Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 12.08.2016
Rosteslav Khotyn
Exercícios militares perto de Mariupol. 09 de agosto de 2016. |
Em 1991, quando em 24 de agosto foi declarado o Ato de Independência da Ukraina, em círculos políticos houve discussões, se era válida a realização de um referendo, se podia-se dispensá-lo, porque a decisão do Parlamento era suficiente... No final, o referendo foi realizado em 1 de dezembro de 1991, e 90,32% dos que vieram às urnas, confirmaram o Ato sobre a independência.
Desde então, no entanto, às vezes, ouviam-se acusações, que, supostamente, os ukrainianos não lutaram muito pela independência, e alegavam que o resultado foi em consequência de um golpe fracassado em Moscou, e Kyiv apenas aproveitou, com sucesso, uma oportunidade política.
Mas a Revolução da Dignidade de 2014, no leste da Ukraina, bem como o processo da descomunização, de acordo com as pessoas envolvidas diretamente neles, hoje confirmaram Ukraina como um estado verdadeiramente independente.
"Se é a atual guerra, guerra pela Independência? Sim!
Mykola Tykhonov
"Se é a atual guerra, é guerra pela Independência? Sim, eu assim considero! Sabe, nós, com muita facilidade obtivemos a Independência há 25 anos. Na verdade, o povo ukrainiano não lutou pela Independência, ela "caiu" sobre nós, porque assim se formaram as circunstâncias políticas gerais: "espalharam-se" todas as nações da URSS em suas fronteiras de repúblicas administrativas. Rússia nunca reconheceu isto. Lástima apenas, que nós, ukrainianos, não nos preparamos para esta guerra, mas, ela era inevitável", - declarou em entrevista a Rádio Svoboda Mykola Tykhonov (chamado "Baryn"), lutador do batalhão voluntário "Carpathian Sich", protetor do aeroporto de Donetsk.
Mykola Tykhonov |
Sobre a psicológica, e de fato, não apenas jurídica saída do assim chamado "espaço pós-soviético" fala o combatente contratado da Guarda Nacional da Ukraina Yuriy Kupriyenko.
"Agora nós saímos do espaço soviético e neste momento estamos guerreando pela Independência da Ukraina. A situação é tal, que somos obrigados a lutar pela Independência da Ukraina. A maioria da população da Ukraina, esta agressão russa uniu, e nós lutamos contra esta agressão", - diz Kupriyenko a Rádio Svoboda.
Ukraina agora é muito unida - e justamente uniu-se nesta "guerra hibrida". Ukraina uniu-se, e nosso exército ukrainiano formulou-se rapidamente", constata o guarda nacional.
Mudança de auto identidade.
Após a Revolução de identidade Ukraina começou um processo ativo de descomunização. Embora no início isto antes era um espontâneo "leninopad" (derrubada das estátuas de Lenin - OK), mas depois isto foi consolidado no pacote das leis de descomunização, aprovado em abril de 2015.
Como observou em uma entrevista a Rádio Svoboda o historiador Sergei Ryabenko do Instituto da Memória Nacional, a maioria dos países da Europa Central e Oriental experimentaram processos semelhantes, e isto aconteceu logo após a queda dos regimes comunistas, no final de 1980 - início de 1990.
Na Ukraina, logo após a independência, ou um pouco antes, o processo de descomunização vinha de baixo e principalmente na Ukraina Ocidental e em Kyiv. Hoje, isto abarcou todo o país e foram renomeados cerca de 800 pontos habitados, milhares de ruas, praças, etc.
"A importância do processo da descomunização não é apenas a mudança de nomes de ruas ou desmantelamento de monumentos e figuras do regime soviético. O objetivo da descomunização é a condenação dos crimes ocorridos durante os regimes totalitários soviético e nazista. Para que estes crimes no futuro nunca mais se repitam", - diz o historiador Ryabenko.
"Um segundo objetivo importante deste processo é mudar a consciência dos cidadãos da Ukraina. Para, primeiro, com este criminoso regime totalitário que existiu, não procurar justificação. E também para que os cidadãos da Ukraina, finalmente, percebam, o que este regime foi na história, e que a repetição de tal regime - e, especialmente seus métodos de gestão da sociedade - nas condições atuais de um Estado moderno é impossível e inaceitável", - acrescentou ele.
De acordo com Ryabenko, processos que começaram durante a Revolução da Dignidade, como também a agressão da Rússia contra Ukraina deram suficientes e sérios impulsos para que, a sociedade ukrainiana e os cidadãos se reconhecessem como componentes de uma única nação ukrainiana - uma nação política.
"E para que eles comecem valorizar que nós temos o nosso Estado independente. E que os cidadãos podem, até certo ponto influenciar em como será este país, se eles determinarem isto como sua meta", - explica o representante do Instituto da Memória Nacional.
Saída do espaço pós-soviético.
Após um quarto de século do colapso da União Soviética e conquista da Independência pela Ukraina, já raramente - embora ainda acontece - a definem como "antiga república soviética". No entanto, Ukraina cortou o cordão umbilical, que a unia com o passado soviético, com guerra e decomunização.
"Esta guerra, em minha opinião, leva-nos para fora daquele nevoeiro, cortina histórica, daquela hipocrisia ideológica, na qual Ukraina permaneceu quase 70 anos - até mais - na composição do Império Russo. E justamente esta guerra necessitava dos ukrainianos a descoberta de seus heróis e a renovação de sua história, a qual daria forças para lutar e resistir ao tradicional esforço da Rússia em nos subjugar, fazer-nos escravos", - disse Mykola Tykhonov.
"Porque nós temos uma admirável história, apesar de nos pretenderem mostrar, até certo ponto, que ela é trágica, que a história da Ukraina - é história de derrotas. Nada parecido! Nós temos muitos exemplos históricos de nossas vitórias. É exatamente esta história de nós escondia, a história russa. Se nós queremos sobreviver, nós indispensavelmente devemos nos tornar independentes em termos de consciência de nossa própria história e nossos próprios heróis", - acrescentou o combatente da "Carpathian Sich".
Com ele concorda o historiador Sergey Ryabenko, considerando que Ukraina assumiu uma grave e irreversível ruptura com o passado soviético.
"Em geral, o termo "espaço pós-soviético" e até mesmo o termo "Território da Comunidade de Estados Independentes", com o qual até recentemente delineavam o território da Ukraina, - eis que com esta agressão da Rússia contra Ukraina, a anexação da Crimeia e, de fato o desejo de assalto à ordem mundial, eles borraram quaisquer tentativas de criar quaisquer novos processos de integração no espaço pós soviético", diz Ryabenko.
A maioria dos cidadãos da Ukraina já não se vê partícipe nos processos de integração com a Rússia no espaço pós soviético, esta idéia perdeu sua popularidade e realmente rola para as margens, - explica o historiador. - Eu diria, que Ukraina já começa se identificar mais com os países da Europa Oriental, com países bálticos, do que com países - nomearemos assim - "espaço clássico pós-soviético".
Tradução: O. Kowaltschuk
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