sábado, 20 de outubro de 2018

Psiquiatria infantil inglesa surpreende-se: há uma epidemia de esquizofrenia na Ucrânia?
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 18.10.2018
Igor Gulic

Um conhecido psiquiatra e ativista de direitos humanos concedeu uma entrevista exclusiva ao Castelo Alto.

Семен Глузман


Cerca de 200 mil pacientes passam pelo hospital psiquiátrico na Ucrânia por um ano. "Isso é muito", diz Semyon Glusman, o conhecido psiquiatra e ativista de direitos humanos, ex-dissidente e preso político, presidente da Associação de Psiquiatras da Ucrânia. Mas ele também observa que não há epidemia de esquizofrenia em nosso país. Assim como não temos estatísticas precisas, quantas pessoas são realmente doentes mentais. Estas e outras teses Semyon Glusman, durante uma entrevista com o correspondente do VZ (Castelo Alto) durante uma estada em Lviv, destacou em uma entrevista exclusiva.

- Temos pessoas que sofrem de doenças tão graves como a esquizofrenia, depressão, outras, assim como no exterior. Acredita-se, que no mundo, uma pessoa em mil, em qualquer geração, sofre de esquizofrenia. Isto não depende de quem governa o país - ditador ou presidente democrático, como as pessoas dormem, como se alimentam.

É conhecido o exemplo histórico terrível. Hitler, como qualquer ditador, cercava-se com os melhores especialistas. E, o geneticista que lhe dava conselhos, disse que é necessário eliminar pessoas mentalmente doentes desde o nascimento. E eles foram mortos. Na verdade, nada ajudou. Tal situação é do Senhor Deus. De onde vem essa doença? Exatamente, nós não sabemos. Embora bilhões sejam gastos para explorá-lo. Mesma coisa com o autismo. O número de autistas cresce, e nós não sabemos porquê. Cientistas trabalham nesta questão - bioquímicos, genéticos, neurofisiologistas.  Mas - ainda ninguém recebeu o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta do problema. Se encontrado, alguém teria recebido. No entanto, isso não significa que nós, médicos, devemos abaixar nossas mãos. Não podemos tratar esses pacientes, como terapeutas - com antibióticos. Curaram - e para sempre.

Mas também existem características associadas à nossa cultura, antes com falta de cultura. Alcoolismo e toxicodependência. Eles existem em todos países, mas nós temos muitas pessoas. E daí, a AIDS. Temos um grande número de tuberculose, que, aliás, foi vencida no governo soviético. Por décadas eles lutaram e conseguiram minimizar. Quando eu era estudante, fomos levados a um hospital de Kyiv, para um hospital especializado em tuberculose, e mostravam uma pessoa com uma forma aberta de tuberculose. Foi algo especial. Agora há muios.

- Quais são as razões para esta situação?

- A razão é que agora vivemos mal, moramos no sujo. Vivemos sujo não apenas no sentido da sujeira, mas vivemos não-lucrativos, gastamos dinheiro no que não é preciso gastar.

- Muitos participantes de operações militares no leste estão voltando para casa e são diagnosticados com transtorno pós-traumático...

- Transtorno pós-traumático também acontecia antes. Mas tal diagnóstico realmente não colocavam, embora exista na classificação global. Agora a mito-ideologização deste diagnóstico está em andamento. Um dos principais especialistas, psiquiatra mundial da Grã-Bretanha, Simon Wesley , que  participou de todas as guerras da Grã-Bretanha nas últimas décadas, que é a autoridade mundial, argumenta que o verdadeiro número de estresse pós-traumático - é também um em mil, não mais. O guerreiro veio da guerra e tem depressão, porque viu, o qual mal, vive sua família, mas a esposa e mãe não o entendem. Porque ele se tornou diferente, mudou. Isto não é estresse pós-traumático, mas tal estado, reação à sociedade que não se interessa com ele, o qual derramou sangue, viu seus amigos morrerem. O mesmo acontecia após Afeganistão.

- Isto são, às vezes, distúrbios temporários. Simplesmente muitos de nossos psicólogos semi-analfabetos, que parasitam neste assunto, dizem que o guerreiro tem estresse pós-traumático, por isso ele bateu e matou. Mas o estresse pós-traumático não ocorre imediatamente após o retorno, mas depois de um certo tempo. Portanto, são necessários programas de treinamento, primeiramente dos psicólogos. São os psicólogos mais do que os médicos que devem lidar com esse diagnóstico. Além disso, nós não temos serviços sociais que devem ocupar-se com isto.

