sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Aldeia ucraniana: evolução ou extinção.
Ukrainskyi Tyzhden (Semana ucraniana), 17.09.2018
Maksim Vikhrov

Como as tendências pan-europeias mudam o campo ucraniano e o que fazer com isto.

A tese sobre o declínio das aldeias ucranianas é geral nas discussões públicas e, antes de cada eleição, os políticos prometem a sua renovação. O problema não pode ser visto como algo inventado. Nas zonas rurais vive, aproximadamente, um terço dos ucranianos, mas nos últimos 18 anos os camponeses diminuíram quase um quarto (de 16,9 milhões para 13 milhões - dados do governo). No entanto, a promessa de reviver a aldeia é, na verdade, simplesmente populismo. Dadas as tendências socioeconômicas, não há um programa de resgate realista para aldeia ucraniana: o despovoamento continuará, as aldeias continuarão desaparecendo, sua infraestrutura continuará decaindo. Mas, tudo isso não é apenas um problema da Ucrânia, é uma tendência pan-européia. Devido a fatores econômicos e tecnológicos profundos, não é capaz de detê-los qualquer governo nacional. No entanto, depende do segundo, quão dolorosas serão essas mudanças e quão grandes serão as perdas sociais.


O que é a aldeia ucraniana no sentido sócio-demográfico? Pouco mais da metade (50,3) dos camponeses vive em grandes aldeias, acima de 1000 pessoas, 17% - de 200 -499 habitantes e 6,4% em assentamentos ainda menos povoados (Instituto de Demografia e Pesquisa Social). É , justamente, devido a pequenas aldeias o seu número total diminui. A estatística oficial reflete esse processo não em escala total: de 1990 a 2018, apenas 426 assentos estatais desapareceram do mapa. No entanto, o verdadeiro número de aldeias "extintas" é muito maior: 2.014, 369 aldeias desertas simplesmente não foram removidas do registro estadual (Instituto de Demografia e Estudos Sociais da Academia de Ciências, 2017) . À beira da extinção ainda existem 4684 aldeias, aonde em 2015 viviam até 50 pessoas em cada uma. Ou seja, a longo prazo, por várias décadas, a estrutura de assentamentos na Ucrânia diminuirá em cerca de 17%. As mudanças mais notáveis serão em Sumy, Chernihiv e Kharkiv, onde as aldeias pouco povoadas obtém respectivamente 38,5, 32,5 e 30,5 da quantidade total. A razão principal para extinção das aldeias é demográfica. Em geral, a idade média da população rural e urbana é quase a mesma (40,5 e 40,7 anos respectivamente), mas nas áreas rurais, a situação é muito heterogênea: quanto menor a vila, ela é mais velha". Se em aldeias grandes (mais de um milhão de habitantes) os idosos compõem  uma média de 21%, então em pequenas (menos de 50 pessoas) - 38% (a zona rural ucraniana média - 21,6%). Também variam as taxas de mortalidade: se em grandes aldeias o número de mortos excede o número de nascimentos, em 1,9 vezes, então em pequenas - 8,3 vezes. Assim, aldeias, onde os pensionistas representam mais de 50% da população, os pesquisadores as classificam como em queda. E lá onde há mais de 65%, - como aqueles que morrem. Aos últimos incluem também as aldeias sem crianças (zero a 17 anos), e estas na Ucrânia são mais de 19%.

Mais um fator de despovoamento e "envelhecimento" das aldeias é a migração de mão de obra. Por exemplo, em 2001 além de suas fronteiras trabalhavam 25,6 camponeses, em 2014 - já re,9%. Destes últimos 66,9% trabalhavam nas cidades, 20% - fora de sua região, 12,7% - no exterior (Instituto de Demografia e Pesquisa Social, Academia Nacional de Ciências, 2017). Não deve ser explicado que essa migração é geralmente irreversível).

