terça-feira, 24 de outubro de 2017

Eles buscavam toda a família e em vagões de mercadorias levavam para Sibéria - operação pouco conhecida "Zapad".
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 20.10.2017.
Galina Tereshchuk
















Lviv - Até hoje, outubro de 1947 é pouco conhecido e não investigada apropriadamente página na história da Ukraina. De 21 a 26 de outubro de 1947 o governo soviético realizou a operação oeste  ("Zapad"), deportando, principalmente para Sibéria, e também para Cazaquistão, cerca de 27 mil famílias, quase 80 mil pessoas, inclusive crianças e pessoas idosas, dos territórios da Ukraina Ocidental. Hoje, é bastante difícil encontrar testemunhas vivas desta tragédia do povo ukrainiano. Ainda encontram-se pessoas sós, de idade avançada, que sobreviveram a esta terrível deportação, e até hoje estas lembranças estão repletas de dor e lágrimas.

Pegavam toda a família e em vagões de mercadoria levavam para Sibéria - operação pouco conhecida "Zapad" (Oeste).  (Rússia não mudou. Oleg Sentsov, produtor de filmes. A pouco tempo, ele foi enviado para o mesmo lado. A sua última parada conhecida é Yamalo-Nanets.  Se a colônia em Labitnangi  será o último ponto, por enquanto não está claro, disse o advogado Dmitry Dinze. Rússia não quer que Sentsov mostre-a ao mundo tal como ela é na realidade. OK).

1947, como os anteriores - 1939-1941, 1944-1946 quando URSS ocupava as regiões da Ukraina Ocidental, não era nem um pouquíssimo mais tranquilas que os anos anteriores, para os ukrainianos. Milhares de pessoas foram presas, condenadas, enviadas para campos da Sibéria. Mitos morreram e houve centenas de pessoas desaparecidas. As pessoas ficaram com medo. Toda batida na porta, geralmente, causava ansiedade nas famílias. As pessoas dadas como desaparecidas, geralmente eram assassinadas. 

Sob a parte em russo diz: Plano de operação da questão "Zapad" (oeste - em russo) na região de Lviv.

Na família de Ivanna Arsenitch, de 17 anos nada ouviram sobre a operação "Zapad", não sabiam que preparava-se uma deportação em massa daqueles que apoiavam o movimento de libertação nacional, ou alguém da família lutava no Exército Insurreto Ukrainiano. A mulher contou à Rádio Liverty (Radio Svoboda), que ela e seus pais moravam na aldeia dos Hutsol  (Grupo Étnico ukrainiano que vivia nos Cárpatos, Nizhniy Bereziv (Região de Ivano Frankivsk). Seu irmão, o jovem artista Boleslav servia no Exército Insurgente Ukrainiano. Tinha o apelido "Luk"  (arco). Ivanna Arsenitch lembra outubro de 1947.

Ivanna Arsenitch, vítima da deportação soviética de 1947, na Ukraina Ocidental - operação "Zapad".

"Não lembro agora, se foi no dia de Nossa Senhora, ou alguns dias depois. Mas, definitivamente, foi na segunda metade de outubro de 1947. Então caiu muita neve. Nos levaram, disseram que foi por causa do irmão que servia no UPA (Exército Insurgente Ukrainiano). Eu ajudava os rapazes do UPA, como toda nossa aldeia. Quase todos apoiavam, porque muitos foram ao UPA. Minha mãe teve apenas um filho e o tempo todo dizia que precisava ir ajudar. Lá aonde estava um deslocamento, nós levávamos comida, materiais secretos. O primeiro aprisionado foi o presidente do Conselho da Aldeia, seu único filho morreu na luta do UPA, depois eu fui aprisionada, depois meu pai. Nos jogaram no porão que era grande. Para lá traziam os camponeses e depois para o depósito de cereais. Mamãe, pela manhã ainda tirou leite das vacas, a avozinha, estava com 91 anos. Ela não sabia que nos levavam para Sibéria. Nos colocaram nos carros - diz Ivanna Arsenitch. - Eu, horrorizada pensei sobre vovozinha, fiquei com muita pena dela porque não sobreviveria. 
Nós a descemos da máquina, aqueles rapazes que estavam nos postos, ou não viram, ou simplesmente deixaram e vovozinha voltou aos parentes da aldeia.

