segunda-feira, 12 de março de 2018

A lógica do terror, o que pode significar o caso de Ruban.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 12.03.2018
Vitaly Portnikov















Cena de vídeo da detenção do chefe da organização: "Foto oficial" de Volodymyr Ruban no monitor durante uma apresentação do chefe do SBU Vasyl Hrytsak, 09 de março de 2.018.

Antes da detenção de Volodymyr Ruban, chefe da organização "Corpo de Oficiais" e relatórios de serviços especiais sobre a preparação de atos terroristas em larga escala na Ukraina, parte da população pode estar incrédula. É assim - com desconfiança - colocavam-se diate da impossibilidade da prisão do líder da oposição  Yulia Tymoshenko, prováveis recursos da administração Viktor Yanukovych à integração européia, uso da força contra os manifestantes no Maidan, ocupação da Criméia, início da guerra no Donbas... Pessoa, como regra, esforça-se pensar dentro dos limites de sua lógica e regras - portanto, nas condições de autoritarismo e agressão pode vencer aquele, que não reconhece as regras.

Falando francamente, não estou surpreso com os relatórios sobre a descoberta da rede terrorista. Eu, já a muito tempo espero pelo terror - porque não tento sair da minha própria lógica, mas da lógica daqueles que desestabilizam Ukraina.

Não há uma guerra "quente" no Donbas há muito tempo, há apenas confrontos esporádicos de ocupação, a sociedade ukrainiana acostumou-se a tal guerra - como se acostumam a quaisquer conflitos que não terminam em alguns meses. Alavancas de pressão sobre a liderança ukrainiana para forçar Kyiv a negociações nas condições russas em Moscou não há. Sanções contra Rússia ninguém pensa em cancelar. Enquanto isso é necessário sair do conflito de alguma forma - mas não para dar lugar à reputação de Vladimir Putin e abandonar a ocupação. Então como?

A melhor maneira de fazer isso é desestabilizar Ukraina. A melhor maneira de desestabilização é aterrorização. Os ukrainianos já sabem como a guerra muda as atitudes do público. Mas eles não sabem nada sobre como o terror muda os sentimentos públicos.

Pessoalmente, eu tenho essa experiência. Eu testemunhei atos terroristas na Rússia e em Israel. Eu vi a reação da sociedade e da mídia. São condições de terror total, a influência reforça-se em aqueles que acham necessário, sob quaisquer condições, destruir a fonte do terror, e daqueles que consideram indispensável destruir motivos, que levam ao terror.

A intenção lógica é destruir o presidente e os políticos do "partido da guerra".

Em condições russas, a fonte do terror chamavam os apoiantes da independência da Chechênia- por isso Putin recebeu uma carta-branca para guerra em uma república rebelde. Mas quando o terror veio a Moscou, começaram a se intensificar as posições daqueles que propunham "deixar" Chechênia e parar a guerra no Cáucaso - se a guerra já veio às ruas de Moscou. Durante a absorvição de reféns no centro teatral, na Dubrovka, a influência de Putin foi muito abalada, muitos pensaram que ele precisará deixar a cadeira presidencial. Putin salvou-se apenas graças à operação especial desumana, durante a qual muitos reféns morreram.

Sob as condições ukrainianas o papel da Chêchenia desempenhará a própria Rússia - com a única diferença que ninguém vai lutar com o estado da energia nuclear. Então, se o terror chegar a Kyiv, Odessa, Kharkiv e Dnieper - na comunidade reforçar-se-ão as posições daqueles que propuseram um acordo com Moscou - bem, se nós já não podemos derrotá-la, e a guerra já esta aqui. Claro, eles proporão "deixar" ou "federalizar"  Donbas. Já agora na Ukraina, muitas pessoas não têm vergonha de dizer, que a guerra é "vantajosa para as autoridades", ou teria terminado há muito tempo, que o "Maidan" e não o invasor trouxe a separação " do Donbas e Criméia. Imagine como esse humor crescerá sob condições de terror total!

Também é lógico destruir o presidente do país e os políticos do chamado "partido da guerra" - isto é, aqueles que não querem inclinar-se diante de Moscou e há muito são considerados como principais inimigos do Kremlin. Mas os políticos que podem "chegar a um acordo", não serão tocados - devem ter a oportunidade de chegar ao poder, parar o terror e criar oportunidades para Vladimir Putin para sair da armadilha ukrainiana.

Não é possível esconder a verdade - tais políticos, mesmo sem terror, podem chegar ao poder na Ukraina já, depois das eleições presidenciais e parlamentares de 2.019. A sociedade ainda está desorientada e incapaz de lutar a uma grande distância - o que é um pré-requisito para quaisquer construção estatal bem sucedida. Mas, mesmo uma sociedade tão desorientada pode não compreender o bloqueio dos "patriotas" - populistas com as forças do passado - "Bloco de Oposição" ou "Escolha ukrainiana" do odioso Viktor Medvedchuk.

Mas o terror total e a luta com ele - é uma excelente oportunidade para criação de um governo de unidade nacional cuja tarefa principal é parar o terror nas ruas, pôr fim à guerra e chegar a um acordo com Moscou. Em tais condições, paz e sossego a qualquer preço podem tornar-se a mesma religião política de uma sociedade imatura, como agora tornou-se a luta contra a corrupção. Na verdade, o que pode inquietar mais as pessoas - corrupção total ou terror total?

Portanto, com uma detenção a Ruban (ele rejeita a acusação) não se termina a questão. O terror - já pode estar no limiar.

Vitaliy Portnikov - jornalista e comentarista político, colunista da Rádio Liberty.

Tradução: O. Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário