponentes russos consideravam como um oponente sério e diziam ser "mais capacitado navio de guerra da frota ukrainiana". É simbólico que o jornal, apesar de que entre os jornalistas militares, não encontraram em 2014 nenhum traidor, destruíram. Fizeram isto não os russos, mas os nossos - águias de Poltorak", do Ministério da Defesa. Tal jornal mais não há... Rússia dinheiro não economizava, aos autores de artigos comuns pagava 100 dólares por uma publicação. Então para uma cidade provincial, era um bom pagamento.

O governo ukrainiano pouco se interessava pelas suas estruturas de força na Criméia, em contraste com os serviços especiais e propaganda russa. Mas, será que é só  na Criméia? Ainda no período de Yushchenko, um oficial de Sevastopol - do Serviço de Segurança da Ukraina, queixou-se para mim, que quando foi a Kyiv e visitou o escritório central do Serviço de Segurança da Ukraina, um funcionário encontrou-o, por brincadeira ou não, perguntou-lhe: "E vocês ainda não foram entregues à Rússia?"

Assim, em 2014, nas estruturas de força da Ukraina em Sevastopol e Criméia, houve traição em massa, mas ela aconteceu também na capital, quando a elite dirigente pós Maidan, de Kyiv, desmoralizou o agrupamento militar na península, privando-o de resistir, não dando-lhe ordens claras e conscientes, além do derrotista "não provocar os russos". Por exemplo, o ex-prefeito de Mariupol Michael Pozhyvanov publicamente culpou em traição e entrega da Criméia a Turchynov, Yatseniuk,  Pashenskyi, Avakov e Mahnitskyy. Mas isto já era o final de um longo caminho para derrota, porque toda política russa na Criméia, durante mais de 20 anos era uma expansão estratégica, e da Ukraina - um recuo estratégico. No nível tático a FR diariamente movia-se para a profundidade da Ukraina, esforçando-se para ganhar em cada colisão. Essa tática de pequenas, mas regulares histórias dava-lhe efeito significativo. Kyiv oficial, aquelas provas, na maioria, perdia e, frequentemente delas não participava. Rússia, passo a passo, com ausência de reação de Kyiv, aumentava sua presença na península: militar, política, informativa, econômica, conspiratória, cultural, educacional, qualquer outra. A quantidade devia passar para qualidade. No entanto, até o final Ukraina na Criméia tinha chances. Até agora tem. Mas é claro, não é com tal qualidade de governo, que poderá aproveitá-las.

Tradução: O. Kowaltschuk

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