Reféns da guerra
"Ele corria e me batia com o pé no peito" - no peito" - Irena Dovganh.
"Estupravam-no, e ele gritava. Isto era mais assustador do que quando me batiam.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 07.02.2018
Irena Dovganh, cosmetologista de Yasenuvatova, conta como militantes pró-russos saquearam completamente sua casa, fizeram um linchamento na praça de Donetsk, também sobre espancamentos, torturas e estupro.
- Eu sou Irena Dovganh, residente de Yasenuvata perto de Donetsk. Antes da guerra eu tinha um pequeno salão de beleza privado e trabalhava como cosmetologista nele.
- Sob Sloviansk os militares ukrainianos estavam famintos, sem roupas e calçados.
"Eu senti, que isto era perigoso, e eu fiquei em silêncio. Ao redor havia muita agressão e pensamentos opostos. Após a libertação de Sloviansk, todos aqueles homens armados vieram a Donetsk e à minha cidade."
- Então, na primavera de 2.014, em nossa região de Donetsk, os eventos desenvolveram-se muito rápidos e assustadores. No início, parecia que bastava informar às pessoas sobre o fato, que a região de um estado não pode, por alguma decisão, unir-se a outro país. Eu tentava explicar às pessoas, de forma humanitária e em exemplos, que isso era impossível. Em algum momento, senti que era perigoso, e eu fiquei em silêncio. Ao meu redor havia muita agressão e pensamentos opostos. Os eventos desenvolveram-se rapidamente após a libertação de Slov'iansk, todos aqueles homens armados vieram a Donetsk e à minha cidade.
"Eu fui para o lado de Slov'iansk e no ponto de verificação conheci os militares ukrainianos. Eles estavam com fome, sem roupas e sapatos."
Eu senti a necessidade constante de agir de alguma forma nesta situação, porque minha família - marido e filha foram para Mariupol para cuidar do pai do marido, que estava morrendo, mas eu estava em casa e tinha "mãos livres". Eu fui para Sloviansk e no ponto de verificação fiz amizade com os militares ukrainianos. Eles estavam com fome, sem roupas e sapatos.
Viajamos no meu carro, precisamos passar por dois postos de controle da "DNR" com homens armados. Nós dizíamos que íamos para Sloviansk. Mas até lá não chegávamos.
Voltei para casa cheia de emoções e contei às mulheres, com as quais eu conversava no trabalho (eu tinha uma ampla gama de amigos, eu gosto de me comunicar). Nós formamos um "grupo de não-indiferentes", e começamos a colecionar roupas, roupas de cama, travesseiros - tudo que achamos, que poderia ser necessário aos soldados ukrainianos. Nós cozinhávamos borsch (Sopa ukrainiana com carne de porco, beterraba, batata, tomate, repolho, temperos -OK), fritávamos panquecas. Apareceram muitas melancias, que eram muito solicitadas pelos militares, nós comprávamos e levávamos. Várias vezes levávamos roupas e alimentos. Íamos com meu carro, precisávamos passar por por dois postos de controle da "DNR" com homens armados. Nós dizíamos que íamos a Sloviansk, para ajudar as pessoas afetadas. Mas até lá nós não íamos.
Depois de aldeia Novabakhmativka, depois da ponte explodida, na aldeia Rozovka, nós descarregávamos tudo próximo da estrada, aos militares ukrainianos, e voltávamos.
Isto durou quase um mês, e nas últimas vezes, pessoas que nós apoiávamos, tornavam-se cada vez em maior quantidade. Os homens davam dinheiro, surgiu a possibilidade de contatar os voluntários do território livre. No meu caso, foi Tatiana Rychkova do Dnipro, eu pedi a ela roupas militares, porque os tênis e camisetas que levávamos, - eram necessários, mas os soldados pediam uniformes.
Eu consegui levantar uma quantidade considerável de dinheiro, que transferi para conta de uma organização de voluntários no Dnieper. Em Kramatorsk me deram vários pacotes.