A saída das pessoas das áreas rurais estimula os problemas sócio-econômicos, que lá são exacerbados. Em geral, o nível de salários na agricultura é um dos mais baixos entre os ramos. De acordo com o Comitê Estadual de Estatística, em julho de 2018, o salário médio na agricultura foi de 7,5 mil UAH, enquanto na indústria - 9,8 mil UAH, no comércio - 9,t, etc. Além disso, a aldeia caracteriza-se por uma maior participação de trabalhadores não qualificados. Em 2.015, 38,7 eram empregados nas profissões mais elementares (para comparação: na cidade - 9,1%) enquanto especialistas e profissionais representavam apenas 17,1% (na cidade 35,5%). O nível de emprego informal também é alto. Estima-se, que em 2015 "na sombra" trabalhava 42,6% habitantes da aldeia (na cidade - 17,2%). O abastecimento da aldeia deve-se, principalmente, a pensões, vários pagamentos e recursos da propriedade, a renda em forma de salários, em média é de 34,4 do total (na cidade - 55,7%). Muitos aldeões não possuem empregados, em 2014 tais eram 46,2% (Instituto de Demografia e Estudos Sociais da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia).

As próprias fazendas (São áreas grandes? Não seriam sítios ou chácaras? - OK) não podem fornecer aos camponeses rendimentos decentes. Assim, em 2015, apenas 17,5% empregavam trabalhadores contratados, e a renda proveniente da venda total de produtos agrícolas representava apenas 11,5 da renda familiar total (Instituto de Demografia e Pesquisa Social da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia).

Teoricamente, ao invés do sistema coletivo o sustentáculo de economias de base local deveriam ser os granjeiros. No ano de 2.014, na agricultura da aldeia da Ucrânia, havia 52,5 objetos de economia (em média 1,7 por aldeia), entre os quais 71,3% eram próprios da agricultura. No entanto, o mercado do trabalho eles não reanimaram. Segundo a estatística de 2.014, entre a população ocupada com os trabalhos da fazenda, ocupavam-se pouco mais de 3%. Não reviveram a economia agrícola das aldeias nem graças as atuais técnicas que não necessitam tantos trabalhadores quanto as fazendas coletivas ou as economias agrícolas anteriores. Em acréscimo, na Ucrânia não há mercado da terra - principal recurso de aldeões. Então não é surpreendente que o nível de pobreza na aldeia seja maior do que na cidade. Assim, em 2013, este indicador (para um salário mínimo) na cidade foi de 11,8%, e nas áreas rurais - 28,9% (Instituto de Demografia e Pesquisa Social da Academia Nacional de Ciências).

A pobreza e o despovoamento implicam necessariamente em declínio na infra-estrutura do assentamento, para a qual não há recursos orçamentários, nem condições de mercado. Por exemplo, em 2.013, 61,8% das unidades agrícolas não tinham esgoto, em 45,7% dos assentamentos não havia instalações para serviços básicos (cabeleireiros, lavanderias, oficinas, lojas, etc) 41,8% não recebiam atendimento de ambulância, 28,5% - não possuíam instituições médicas próximas. Outros 24,4% das aldeias não tinham ligações diárias próximas. Outros 24,4% das aldeias não tinham ligações diárias de transporte com assentamentos mais desenvolvidos e, 23,5 dos assentamentos rurais não tinham superfície sólida nas estradas. Parte desses problemas pode ser atenuada graças à reforma do sistema de instituições médicas e educacionais, pela implantação de programas com orçamento estatal, etc. Contudo, nas condições de minguamento da rede de assentamentos rurais, será cada vez mais difícil manter e desenvolver sua infra-estrutura. É difícil imaginar, em que condições (e a que custo) em cada aldeia, que morre aos poucos,surgirá uma farmácia, uma loja, um cabeleireiro, um ônibus diário e outros atributos da civilização. É claro que a situação nas aldeias é heterogênea, mas é óbvio que uma parte significativa delas (pouco povoadas) está em uma situação difícil, que não tem solução.

Conclui-se que Ucrânia, como Estado, sofreu uma derrota histórica, não conseguindo salvar sua própria aldeia. Mas, na realidade, processos semelhantes ocorrem nas áreas rurais da UE. Lá também vive cerca de um terço da população da União Européia, e como na Ucrânia, o seu número diminui intensivamente. Segundo os cálculos dos demógrafos, em 2.050 a população da zona urbana européia aumentará em mais 24 milhões, enquanto os camponeses diminuirão quase 8 milhões (Eurostat).Na ucrânia, o declínio do campo está frequentemente associado ao colapso da URSS, mas 70% dos assentamentos rurais na UE foram despovoados no início dos anos sessenta. No final do século XX, o número de regiões em extinção diminuiu e estabilizou no nível de 40-45%, permanecendo o mesmo no início de 2010. Em deferentes países, esse processo é desigual. Se nos antigos membros da UE o despovoamento é de apenas 35% nas áreas rurais, então nos países que aderiram à União Européia desde 2004, esse número é de 60%. O maior despovoamento aconteceu nas aldeias da Lituânia, Estônia, Bulgária, Letônia e Hungria - onde cerca de 80% das áreas rurais morrem. De acordo com o Observatório Territorial da Rede Européia, o despovoamento é associado com os mesmos sintomas socioeconômicos, como na Ucrânia: redução do potencial dos mercados locais, redução da qualidade e disponibilidade aos serviços, deterioração da infra-estrutura, desemprego, envelhecimento da população, etc. E, assim  como na Ucrânia, os fenômenos socioeconômicos negativos na aldeia europeia são mais pronunciados do que na cidade. Por exemplo, em 2016, a taxa de emprego nas aldeias da Estônia foi de 6% inferior à das cidades, na Hungria - 3%, na Bulgária - 15%, na Eslováquia - 7% (Comissão Européia).

O que faz com que as aldeias europeias e ucranianas se deteriorem? Em primeiro lugar, trata-se de mudanças na natureza da produção agrícola. Graças à técnica de alta tecnologia, o processamento da terra não exige mais milhões de trabalhadores e, onde quer que seja necessário, o trabalho contratado é de trabalhadores sazonais, e muitas vezes estrangeiros, são usados. Assim, a população rural perde a base econômica de sua existência e, portanto, precisa adaptar-se à mudança migrando para as cidades. Algo como isso está acontecendo agora na indústria, onde a vida profissional é gradualmente substituída por mãos de trabalho "vivas" mas, na aldeia as consequências disso são mais notáveis. Em comparação com as cidades densamente povoadas, as comunidades rurais tornam-se mais vulneráveis: são mais afetadas pelo despovoamento e é mais difícil para as economias locais se adaptarem às necessidades no ambiente do mercado global.Além disso, os principais fluxos de migração de fora atraem as cidades e não a aldeia. Além disso, nas cidades modernas, é mais fácil usar os meios de mobilidade social, bem como maiores chances de alcançar o bem-estar e obter acesso mais amplo aos serviços, de modo que a pontuação geral claramente não é favorável à aldeia.

É claro que a urbanização plena (ou próximo disso) da Europa é apenas uma questão de tempo. Artificialmente dificultar este processo não é significativo, mas os governos nacionais têm a oportunidade de mitigar os fenômenos sócio-econômicos negativos que ocorrem no momento em áreas rurais. A profundidade da crise socioeconômica na zona rural européia (mesmo onde é mais aguda) é insignificantemente menor do que na Ucrânia, e dadas as estatísticas gerais, a diferença socioeconômica entre o campo e a cidade da UE é mínima. Obviamente, na mesma direção devemos nós nos mover. A criação de escolas de apoio e distritos hospitalares - é passo certo. A questão é apenas quão consistentes serão essas e outras reformas e se o governo será capaz de encontrar um equilíbrio entre o apoio efetivo da aldeia e os centros de subsídios populistas de uma crise sem esperança.

Tradução: O. Kowaltschuk

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