domingo, 19 de novembro de 2017

Respeitar, mas não apiedar-se. História de um retorno da guerra.
Tyzhden.ua (Semana ukrainiana), 17.07.2017
Darya Fedenko

Veterano ATO, um dos primeiros participantes de membros de "Jogos de Heróis", Yuriy Dmetrenko, sobre grave ferimento, adaptação, esporte e comunicação social.

                   Respeitar, não apiedar-se. História de um retorno da guerra.

Em meados de agosto, na Ukraina acontecem as competições regulares "Jogos de Heróis". Este é um projeto social para a reabilitação esportiva dos participantes feridos na operação antiterrorista e pessoas com deficiência. Um ano atrás, foi fundada por Yevgeny Koval. Os participantes, que são mais de cem, são treinados em várias cidades (Dnipro, Odessa, Lviv, Kharkiv, Kyiv) em salas profissionais e amadoras para a CrossFit. E depois eles vêm à competição. O objetivo de "Jogos de Heróis" - mostrar que as pessoas em cadeiras de rodas, com próteses, têm força e querem ocupar-se com esporte. Os organizadores esperam, pelo menos, 35 pessoas para participar dos "Jogos de Heróis", do verão, que serão realizadas em Kherson.

"Semana" encontrou-se com Yuriy Dmetrenko - um dos primeiros participantes de "Jogos
de Heróis", veterano ATO, um militar do 54º batalhão de inteligência. Em 11 de julho, soube-se que Yuri também representará Ukraina na Maratona do Corpo de Marines nos Estados Unidos no outono. Correrá 10 km, com prótese.

Recentemente ele finalizou o treino esportivo de tiro. Ocupa-se, também, com treinamento diário com CrosFit. Rowing, puxando, levantando a haste, jogando a bola, ajudam a manter a forma não apenas do corpo, mas também do cérebro. Yuriy, em dezembro completou 23 anos e já há 1,5 anos ele vive com a sua nova perna - uma prótese moderna.



Sobre o ferimento. "Eu fui ferido em  17 de março de 2016. Naquele dia, estávamos em posição próximo de Gnutov, perto de Mariupol.
Nossa unidade estava envolvida na exploração desses territórios, rastreamento de zonas cinzentas, observação. Um dos nossos grupos de inteligência percorria a zona cinza e entrou na emboscada. Eles estavam bem próximo do inimigo. Explodiram na mina e sobre eles começaram atirar. Um rapaz conseguiu entrar em contato conosco. Ele me ligou no celular. Explicou a situação. No início não entendi. Ele, simplesmente disse, que sofreu com a explosão da mina. Falava em voz baixa. Eu não compreendi, que ele estava ferido. Eu não imaginava, que eles podiam estar feridos. Porque, para nós a situação padrão, "sofrer" com a explosão - significa que você escondeu-se em algum local, é coberto pelos seus e você está bem. Nós, com outro grupo, fomos evacuá-los.

Chegamos próximo. E já andando fomos até eles. O grupo principal passou, mas eu cobria um lado. E acabei num campo minado, e explodi. É um grande mito que diz, que o choque com a dor você não lembra nada, nada dói. Lembro bem, que corria rapidamente: esforçava-me para chegar junto aos meus. E, em algum momento eu senti uma explosão muito forte, um chute na minha perna. Foi como uma marreta no calcanhar. Voei, caí. Imediatamente senti uma dor muito forte na perna. Compreendi, que havia problemas."

Até os mínimos detalhes, Yuriy conta como deu ajuda a si mesmo. "Coloquei duas proteções, alinhando a ferida, na qual, nos primeiros minutos, até olhar sentia medo."

Sobre os primeiros socorros. "Eu conheço muitos rapazes que sozinhos proporcionavam, para si, a primeira ajuda. Isto depende da pessoa, se ela conseguirá. Como revelou-se, para mim foi normal dar ajuda a mim mesmo."

Para executar auto-ajuda, Yuri aprendeu com os instrutores da organização "Proteção de patriotas". Os paramédicos não só ensinavam os militares, mas também forneciam os meios modernos para estancar a hemorragia. Yuri, depois do trauma lembrava as adquiridas habilidades, muitas vezes, que o auxiliaram no momento necessário não perder a consciência, sobreviver, e arrastar-se até companheiros, que então o levaram ao hospital.

Sobre a evacuação. Lembro-me, quando encontrei a primeira pequena depressão, da roda de um carro. Parecia que a algum tempo atrás alguém passou, de carro, pelo barro. Lá eu deitei. Esperei até o tiroteio terminar. Então comecei rastejar. Periodicamente virava-me, olhava para trás. Na verdade, é muito difícil rastejar com tal ferimento. Parecia que rastejava uns dez minutos. Você se vira e vê que não avançou mais que uns quinze metros. Lá está o buraco aonde você foi atingido. As forças já são poucas e rapidamente perdem-se.
Depois eu vi o meu grupo, eram quatro e carregavam dois. Eu disse - continuem carregar e dei-lhes minhas armas. Tentei continuar a rastejar. Então um dos que carregavam, voltou atrás de mim. Pegou-me sob o braço. Eu esforçava-me pular num pé. Depois de uns quinhentos metros, nós vimos o BTR (veículo de transporte blindado) vindo até nós. 

Os amigos-irmãos (pobratyme) retiraram, - Yuri da frente, e a ele fizeram as primeiras cirurgias em Mariupol, depois em Dnipro (ex-Dnipropetrovsk). Quando seu estado já era mais ou menos estável, ele foi enviado de avião para o hospital militar de Kyiv. Muito esperadas férias, assim nomeia o período hospitalar Yuriy, com sorriso. Diz, - apesar de que muito me esforçasse permanecer acamado, depois de um ano e meio na ATO, os voluntários me arrastavam para alguns concertos, encontros. Nenhuma alusão a depressão houve. Pelo contrário, esforçava-se em animar os vizinhos na câmara, e animá-los. Junto com mais um participante de "Jogos de Heróis" Volodymyr Kovalsky.

Sobre o hospital."Havia pessoas na sua ala, que percebessem seus ferimentos depressivamente?! Talvez. Mas eu penso, que nós as pressionávamos moralmente (sorri). Esteve um rapaz conosco, com ferimentos pesados: fratura, osso fragmentado. E ainda numa cama houveram, constantemente rapazes, com ferimentos muito graves. Nós os mandávamos buscar chá. Todos os rapazes eram legais, e era divertido. Qualquer atividade é necessária! Porque, se você não faz nada, então você começa pensar em algo. Então é preciso direcionar todas as forças do cérebro para um determinado canal. Para, não se comer por dentro."


Devido ao fato, de que a Yuriy fizeram uma prótese moderna, ele pode, facilmente, ocupar-se com esporte, para não mencionar seus passeios diários. Nas ruas, sua característica é imediatamente notada. Certa vez, uma criança no parque disse, que ela tinha um "raio-X", provavelmente confundindo um nome complicado com outro. Alguém na rua simplesmente olha uma perna de ferro, e alguém começa mostrar piedade. Isto o militar odeia e pode até responder com grosseria. Diz, não sabe porquê, mas tal reação apareceu depois do trauma, aos que demonstram pena de sua situação. Ele quer respeito.

Sobre adaptação social. "A pessoa vive em algum tipo de mundo e pensa, se alguém não é como você, então é difícil para ela. Isto não apenas com prótese pode ser relacionado. Quando começam a sentir pena, então eu tento explicar à pessoa que eu posso mais que ela na vida cotidiana, no esporte. Chegou ao ponto de que, a meus amigos, nos carrinhos, quando eles simplesmente passeavam, recebiam inadequadamente. Por exemplo, iam abençoar as "pascoas" (Pão especial feito na Páscoa. Costume ukrainiano - OK) e começaram lhes dar dinheiro. A pessoa, de algum modo, quer distanciar-se: "Eu fiz rudo o que podia, ajudei."  Ao mesmo tempo ela não entende, que isto não lhe é necessário. Nossa sociedade, infelizmente, é assim".



Mudar a atitude da sociedade às pessoas com próteses de mãos e pernas, que se movem nos carrinhos. Mostrar-lhes as possibilidades, que eles próprios não conhecem às vezes. O projeto "Jogos de Heróis" tem um objetivo ambicioso. O resultado já existe. Nas redes sociais, o vídeo já distribuem, como os atletas nos carrinhos esticam-se na corda. Como pessoas jovens levantam peso, superior ao seu, estando em pé na invenção de metal-plástico, invenção da humanidade. Ver os heróis do Palácio de Esportes da capital vieram mais de cinco mil pessoas. Yuriy Dmetrenko na sala esportiva vieram apenas amigos e parentes.

Aliás, os pais de Yuriy, durante meio ano não souberam da amputação. Como também da decisão do rapaz de ir como voluntário ao exército. Conseguiu convencê-los de que visitava os amigos. Se não cometesse, certa vez, enviando uma encomenda, não saberiam que ele "visitava Donetsk". O aviso sobre a perda da perna, a mãe e o pai de Yuriy Dmetrenko, ambos professores da escola primária em Poltava e receberam dolorosamente.

Sobre o retorno para casa. "Quando eu sofri o acidente, disse ao comandante que não era necessário informar aos pais. Eu mesmo vou informá-los. E, já na primavera eu comecei a insinuar, que meu contrato acabará logo. Comecei acalmá-los, que no verão voltarei para casa. Eles estavam muito entusiasmados, e eu também, porque a mãe não se preocupava que eu podia continuar no exército.

E assim arrastou-se todo o período hospitalar. Depois eu fiquei vivendo em Kyiv. Ocupava-me com esporte para poder andar normalmente. Para que a mãe me encontrasse nas duas pernas. E isto foi no final do verão, no início de setembro, eu saí das minhas competições regulares e viajei para casa. Inicialmente, eles não perceberam que eu tinha uma prótese, porque vestia jeans. 

Durante uma meia hora eu não sabia como abordar o assunto. Quando a mãe insistia, para  eu entrar em casa e trocar de roupa, então comecei insinuar que eu tinha um pequeno problema com minha perna. E, de alguma forma expliquei que eu tinha uma prótese. Claro, isto para eles foi um choque. Foi muito difícil. Perceberam isto com muita dificuldade.

Na escola lhes ajudaram, acalmaram. Abrindo-se a seus pais, Yuriy começou a contar ativamente sua história na televisão. Nas redes sociais ele mostrava como aprendeu viver com a prótese, como pratica esportes, como viaja. E depois a moça (o texto não explica mas, deve ser a namorada - OK) sugeriu que poderia realizar o "Blog das pernas". Ele fotografa a prótese em diferentes locais. Há postagens sobre como "a perna descansava no mar", "como visitava Lviv", "como assistia a um jogo de futebol". E, recentemente a perna foi pintada com giz pelo sobrinho Yuri. A menina de dois anos viu que na prótese faltavam cores brilhantes e acrescentou rosa. Histórias de sua vida, que Yuri descreve nas redes sociais são espirituosas, irônicas e, o mais importante, inspiradoras. Nos comentários, muitas pessoas escrevem, que têm vergonha de suas características fisiológicas e, por isso se limitam em viagens, e até das saídas diárias à rua.



Sobre a vida com prótese. "Eu vejo, que muitos escondem as próteses. Antes, eu não estava familiarizado com isso e não percebia as próteses. Eu não lembro de ter visto uma prótese antes do meu ferimento. Mas, agora eu entendo o mecanismo, como isto pode ser notado até se a pessoa veste calças. Onde há um ressalto no jeans. Eu vejo, quando mesmo no verão, canícula, as pessoas usam calças. Algumas pessoas se escondem deliberadamente. Isso também é devido ao fato de que, anteriormente, não possuíamos próteses suficientemente desenvolvidas. Agora, uma boa prótese é especificamente para os participantes da guerra. A minha, na parte de cima é ukrainiana, a parte do pé é alemã. Todas para a parte do pé, na Ukraina, são estrangeiras. Esta é a parte principal da minha nova perna. 

Quando meus pais viram que eu participo de todos os projetos esportivos, foi muito confortante para eles. Esta é uma das razões que eu me exercito. Para provar a mim e para as pessoas, que não há problemas. Pelo contrário, existem novas oportunidades de desenvolvimento!".

Tradução: O. Kowaltschuk

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