Quando nós voltamos para casa, ficamos sob fogo. Yacenuvata foi muito bombardeada, e eu escondia-me no porão por cerca de uma semana. Compreendendo que a situação piorava e o exército ukrainiano provavelmente não viria, eu decidi enviar ao meu marido, para o território livre, as anotações dos fundos coletados para as forças armadas. Todas as pessoas confiavam em mim, mas depois eu queria mostrar um relatório. Era muito importante para mim. O homem que levou estas anotações foi parado no posto de controle da "DNR", na saída de Donetsk, e foi espancado. Também levaram o seu carro. Eu não sei o que aconteceu lá, mas ele testemunhou e disse, que a bolsa pertencia a uma mulher pró-ukrainiana, cujo endereço ele conhecia. Deu todos os meus dados, inclusive o local do meu trabalho. Atrás de mim vieram em três carros, umas dez pessoas com armas automáticas. Eles cercaram a rua em que eu morava (Rua Dachna, casa 82). É uma rua pequena e silenciosa, setor privado. Eu compreendi, que algo estava acontecendo, porque os carros não circulavam na cidade neste momento, mas aqui vieram.
PRISÃO
Me levaram para dentro da casa, bateram e disseram para indicar todos os lugares aonde eu escondia dinheiro.
- Isto foi em 23 ou 24 de agosto. Eu estava no quintal e ouvi, que os carros pararam. Eles bateram na porta e eu abri. As pessoas entraram, deram-me uma pancada, algemaram e empurraram-me para o carro, colocando algo na minha cabeça. Eu não vi nada, mas ao lado havia um homem com arma. Os demais, neste momento, estavam dentro da minha casa. Depois de uns 20 minutos, me levaram para dentro, deram-me outra pancada e disseram para que eu falasse sobre todos os lugares, nos quais eu escondia o dinheiro. Minha família não era pobre, nós tínhamos uma casa de dois andares, um pátio bem conservado e um pomar.
Diante do meu rosto apontavam um passaporte estrangeiro. Mostravam vistos abertos para Alemanha e Polônia, gritavam que eu viajei muito. O visto para Vietnã foi o que perturbou mais, porque eles concluíram que eu era muito rica, uma vez que me permito tais viagens. Então exigiam todo o dinheiro. Em uma palavra, isto foi violência...
Eu disse o código e onde escondi o dinheiro que as pessoas me deram para ajudar o exército ukrainiano. Muitas coisas já foram coletadas antes de eu entrar. Havia dois binóculos que pertenciam ao meu marido - presentes do meu pai e Eles serviram como prova de que estou ajudando o exército ukrainiano e por isso precisarei responder.
Na garagem de meu marido encontraram uma escadinha que ele pintou, no ano passado, com balõezinhos camuflados, e por alguma razão isto provou nosso envolvimento nas ações do exército ukrainiano. Me batiam e exigiam explicar como usávamos esta escadinha. Após a libertação eu perguntei a meu marido, por que ele pintou a escadinha em camuflagem. Ele respondeu que para poder deixá-la no pomar, entre as árvores, onde colhemos os frutos, para que não fosse roubada.
As provas de minha culpa para os que vieram me prender foram a bandeira ukrainiana do quarto de minha filha, a coroa de flores e brincos engraçados nas cores nacionais, que nós compramos no campeonato do Euro-2012. Eu nem lembrava de sua existência.
Enquanto isso, todas as minhas jóias, todas as câmeras, televisão, levaram para o carro e comigo foram para o meu local de trabalho. Vários homens ficaram e por alguns dias retiravam todos os meus bens de minha casa.
EU OUVIA, COMO NAS CÂMARAS VIZINHAS GEMIAM E GRITAVAM AS PESSOAS.
Trouxeram-me para rua Leningradskaya 11-8, para o apartamento do meu salão. Deixaram-me em frente da entrada - na cabeça colocaram um símbolo ukrainiano, amarraram com bandeira ukrainiana e colocaram-me no meio do pátio. Fui observada pelos vizinhos idosos que ficaram em choque. Eles não compreendiam o que acontecia, minhas mãos foram algemadas, ficou claro que fui espancada. Essas pessoas estavam muito assustadas.
