quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Anotações de "Karatelh"

Montanhas de livros soviéticos em uma das casa bombardeadas de Donbas. Esta é a biblioteca de um antigo internato infantil.
Tyzhden ua, 22.09.2018
Darya Fedenko

Montanhas de livros soviéticos em uma das casas bombardeadas de Donbas. Esta é a biblioteca de um antigo internato infantil.
Literatura ideológica "sobre um país florescente e poderoso" que permaneceu em pó desde 2.014. Quando começaram os combates perto de Mariinka e Krasnogorivka, as crianças foram evacuadas. Levar os livros não houve tempo. Então a biblioteca abriu na frente. Os militares ucranianos inicialmente pensaram que os livros lhes seriam úteis. Tipo, você pode ler nos momentos de silêncio. Mas logo ficou claro que "sobre Lenin e sobre os pioneiros" ente os bombardeios não se quer pensar em nada. Com o que substituir este papel de lixo soviético? Obviamente, é necessária uma nova literatura ucraniana. Por estas razões Vladislav Yakushev, ex-oficial da 14 Brigada mecanizada, decidiu escrever seu próprio livro sobre a guerra atual, seus heróis e enviar às instituições educacionais de Mariinka, cuja unidade defendeu mais de um ano. E também às brigadas, que hoje estão na linha de frente.

Esbelto, alegre e sorridente. Vlad Yakushev sempre encontrava jornalistas com alegria. Ajudava fotografar, indicava os militares dispostos a dar entrevistas, e não escondia quais problemas hoje, os militares encontravam na frente. À guerra, o assessor de imprensa veio de publicações civis. Mas rapidamente dominou a terminologia militar e aprendeu manter um autômato e uma câmera quase ao mesmo tempo. Em suas fotos e vídeos de batalhas ferozes, você pode ver o que acontecia na frente. Lá, onde os jornalistas às vezes não eram permitidos. É verdade, que Vlad poderia pagar por sua fraqueza. Com ele não estavam satisfeitos.

Especialmente quando violava "questões pessoais". Por exemplo, o pagamento "dos milhares aos militares". O comando prometeu um pagamento extra por cada tanque danificado ou outra técnica. Principal - depois da batalha fotografar destroços e enviar relatório. Mas, quando os militares da 14ª
brigada mecanizada cumpriram todas as condições, descobriu-se que o dinheiro receber não era fácil. Depois de meses de peregrinação pela sede, Yanukovych decidiu "retirar o lixo da casa". Ele falou sobre promessas não cumpridas aos jornalistas e até Escreveu um post  público. E recebeu dos amigos-irmãos ainda maior respeito, e do comando - exílio na retaguarda. Mas a autoridade e respeito da mídia não permitiu que Yanukovych ficasse afastado. Depois do escândalo, o ativo oficial da imprensa voltou para a frente. Aos combatentes pagaram parte do dinheiro pelo equipamento destruído, do inimigo.

E este não é o único caso. Graças a Yakushev, o público dos canais ucranianos sabia sobre os feridos e mortos. Ele esforçava-se para contar a história de cada ferido e morto. Era o escritor do novo exército ucraniano. Os rapazes brincavam, que o assessor de imprensa deve, sem falta, escrever sobre "guerra total, tolos e café." Foi o que aconteceu. Quando a 14ª brigada foi retirada da zona ATO, Yakushev desmobilizou-se e começou escrever o livro "Karatelh" - uma nova novela documental com uma linha de aguçado enredo, tragédias, decepções e heróis não inventados, que vivem ao nosso lado. Cinza, San Sanich-Furacão, Urso, Anão, Pastete, Volidol - todos estes são homens reais que se encontraram unidos na guerra por mais de um ano, dividiram o pão e munição. E também, juntos, compartilhavam a perda de amigos" - diz Vad Yakushev.

É muito difícil escrever os episódios em que os lutadores morrem. Para mim todas as mortes são muito difíceis para enfrentar. A pessoa já morreu, mas parecia-me que, enquanto eu ainda não tivesse escrito sobre isso, a pessoa ainda estava viva. E se eu escrever, a história do soldado terminará no livro, ele morrerá pela segunda vez, e isso é muito difícil. Às vezes, depois de escrever duas ou três páginas, não conseguia trabalhar por vários dias. Um dos tais momentos difíceis - tio Tolya Letzman, que morreu em "Bungalo" (14ª brigada do exército que por muito tempo manteve a posição, e que apelidaram de "Bungalo". Longas e fortes trincheiras levavam à casa de um andar, em que viviam pessoas pacíficas antes da guerra, e durante a guerra aqui se instalaram os defensores ucranianos. Os militares não lembram quem primeiro comparou a arquitetura da propriedade de Donbas com uma casa indiana tradicional - Red.). Então, do lado do inimigo, vieram os fuzileiros russos, que tentavam invadir nossas posições. Lotsman operava a metralhadora SSK. Acontecia uma batalha feroz. Quando eles iniciaram o ataque, tio Tolia realmente parou a ofensiva, destruiu muitos inimigos. Mas a bala entrou sob o capacete e feriu-o mortalmente. Tio Tolia lutou pela vida, no hospital, por duas semanas. Os m-édicos fizeram o seu melhor, mas não conseguiram salvá-lo, e essa é uma das histórias difíceis. Também muito triste para mim foi a história do tanquista. A máquina com militares fugia do fogo, serpeava entre as explosões e virou. O tanquista caiu fora dela. Morreu não dos estilhaços, não da explosão, mas porque foi jogado com muita força no campo de girassóis, no qual havia caules secos, que lhe furaram a cabeça. Uma perda muito difícil para todos nós..."