Nós viajamos em vagões mercantis, fomos "empacotados" em Kolomyia. (É desta localidade que vieram meus pais, mas anteriormente. Já tinham cinco filhos, um irmão e eu já nascemos no Brasil -  e precisavam possuir mais terras, mas não havia terra para adquirir e muitas famílias procuravam outros países. Quando meu pai resolveu emigrar, Canadá e Estados Unidos, não tenho certeza se os dois,  já não aceitavam mais. Sobrou Argentina e Brasil que foi escolhido - OK).
Passamos quatro semanas difíceis, em clima frio e com fome. Alguma coisinha  davam nas estações. Algumas pessoas ainda tinham um pedacinho de pão seco, fervíamos água. Nós podíamos trazer algo de nossas casas, mas não nos permitiram. Trouxeram-nos para a região de Omsk. 
Primeiro , nos levaram ao banho, depois deixaram em barracas vazias. A fome era terrível, nós não tínhamos nada porque fomos proibidos de trazer qualquer coisa. 

Lá estava apenas toda nossa gente, de Kolomyia.

Depois de um mês nos levaram para floresta, além de Irtesh, e eu consegui fugir de lá. Como eu consegui coragem para fuga, não sei, mas consegui sobreviver naquele rigoroso inverno. Consegui voltar para Kolomyia. Primeiramente escondia-me com as famílias estranhas, nas montanhas, nas aldeias, sofri bastante", - acrescenta ela.

"Sobre mim pulavam e gritavam: "banderivka" (Bandera destacou-se como líder de ukrainianos que lutava contra o domínio russo - OK).

Catarina Pelehaty (Vasilyuk pelo pai), de Lviv, em outubro de 1947 tinha 14 anos. Ela e sua irmã, viviam então em Drohobych, na casa do avô. As meninas estudavam na escola. A mãe e o pai viviam próximo, na aldeia Lishnia. O irmão de Catarina Pelehaty pertencia à organização subterrânea (pidpilhna) juvenil "Kruty". Em fevereiro de 1947, junto com seus amigos de causa (pobratymy) foi sentenciado e enviado para exílio em Cazaquistão. O futuro marido de Catarina - Mykola Pelehaty foi condenado e enviado para Sibéria.

Catarina Pelehaty, vítima da deportação soviética de 1947 na Ukraina ocidental - operação "Zapad" ("Oeste").

A família de Catarina Pelehaty ajudava UPA. A mulher lembra, que o avô tinha uma loja de louças e sempre apoiava os insurretos.

Mapa da operação "Oeste"(Zapad)
Na noite de 21 de outubro de 1947, primeiro levaram meu pai, da aldeia. Mamãe e avó deixaram. Vieram buscá-las pela manhã. Fizeram isto de propósito para que o pai não as ajudasse arrumar-se. Quando a mãe vestia a vovozinha, ela atrasou-se. Enquanto isto os soldados armados andavam pela casa e levavam objetos. As mantas de lã enfiavam nas calças. Eles foram vistos pelos rapazes que iam à escola em Drohobych e vieram nos avisar. Nós não fomos à escola, fomos à cidade.. Vieram até nós na hora do almoço, o avô já não estava na residência. O pai já estava acompanhado por um comboio. Nós começamos a nos aprontar, eu peguei livros e macarrão. O pai achou dinheiro e felizmente levou. Ao avô vieram na noite de 22 de outubro. Nós nem soubemos isso. Nós levaram por Drohobych, as pessoas corriam para despedir-se. Nos colocaram nos vagões dos animais, sem janelas, sem banheiros, com grades de metal. Colocaram tantas pessoas - idosas, jovens, estudantes, crianças, que não havia lugar para sentar.  Um homem que conseguiu trazer um pequeno machado, cortou um buraco no piso de madeira. Nós, interagindo uns com os outros, assim podíamos ir ao banheiro. Comida não traziam. As pessoas nos davam água. Traziam pessoas de todas as regiões, e no terceiro dia o trem de carga partiu. Nos vagões estava escrito "Trigo". Pelo caminho dividíamos o que tínhamos, água bebíamos um gole, não nos lavávamos, porque economizávamos a água. "Piolhos" , - contava a mulher.