Havia uma mulher que corria até mim e cuspia no meu rosto, embora antes disso, tínhamos maravilhosos diálogos. "Se você pensa, que eu sinto por você, não é verdade.Você merece isto." Eu não aguentei e respondi que não precisava de sua piedade. Ela chutou minha perna com a sua.
Fui levada para uma delegacia de polícia e colocada numa cela solitária. Quando me levavam para lá, havia muitos homens em camuflagem ao redor, que pegavam em mim, em meu corpo e pelos cabelos.
Os militares saíram. No meu salão não acharam nada interessante, apenas uma pequena quantia em dinheiro, que eu juntava para compras após o serviço. Fui levada para uma delegacia de polícia e colocada numa cela solitária. Quando me levavam para lá, ao redor havia muitos homens em camuflagem, que me agarravam - pelo corpo e pelo cabelo.
Não via nada, mas ouvia, como nas células vizinhas gemiam e gritavam as pessoas.
Eu fiquei nesta cela por duas ou três horas, minhas mãos intumesceram e foi muito doloroso, porque os braços estavam algemados atrás das costas. Eu não via nada, mas ouvia como as pessoas gritavam nas células vizinhas. Isto durou algumas horas terríveis. Depois fui levada novamente pelo corredor dos homens, que novamente riam e me tocavam.
Novamente me colocaram um gorro e levaram para Donetsk. O investigador do chamado "batalhão Vostok", que depois me interrogou, não era de Donetsk ou Yasenuvata, porque parava várias vezes e perguntava às pessoas, como chegar a Tchervonogvardiivka - que é uma das estradas atrás da Yasenuvata, e que leva a Donetsk. Então eu percebi que ele não era local.
'POR QUE VOCÊ MORADORA DE DONETSK, APOIA O LADO UKRAINIANO?"
A terceira pessoa presente no interrogatório, - era um russo com sotaque. Levaram-me para o terceiro andar, onde me interrogaram. Havia mais um investigador, um local, chamado Artem. Aquele que me trouxe, Andrew, tinha um distintivo com o nome "Komar". A terceira pessoa presente no interrogatório, - um russo com sotaque. Ele não me batia, colocava as perguntas e não falava muito. Ele tinha o cabelo vermelho, e não posso falar mais nada sobre ele. Seu uniforme era diferente do uniforme dos dois investigadores, constantemente escrevia algo, sentando à mesa. Certa vez, quando ficamos sozinhos, perguntei-lhe:
"Se você ama o seu Putin, por que eu devo amá-lo?" Ele sorriu e disse: E por que você acha que eu o amo. Eu não gosto dele." Esta foi a única conversa com essa pessoa.
Interrogavam-me dois investigadores, que foram lutadores do batalhão "Vostok", jovens de 30 a 35 anos. Eles me espremiam psicologicamente, ameaçavam, diziam o que aconteceria num futuro próximo. No meu tablet foram encontradas todas as quantias que me foram fornecidas. Os nomes eram patrônicos (pelo pai), sem sobrenomes e endereços. Eles me perguntavam os sobrenomes e endereços, mas eu dizia que não tinha necessidade para tal informação, eu me correspondia com eles através de "e-mails" . Eu lutava com todas as forças para mostrar que não sabia nada. Dizia que apenas procurava ajudar às pessoas, ajudava materialmente à Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou em minha cidade, isto poderiam confirmar com o padre, ajudava às pessoas comuns, não apenas aos militares. Pensava que isto seria uma circunstância atenuante. Eu falava como qualquer pessoa, que quisesse sobreviver e compreendia toda a dificuldade da situação.
Os investigadores viram a quantia de 22 mil hryvnias, que transferi para a conta do voluntariado de Dnipropetrovsk. Você é residente de Donetsk e apoia o lado ukrainiano?" Eles não compreendiam, especialmente o investigador Artem. Ele era um homem ideológico, que acreditava, que poderia construir um novo território, livre de oligarcas, que poderia criar boas condições para Donbas. Artem, várias vezes enfatizou, que pessoalmente nada tirou de minha casa. Na verdade, ele não esteve presente durante minha prisão, embora eu não possa dizer, quem esteve presente. O investigador mostrava seus calçados e dizia que, em nenhum lugar e nada de ninguém pegava. Tudo isto pouco me preocupava, agora eu posso lembrar tudo isto.
Os próprios interrogatórios não eram leves, fui pressionada psicologicamente, mas eu pensava, que nesta situação, eu também poderia influenciar. Quando eu levava ajuda ao exército ukrainiano, eu compreendia, que arriscava. Eu li o artigo como a pessoa-prisioneiro devia comportar-se. E, lembrei-me de que devíamos estabelecer contato pessoal com as pessoas que interrogam. Então eu perguntava aos investigadores, perguntava se eles tinham filhos. Dizia que tinha dois filhos, uma netinha, animais com os quais eu me preocupava muito. Penso, que isto desempenhou seu papel: dois investigadores não me batiam. Embora eles dissessem que me estuprariam se eu não cooperasse.
Artem dizia que me injetarão na veia uma substância, que fará com que eu fale tudo. Mas, essa substância será muito prejudicial para minha saúde e minha psique. Então eu devo escolher: ou conto tudo voluntariamente, ou a injeção. Durante dois dias eu não cooperei, nada disse. Então Artem perdeu a paciência e foi embora.
ENTRARAM CINCO OU SEIS HOMENS DE ASPECTO CAUCASIANO.
- Eu fiquei sozinha na sala, e depois de um tempo entraram cinco ou seis homens de aparência caucasiana, entre eles não falavam em russo.
Eles me levantaram grosseiramente, e puxaram pela escada, do terceiro andar. À sala entraram mais alguns homens de nacionalidade oriental, não sei dizer quantos eram.
Alguém entrava. Alguém saía. E nesta sala, em termos de terminologia recebi interrogatórios mais vigorosos. Esses homens me despojaram de roupas, despiram-se na minha frente, disseram que iriam estuprar-me, fizeram perguntas em termos materiais.
Meu tablet estava nas mãos de um homem jovem, que nas costas tinha um suporte. Meu tablet estava dentro dele. Ele tinha fones nos ouvidos, ele mostrava algo e falava com os outros. Também estava com o meu telefone e, ele viu o Sms do "Privatbank" , os juros sobre a nossa contribuição. Exigia os códigos-chave dos cartões, retirados do cofre. Quando eu dizia que não me lembrava ou não sabia, para comigo usavam "métodos especiais", e então eu começava falar, respondi às perguntas, disse todos os códigos. Este jovem rapaz, com fones nos ouvidos, de repente encontrou a página no Facebook de um dos presentes. O post foi sobre a chegada de pessoas de aparência oriental, quando eles chegaram ao aeroporto no início de junho. Eu fiz uma captura da tela, queria mostrar à minha prima, que não acreditava, que em Donetsk vivia não apenas "nosso" povo.
Ele pegou a pistola do bolso, eu estava deitada no chão, começou disparar no assoalho e atirou na minha orelha. A partir deste momento eu ouço muito mal. Recebi assistência médica em Kyiv, depois da minha libertação. Não consigo ouvir com esse ouvido, não posso falar no celular.
Neste interrogatório, eles estavam muito interessados no "lado material". Se durante o interrogatório anterior, estiveram interessados nos nomes e pessoas que me ajudavam com doações ao exército ukrainiano, estes estavam mais interessados no dinheiro.
Eu menti, que eu e meu marido estávamos separados e que eu não tinha nenhuma relação com o depósito bancário. Eles disseram, que comigo farão um vídeo e que meu marido se ajoelhará e entre os dentes trará todo o depósito bancário. Depois me chutavam no cóccix, fiquei de joelhos e disse o endereço da mulher, que estava comigo na fotografia com os militares ukrainianos. Eu não dei o endereço certo, compreendia que trairia a pessoa. Era assustador. Eles me achincalharam, queriam dados concretos desta pessoa, eu dei um endereço qualquer, eu não sabia em que rua ela morava. Mesmo agora isto não lembro. Eu disse que o telhado de sua casa era de cor verde. Eu disse o seu sobrenome, os fatos pareciam verdadeiros, e eles acreditaram. Disse que nada mais sabia. Mas eu sabia que esta mulher tinha família, filhos.