Certa vez, a convite de um dos canais de TV, eu participava várias vezes por semana, pela manhã. Eu falava o que acontecia em países normais, quando o marido ou o irmão retorna da frente. Isso era conhecido de antemão, ele retorna, ele não escapa. E já com antecedência o assistente social começa trabalhar com sua família. À esposa explicam, que o marido retorna, não como ele era quando foi. Não o torture se à noite, ele correr para seus antigos vizinhos da frente, porque lá eles criaram relações familiares. Dê umas palmadinhas no seu ombro e diga: "Sim, você tem o direito". Não o force a ir trabalhar no dia seguinte para procurar emprego, porque é preciso alimentar as crianças. Ele mudou, ele precisa voltar para você. A pessoa voltou - ela se afastou da família, da sociedade. Mas, para isso não precisa abrir sanatórios especiais para ex-veteranos. Isso é loucura. Eu já não falo sobre os custos gastos com isso. Este é o dinheiro do contribuinte ucraniano. O que está acontecendo? Os soldados são enviados ao sanatório, para iguais a ele. E eles bebem vodca, da manhã à noite. O estado deve se preparar para isso.

Serviços sociais existem, mas muito poucos. Este não é um problema de grande psiquiatria, é um problema de falta de participação social e psicológica. As pessoas sentir que retornaram ao seu próprio país, e não ao nosso país. Mas como eles podem sentir isso, se ele vem mas a mãe deve pagar pela eletricidade e outros serviços? Se ele não é necessário para ninguém? E alguns vizinhos ainda sussurram, "por que voltou, não precisava guerrear contra Putin". Há pessoas não apenas vilões, mas simplesmente tolas. Como o guerreiro pode ouvir tal coisa?

- O que você dirá sobre o suicídio infantil devido as redes sociais?

- Esta é outra história. As crianças não têm medo da morte. Elas acreditam que a vida é muito longa. Aqui eu não sou especialista, mas o que está acontecendo, - é influência. Portanto, quando uma menina com amiga, de mãos dadas, pulam do telhado, então pensa, que isto não é real, não seriamente.

- Isso pode ser considerado uma influência da internet?

- Provavelmente, internet também. Mas os suicídios existiam antes da internet.

- É possível acreditar em dados estatísticos, que frequentemente dizem, que temos cada quinta pessoa com doença mental?

- Não, não. Dizer isso, não é correto. Sim, temos muitos desvios. Por exemplo, alguém diz - durmo mal a noite. Isso é um desvio? E se me irrita uma criança ou uma mulher? Se eu tenho depressão? Mas minha depressão não se deve ao fato de ter  uma depressão clínica e precisar ser hospitalizado. Mas ao fato de que eu fiquei sem trabalho e não posso alimentar minha família. Então, o que - é necessário internar-me num hospital psiquiátrico? É necessário procurar trabalho.
- Cerca de dez 10 -15 anos atrás veio minha colega, psiquiatra infantil do Reino Unido e eu a levei para ver um dos nossos hospitais. O departamento infantil localizava-se em três andares. Ela observou apenas o primeiro andar e me perguntou: "Eu não entendo, aqui há - epidemia esquizofrênica?" Isto não é epidemia, é simplesmente Maria Ivanivna do internato infantil que telefona para Maria Stepanivna do departamento de psiquiatria e pede aceitar cinco crianças. Elas não precisam ficar hospitalizadas. . As crianças podem ter desvios, ser um pouco doentes. No entanto, isto não significa que elas devem estar no hospital. Será que temos remédios para demência? Claro, que não. Com essas crianças devem trabalhar corretores especiais, psicólogos, mas psiquiatras -minimamente. O psiquiatra, preferencialmente infantil, deve diagnosticar (precisamente, se possível) e prescrever o que é necessário. Em continuação trabalham outros especialistas. Assim é organizado no mundo civilizado. Mas manter as crianças num hospital psiquiátrico é um - pecado. Exceto casos individuais.

Cerca de 200 mil pacientes passam pelo hospital psiquiátrico na Ucrânia, por ano. Em um país normal, a maioria deles deve ser tratada em ambulatório. Nós não podemos curar a esquizofrenia, mas com a ajuda do tratamento moderno com bons medicamentos, podemos aliviar a condição. Mas não há dinheiro para medicamentos. Portanto tratam, principalmente, com os primitivos. As farmácias têm medicamentos modernos, mas nem todas as famílias podem comprá-los por causa do alto custo.

Tradução: O. Kowaltschuk



























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