E cada uma dessas perdas, lembra Yakushev, significava, que na unidade havia menos pessoas, capazes de segurar a arma em suas mãos. Portanto, durante o dia, o assessor de imprensa guardava os jornalistas e, a noite, lado, com os soldados repelia os ataques de mercenários russos. A pequena cidade Mariinka, perto de Donetsk, tornou-se algo simbólico para eles. Os guerreiros reusavam-se entregar mesmo um pequeno pedaço de terra. Durante um ano vivendo na cidade, os militares conheceram os locais e compreenderam que nem todos percebiam os invasores hostis. Particularmente, com simpatia, Vlad e outros, falam sobre o dirigente da Casa de Criatividade de Mariinsky. Alina Kosse até tornou-se uma das heroínas dos "Karatelh".

No livro ela é, como na vida. É impossível inventá-la. Essa mulher é de incrível força e coragem. Sua "Casa de Criatividade da Criança" funcionou até mesmo durante a ocupação da Mariinka. Nela havia uma bandeira ucraniana hasteada, as crianças aprendiam poemas e versos ucranianos. Alina nos ajudava muito. Houve um momento que eu descrevi no livro, quando os voluntários vinham aos militares e eles precisavam ser levados para uma das posições - "Internato". Os objetos, que eram levados naquele ônibus, eram muito necessários aos rapazes. Durante o caminho havia disparos de balas de 12,7mm. Alina consultou os voluntários, eles arriscaram e foram ao encontro dos lutadores. Algumas balas atingiram o ônibus, mas eles trouxeram o que era necessário aos soldados. Ela é como nossa irmã! Em geral, Mariinka se tornou uma segunda cidade natal para mim. Primeiro - Lviv, segundo - Mariinka. Lá passei uma grande parte de minha vida. Vida no limite. Em Mariinka nós, os rapazes, tornamo-nos uma família, tornamo-nos próximos dos moradores desta linda cidade".

Foi aqui que Vlad decidiu organizar a primeira apresentação do livro recém-lançado. Além disso, ele conseguiu angariar fundos, para comprar 60 "Karatelh" para escolas e bibliotecas locais. Mais 80 livros ele transferiu para brigadas das Forças Armadas Ucranianas, que agora estão na linha de frente.
Esse é um tipo de biblioteca viva, não sobre guerra abstrata, mas sobre guerra real, a qual as crianças e adultos vêem todos os dias, com seus pró-próprios olhos.

"Karatelh" - é um nome irônico, assim nos chama propaganda russa. E eis que eu quis mostrar como, na verdade são esses "karateli". O livro é grande, contém muitas fotos interessantes. Primeira - combate com um gato. É André, exemplo vivo de "Karatelh". O gato ele recolheu na ATO e durante seu serviço não se separava dele, amava-o muito, cuidava, e depois levou-o para sua casa. Consta na foto quando nos retiravam da zona ATO.

a guerra me mudou? Não sei. Mas eu me tornei mais categórico. Anteriormente, eu conseguia fechar os olhos para algo, mesmo no trabalho de um jornalista. Mas agora eu não posso ir a alguma editora, porque compreendo, que lá há a influência de algum oligarca e eu terei que expressar não minha própria, mas a opinião dos outros. Portanto, eu me esforço para ser um jornalista independente e trabalho com freelancer. Comecei a olhar a vida de maneira diferente, dividi-la em coisas necessárias e não necessária. Se o trabalho é bem remunerado, mas eu não gosto, estou insatisfeito, procuro outro, agradável. Não me troco por ninharias. Casei-me depois da participação na guerra, também foi lógico, porque estabeleci os valores lógicos para mim. Família estava entre eles. Eu e a esposa somos amigos há muito tempo. Ela também é jornalista. Nós simpatizávamos muitos anos, mas por alguns motivos não fomos além. Depois de voltar da guerra, fiquei mais persistente. E agora eu tenho uma esposa que amo muito.

O jornalista Yakushev, antes da guerra, em seu tempo livre trabalhava com crianças. Ele ensinava Kickboxing em seções gratuitas. Quando foi à guerra, seus discípulos continuaram seu trabalho. Vlad não pôde ir ao exército. Ele nunca recebeu uma convocação durante a mobilização.

Em compensação, sozinho por várias vezes invadiu a máquina militar. Os coronéis, a princípio, não encontraram lugar, para um voluntário, no exército. Mas em 2015, quando Yakushev já estava decidido para inscrever-se, pelo menos no "Setor Direito", ele recebeu uma oferta para assessor de imprensa em uma das brigadas. Ele, apenas perguntou, qual divisão já havia ido para a guerra, e isso determinou seu destino. Hoje, o homem revive tudo o que havia na frente com ele e seus amigos. Durante a apresentação descreve emocionalmente a vida e a luta dos heróis ucranianos. Ele assegura que não escreverá um segundo livro sobre a guerra. Melhor escrever sobre aventuras e viagens, Porque tem certeza de que as pessoas não gostam ler sobre sofrimento. Embora valha a pena saber o que passam os homens, filhos e pais, nas trincheiras..

Tradução e postagens, O. Kowaltschuk. 















Nenhum comentário:

Postar um comentário