Insurgentes
Viajamos dois dias, e já na Rússia nós liberaram na rua. As pessoas corriam buscar água, a escolta atirava, mas as pessoas corriam.


Trouxeram-nos uma sopa rala e peixes especialmente salgados para sentíssemos sede. P pai conseguiu comprar na estação, dois baldes de água. Por um pagou 25 rublos aos adolescentes, que trouxeram os baldes sob o vagão e com os cintos os homens baixaram a louça para que enchessem de água. O vovozinho viajava sem alimento no outro vagão. Lá havia nossa família. A mãe da nossa mãe  com seu irmão, mas nós não sabíamos. Todos - em conexão com UPA, como "inimigos da nação". Primeiro nos levaram para os Urais, para a cidade Gubah.
E lá, comemoravam "feriados de outubro, 7 de novembro". Para que não atrapalhássemos, deveriam levar-nos para o acampamento pioneiro, na mata. Mas, era necessário atravessar o rio, mas o gelo quebrou. Então fomos, simplesmente, jogados na floresta. Os homens juntaram ramos para os doentes, fizeram fogo e derretiam a neve. No segundo dia já nos levaram ao acampamento pioneiro mas não havia aquecimento. Uma semana depois o campo foi liberado de criminosos domésticos, e nós fomos instalados nas barracas. Percevejos, piolhos...  Em dezembro eu fui à 8ª  série na escola. No vestiário, as crianças me davam rasteiras, cobriam com paleto, pulavam sobre mim e gritavam "Bandera". Eu não queria ir à escola, mas compreendia, que devia estudar. As pessoas adoeciam e morriam, enterrar não era possível porque a terra congelava. Morreu também a minha vovozinha.

Eu também fiquei doente. O vovozinho fugiu para Ukraina - e para nós criaram condições ainda piores: levaram para Yakuta, para de lá não conseguíssemos fugir", - lembra, em lágrimas Kateryna Pelehaty.

Trabalho pesado nas minas, na taiga, recusa ao estudo na escola técnica, ao "inimigo do povo", mudança de um lugar para outro, ao pior e ainda mais pior. Durante vários anos uma jovem sem frequentar escola, porque escola não havia. Mas, em seguida, após 4ª série mudança, concluí-la na escola noturna. Após a morte de Stalin, Kateryna Pelehaty conseguiu entrar na Faculdade Técnico-Farmacêutica em Tomsk. Tinha referência ao Instituto Médico, mas deu-a à amiga, e sozinha foi para Vorkuta para encontrar seu noivo.  m seguida concluiu, em ausência, o Instituto, como também seu marido. Somente em 1979, junto com o marido  Mykola Pelehaty, também condenado como ilegal, com duas crianças voltou para Lviv. (32 anos sofrendo no exílio por causa de um governo usurpador e bandido, que até hoje não mudou e esforça-se para continuar a implementar métodos o mais próximo possíveis dos de então - OK)

A operação especial preparavam com cuidado.

Kateryna Pelehaty, e sua família também ainda não sabia que em setembro de 1947 o Conselho de Ministros da URSS aprovou o decreto "sobre transferir das regiões ocidentais da URSS para Karaganda, Arkhangelsk, Vologda, Kemerovo, Kirov, Molotovsky , Sverdlovsk, Tyumen, Chelyabinsk e Chita, os membros das famílias dos pertencentes a OUN (Organização dos Nacionalistas Ukrainianos e ativos bandidos aprisionados e mortos em batalhas"  (Os dirigentes da Rússia, anteriores e atuais é que merecem ser chamados bandidos porque eram e são usurpadores, não quem defende sua pátria - OK). Durante seis meses preparavam-se para implementar o concebido. Já no início de outubro, planejaram retirar as famílias das regiões da Ukraina Ocidental. Especialmente da região de Lviv, Ternopil, Ivano-Frankivsk, Volyn e Bukovyna.

Direcionaram destacamentos operacionais Kadebistas (KGB) e das milícias de diferentes áreas. Os comunistas locais e o Komsomol os ajudaram aivamente, e cerca de 8 mil "pulos" estavam envolvidos - membros dos batalhões de combatentes.

De acordo com os documentos de arquivo, a sede da operação localizada em Lviv, liderada pelo vice-ministro dos Assuntos Internos da URSS Mykola Diatlov. A principal tarefa do governo soviético, ou seja, a liderança do partido Comunista, era privar UPA do apoio de pessoas ativas e seus parentes. Na verdade, a força do UPA estava significativamente enfraquecida. A operação foi chamada "Oeste", e começou na noite de 21 de outubro, e, em aldeias separadas, e em alguns dias antes, durou até 26 de outubro.

Fragmento do mapa da operação "Oeste" na região de Ternopol. Em azul o número de "contingentes" (pessoas sujeitas a deportação). Vermelho - é o número de militares do MGB envolvidos na deportação. Círculos ovais - locais de grupos operacionais de tropas do MGB (Ministério de Segurança do Estado da URSS).


É claro que o fato da deportação em massa, antes de tudo, moralmente, enfraqueceu UPA. Desde então, o processo de desvanecimento do movimento ukrainiano de libertação nacional começou. Embora no próximo ano, 1948, os rebeldes se recuperassem de tal ataque, continuaram ferozmente a luta. Deportavam os mais ativos, eram principalmente os camponeses, em cujas famílias ou próximos, havia alguém envolvido no apoio à clandestinidade. (Eram lutas clandestinas porque os ukrainianos não dispunham de força suficiente para defender, em guerra anunciada, o que era seu e que lhes foi arrebatado. - OK).

Em março  do mesmo ano, 1947, começou a campanha "Visla", quando 125 mil ukrainianos foram expulsos do território de Zakerzon , ao oeste da Polônia. Os rebeldes que lutaram contra Zakerzon, não tiveram, não tinham apoio, porque não havia população. Parte deles foi para o território da RSS da Ukraina, parte para países ocidentais. Tal luta com os rebeldes, é claro, levou os comunistas a fazer algo semelhante nas regiões ocidentais da Ukraina", - diz Ruslan Zabily, historiador e diretor do museu "Prisão de Lontsky

Mapa das estações de carga na questão "Oeste" (Zapad).

As autoridades soviéticas tinham listas de deportados, compiladas com base na informação obtida através da agência, prisões anteriores e interrogatórios a pessoas. Havia também grande pressão e intimidação aos moradores. Alguns se rendiam e concordavam com a expulsão. Segundo os pesquisadores, em outubro de 1947 foram deportados mais de 26 mil famílias, que era quase 80 mil habitantes da Ukraina Ocidental, dos quais mais de 22 mil crianças. A população das regiões de Lviv e Ternopil foi a mais visada. 
Deportavam para áreas da Rússia mais remotas e mais difíceis para sobrevivência. 

Para União Soviética, isto também era possuir trabalhadores quase sem gasto.

Muitos ukrainianos encontraram o descanso eterno nas regiões geladas da Sibéria, nunca mais tendo visto a sua terra natal.

Tradução: O. Kowaltschuk

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