Começou a histeria: eu gritava, dei o nome de mais uma mulher, sabendo que ela não morava mais na cidade. Parece que dei outros nomes, mas não sabia os endereços. Eu já testemunhava, porque não aguentava mais.
Então eles perceberam que eu não podia dizer mais nada. Disseram: "material processado" e decidiram levar-me ao posto de controle da DNR, dizendo que "seus khokhos" bombardearam bem este lugar e ameaçaram: Nós prenderemos você e seus amigos. Depois eles compreenderam que eu não podia dizer mais nada. Disseram "material processado" e decidiram levar-me para o posto de controle da DNR, dizendo que meus "khokhos bombardearam bem este local, e "nós prenderemos você lá, e seus amigos atirarão em você"
O rapaz com meu tablet trouxe um cartaz que penduraram no meu pescoço, amarraram a bandeira ukrainiana na cabeça e colocaram o símbolo do Euro-2012, da minha casa. E já queriam levar-me para lá, mas um deles falou: "Khokhli" bombardearam este posto de controle muito bem. Quem irá amarrá-la lá? Houve discussão, não me lembro dos detalhes. (Prezados, não sei como. explicar o som da letrinha que é representada com "kh" na palavra repetida aqui várias vezes. Letra com semelhante som não existe no idioma português. A palavra, em si, é depreciativa - OK).
COLOCARAM-ME JUNTO AO POSTE COM O CARTAZ NO PEITO E AS PESSOAS ME BATIAM.
Finalmente fui levada na praça de Donetsk, que estava sobrecarregada com sacos de areia e lajes de concreto. Fui colocada no centro, perto do pilar com a plaquinha no meu peito. Estes militares começaram chamar pessoas que passavam e gritavam, que eu era guerrilheira e oficial corretiva. As pessoas aproximavam-se. No peito eu tinha a plaquinha dizendo que eu era um "punidor" e "fascista", que eu mato crianças - e, principalmente as mulheres, davam-me chutes, com as mãos batiam na cabeça, nas orelhas. Havia uma mulher idosa, que veio com uma bengala, e com ela batia minha cabeça e costas. As pessoas acreditavam que eu "dirijo as balas" para Donetsk.
Fiquei perto deste pilar por um bom tempo. A situação mudava constantemente. Veio um carro com a inscrição "Allah Akbar", nele vieram vários homens em camuflagem e que falavam uma língua diferente.
Eram os chechenos, um deles disse: Afastem-se, eu vou atirar no joelho dela. Todos afastaram-se. Este foi um momento terrível, ele mirava muito bem, eu pulava e gritava de medo. Então ele atirou ao lado e todos riram.
Eu comecei perder a consciência e escorreguei pelo pilar. Eu fui atingida com uma coronha na articulação do quadril, ele me dói até agora. Disseram para eu ficar em pé, em posição correta, mas eu segurava-me no pilar. Um homem, de camisa branca e mangas curtas me fotografou, eu não o vi mais.
As mulheres continuaram a me bater, depois os jovens que passavam, dois rapazes e moças, também fotografavam-se às minhas costas.
As mulheres continuaram a me bater, depois os jovens que passavam ao lado e também fotografavam-se. Uma mulher pegou tomates do bagageiro do carro e os pressionou nos meus olhos - assim ela quis expressar o seu ódio contra mim.
DIZIAM QUE EU SERIA APROVEITADA NO SEXO NÂO TRADICIONAL
Depois veio "Volga", da qual saíram dois homens altos, de uniforme militar. Este uniforme era diferente, não era camuflagem. O, com o apelido "Georgiano" disse: nós levaremos esta mulher". Pegaram-me pelo cabelo e, abaixando minha cabeça empurraram-me para aquela "Volga". Então, aqueles homens que me trouxeram, começaram a me puxar de volta. Entre eles houve uma disputa verbal. Fiquei 10 ou 15 minutos em pé, e eles falavam ao telefone. Depois, aquelas pessoas que me trouxeram, me levaram de volta. No caminho disseram, que iriam estuprar-me e eu "servirei para proveito".
Ele tocava em meus seios e dizia que eu era de "segunda mão" e "material trabalhado", e que eu seria aproveitada em sexo não tradicional.
Isto acontecia o tempo todo. Mesmo quando eu estava em pé ao lado do poste, aquele homem, que foi fotografado - com barba e dentes de ouro, - quando erguiam minha camiseta, ele tocava meus seios e dizia, que era de segunda mão, e "material trabalhado", e que eu seria aproveitada em sexo não tradicional. Foi muito assustador.
Quando me traziam de volta, essas pessoas riam e perguntavam, se eu percebi que estava sendo levada no "Lexus" e se eu anteriormente, já andei em algum momento em um carro tão caro. Perguntavam quais eram minhas "preferências sexuais" e se eu queria ser estuprada.
Trouxeram-me, e fui levada para o primeiro andar. Agora entendo que era instalação do exército. Lá, as pessoas já eram outras, possivelmente de Donetsk, "milícia" em camuflagem. Eles eram muitos.
Permaneceram alguns homens de aparência caucasiana, que me levaram na praça. Levaram-me para uma pequena sala, onde havia dois "tapchany" (Uma espécie de cama). Lá havia um homem idoso que pediu para deixá-lo ir porque precisava tomar remédios, porque sofria com tuberculose.
Por algum tempo deixaram-me com este homem, depois fui puxada e colocada na entrada dessa câmara. Aquele homem, de aparência caucasiana e que me perguntava sobre "Lexus", tinha um divertimento: dava impulso à corrida e me chutava no peito. Ele tinha um bom preparo esportivo, e eu voava e batia na parede oposta da câmara.
Após algum tempo eu não podia respirar, eu derramava saliva pela boca e pelo nariz, e todos riam. Parecia que eu iria morrer neste momento, mas os pulmões respiravam e havia a sensação de eu inspirar fogo. Eu estava com a cartilagem danificada, havia grandes hematomas no meu peito, era doloroso por um longo tempo.
Este homem me fazia perguntas e disse, "esta boba estava guardando sua casa", e que sua sogra em Nagorno-Karabakh também guardava sua casa, esperava algo. Periodicamente me deixavam sozinha, porque traziam outras pessoas, que detiveram por causa de algumas suspeitas, frequentemente por causa das fotos. As pessoas eram espancadas, e elas, imediatamente diziam suas senhas em suas redes sociais, e imediatamente ficava claro, quais eram seus pontos de vista. Se lhes satisfaziam - as pessoas eram dispensadas, e os que não satisfaziam - eram levados. Talvez tenham sido quatro pessoas.
Houve um momento terrível, quando uma mulher telefonou, do telefone público e disse, que seu vizinho olhou as calcinhas da filha de cinco anos. Anotaram o endereço e responderam: "Nós estamos indo."
Ele foi trazido. eu o vi de costas. Ele foi muito espancado, sem as calças. Eles o xingavam, repetidamente. Começaram estuprá-lo. Ele gemia e gritava. Eu não via, mas ouvia. Depois mandaram levá-lo para outra cela, ele gritava, mas foi arrastado.
Sabe, eu não ficava tão assustada quando eles me batiam. Agora eu entendo, que o mais assustador, quando maltratam outra pessoa, quando batiam neste homem, estes momentos foram os mais terríveis para mim.
NÃO REMOVAM AS SANÇÕES. ISSO É PRECISO PARAR.
Eu penso que é meu dever - contar toda esta história não escondendo nada e não tendo vergonha, para que isto, n o mundo, não aconteça mais.
Eu peço muito, àqueles que podem ter influência no caso - não removam as sanções.
Eu não sou político, nem economista, mas penso, que isto é importante, a julgar pelo que está acontecendo no mundo, nos últimos dois anos. Peço muito, àqueles, que estão em posição de influenciar nesta situação - não removam as sanções. Isso deve ser parado.
Esse horror vai acabar para mim quando Donbas for libertado e a guerra em meu país parar, quando as pessoas deixarem de morrer pelas quais eu, conscientemente, arriscava minha vida - militares ukrainianos!
Tradução: O. Kowaltschuk